Por Edwin Hounnou
O povo do Malawi elegeu, a 23 de Junho de 2020, o candidato da oposição, Lazarus Chakwera, reanimou a vida política ao nível de todo o continente africano, depois do primeiro sinal dado pelo povo da Guiné-Bissau que, a 29 de Dezembro de 2019, elegeu Umaro Sissoco Embaló para o cargo de presidente da república. As eleições destes dois países constituem uma luz no fundo do túnel. Mostraram que quando a oposição estiver em torno de um único candidato é possível pôr termo à ditadura e regimes autocráticos que depauperam os nossos países e jogam os povos para a cova da miséria. Uma eleição quando transparente vira uma verdadeira festa para o povo. No Malawi e na Guiné-Bissau, as forças de defesa e segurança cantavam e dançavam com o povo pela vitória eleitoral e nenhum militar ou policia foi preso, expulso ou admoestado por esse facto.
Quando falta a transparência, temos um festival de violência, da injustiça dos tribunais e das trapaças dos órgãos eleitorais. Assim, uma eleição se torna um pesadelo ou um festim para um grupo restrito de pessoas. Fica uma fonte de conflitos porque a vitória de uns não convence nem aos “vencedores" e muito menos aos “vencidos”. Não é por acaso que há países no continente Africano que nunca conheceram paz definitiva desde que se tornaram independentes. O nosso país é um exemplo desta desgraça que nos corrói desde 1975, por haver pessoas que se julgam predestinadas a governar os outros sem precisar de voto popular. O silêncio da oposição e a passividade do povo consolida a ideia de que sem os partidos da luta de libertação o país vira um caos.
A África vai ganhando a consciência de que a mudança é possível Pode se livrar dos déspotas, corruptos e assassinos para serem homens livres. Os povos africanos não se devem convencer de que é vontade de Deus continuarem pobres. Deus deu à África tudo o que a Europa e a América têm tais como recursos minerais, florestais, hídricos, etc. O que nos falta são dirigentes comprometidos com a causa dos seus povos e uma governação transparente do bem público.
Os governos constituídos por gatunos não contribuem para o desenvolvimento dos seus países. Os corruptos podem construir grandes infraestruturas como estradas, pontes enormes que podem ligar os seus países à lua, grandes edifícios públicos, mas, no fundo eles perseguem chorudas comissões. Não é por amor aos povos que juraram servir. Conhecemo-los isso a partir da nossa terra.
A corrupção e a ambição pelo enriquecimento sem causa dos governantes são as doenças que nos apoquentam. Não temos motivos para continuarmos a acusar os brancos pelo nosso atraso socioeconómico. A culpa cabe aos nossos dirigentes que não só imitam os colonos como até os ultrapassam da pior maneira, em vários momentos. São eles que nos empurram para guerras fratricidas sem fim à vista e chamam as multinacionais para tomarem conta dos nossos recursos.
O que está a acontecer em África e, em particular nosso país, se deve à maneira fraudulenta de como somos dirigidos. O feiticeiro vive connosco, fala a nossa língua e chora connosco quando sofremos calamidades. Em campanhas eleitorais, o feiticeiro dança com o povo. O choro dos povos vem do fundo da da alma enquanto o deles se assemelha ao das hienas para atrairem apoios em dinheiro, de preferência, para si, seus filhos e esposas.
Pode parecer uma anedota contar que, por exemplo, a contribuição da SASOL para a economia nacional é nula porque os de fora como os de dentro estão mais interessados em engordar as contas do que os cofres do Estado. Aqui reside a nossa doença que nos destrói e nos descaracteriza como povos. Não será novidade nem segredo para ninguém afirmar que o gás natural do Rovuma não vai alavancar a economia nacional, como tem vindo a acontecer com o carvão de Tete quem vendo sendo explorado desde que o país se tornou independente. Tudo está na mesma e pior ainda, vamos ganhando buracos e escombros enquanto as mais-valias daí extraídas enriquecem outra gente e de outras latitudes. Acordaremos nus, descalços e isolados numa ilha. Aí será tarde demais. O que trouxe de positivo para o país o ouro de Manica? – Nada. Só polui as águas dos rios ante o olhar passivo do governo. Porquê se calam as autoridades? – Comem do mesmo prato. Não encontramos nenhuma explicação para tanto saque dos nossos recursos.
Os nossos países estão sendo vítimas de saques sistemáticos por potências estrangeiras pelas mãos nossos governantes. Os problemas por que passam os povos de África são originados pelos seus próprios dirigentes devido à sua má gestão e não resultam como sequelas do colonialismo como pretendem nos fazem entender os titulares do poder público. O maior feiticeiro está entre nós que não pára de acena para o feiticeiro estrangeiro também entre na cena da pilhagem dos nossos recursos e com a recompensa da colaboração recebem o mata-bicho com o reconhecimento de que venceram as eleições de maneira retumbante e efusivamente felicitados como tendo cilindrado os seus adversários.
Não são nem serão os recursos naturais que libertarão os povos da miséria, opressão e da ignorância impostas pelos novos colonialistas. O caminho da paz se cruza com o do desenvolvimento. Combinando a democracia e paz chegaremos ao desenvolvimento.
A democracia e liberdade são renegadas e combatidas. Quando se distorcem os resultados eleitorais com recurso à força policial, aos órgãos eleitorais e aos tribunais constituem um grande à vontade e inteligência do povo. Um vencedor não se impõe, emerge das urnas da livre e consciente escolha do povo. Aos que se socorrem da artimanha para continuarem no poder são os artífices da instabilidade. Paz é desenvolvimento. É um binômio intrínseco São duas faces da mesma moeda. Não há paz sem desenvolvimento assim como não há desenvolvimento sem paz. Não há democracia sem liberdade assim como não há liberdade sem democracia.
A ganância pelo poder, e através deste ao enriquecimento sem causa, têm levado à verdadeira agressão à liberdade e à paz. Nunca, nosso país multipartidário, tinha havido tanta perseguição à oposição e agressão à liberdade de expressão e de imprensa como tem sido nos dias que correm. O regime instituiu, para sua manutenção, os esquadrões da morte para eliminar fisicamente a oposição e a todos que sejam de pensamento diferente. Constituiu, também, um outro esquadrão, ainda que não armada, de nome G40, que ocupa toda a imprensa do sector público para enaltecer as mentiras do governo. A paz não se constrói de tal maneira. A paz não se sobrepõe à injustiça e violência. O desenvolvimento desenvolvimento e a inclusão são a grande sombra para os povos.
A Renamo, o MDM e os demais partidos da oposição deveriam aprender que a união faz a força. Enquanto cada um for por si e Deus por todos, serão eternos perdedores. Para a Frelimo vencer as eleições não precisa de voto de ninguém. Os órgãos eleitorais – STAE e CNE – se encarregam de fazer o resto. O Conselho Constitucional, os tribunais locais e a PRM fazem o resto do trabalho.
Se a oposição estiver tornar maior a chance de afastar a Frelimo do poder. A Renamo sempre se julgou capaz de vencer as eleições sem se juntar a ninguém, facilitando as ditas vitórias “retumbantes e sufocantes". É a oposição que tem facilitado os cambalachos da Frelimo, em particular, a Renamo.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 22.07.2020