Por Francisco Nota Moisés
Nas partes 1 e 2 relatei a história durante da minha fuga do campo de refugiados de Rutamba no distrito de Lindi na província de Mtwara no sul da Tanzânia para Nairobi, Quénia, onde me estabeleci depois da minha quebra com os terroristas da Frelimo em Dar Es Salaam no ano anterior.
Aquela noite em que a morte estava muito perto de mim e dos meus companheiros de fuga, Chissano e Chipande, quando saímos a correr duma aldeia e fomos perseguidos por milicianos tanzanianos num camião e chegaram de concluir que nós os três éramos jinnis ou espíritos malignos. Depois do recuo do inimigo apavorado pela sua superstição antes de darmos encontro com o homem doutro mundo, ficamos bem salvos por saber que aqueles senhores não se preocupariam mais de nós visto que não se pode perseguir espíritos malignos.
Sabíamos que os maltrapilhos não dormiram bem aquela noite enquanto nós continuamos a andar toda a noite, chocando-nos com quatro leões e na manhã seguinte dando encontro com elefantes. Podíamos adivinhar que a primeira coisa que milicianos fizeram o dia seguinte foi ir consultar um espiritualista ou curandeiro para serem tratados da nossa maldição como jinnis.
MAS O QUE SÃO JINNIS DE QUE os nossos perseguidores pensaram que eu, Chissano e Chipande eramos?
Não digo em definitivo o que são Jinnis. A ideia foi ficcionalizada no clássico árabe, Mil e Uma Noites ou The Arabian Nights em inglês. Mas é o ALCORAO, 72:28, que diz que jinnis são espíritos que Allah criou dum fogo sem fumo, o que indica que são espíritos e imortais e que ELE criou o homem da lama, indicando assim que o ser humano é físico e frágil.
O ALCORÃO diz que alguns jinnis aceitaram as palavras sagradas divinas do ALCORÃO enquanto outros jinnis revoltaram-se contra Allah e vivem em estado de guerra contra ELE, da mesma maneira como alguns anjos ficaram fiéis a Deus e outros se revoltaram contra Ele.
Mas na Africa oriental, jinnis são considerados como espíritos malignos na sua essência da mesma maneira como os tokoloshes que metem medo a muita gente na Africa austral, principalmente na Africa do sul. Todavia, parece haver alguma diferença entre os jinnis da Africa oriental e os tokoloshes da Africa austral que parecem ser unicamente espíritos malignos.
Embora jinnis podem ser utilizados na feitiçaria, eles podem também ser usados por indivíduos com o poder de controla-los, principalmente por curandeiros, para bons fins até de ajudar a combater e curar pessoas feitiçadas ou com outros problemas que os incomodam.
Mas na zona litoral da Africa oriental incluindo onde o Islão vigora em Cabo Delgado, Nampula e Sofala, há jinnis que vivem independentemente sem ser controlados por ninguém e são tais jinnis que pregam partidas contra pessoas.
Nairobi no interior do Quénia, a 441 kms de Mombasa, no litoral, as duas regiões são tão diferentes como uma planície e uma montanha. Mombasa, a denominada a Londres de Africa e muito britânico enquanto Mombasa tem muitas, britânicas, portuguesas, árabes e indianas. Pessoas que vivem em Nairobi podem se preocupar de feitiçarias mas não falam de jinnis como as pessoas de Mombasa.
Para quem sai de Nairobi para Mombasa, o conselho dos conhecedores será: "cuida-te em Mombasa. Evite as raparigas que são maravilhosamente formosas. Elas podem ser não raparigas humanas. Não provoque gatos para evitar problemas."
E é melhor prestar atenção como aquilo que aconteceu a um exilado moçambicano demonstrará neste artigo.
Na crença dos povos litorais, jinnis são invisíveis, mas podem se manifestar como gatos, a forma mais preferível deles, como cães, como raparigas muito bonitas e irresistíveis e como homens com defeitos físicos.
Um dia nos anos de 1970 um exilado moçambicano deu encontro com uma dessas raparigas muito bonita e lisonjeadora num bar em Mombasa. Irresistível que era, ele então convida a rapariga a sua casa para passarem a noite juntos. A rapariga, e tais raparigas nunca aceitam ir as casas de homens a quem querem pregar partidas, recusou e ela convidou-o a ir com ela a casa dela.
O exilado lembrou-se mais tarde de ter entrado numa casa muito escura e não se lembrou mais o que aconteceu depois daquilo. Quando se acordou na manha seguinte, estava em cima dum túmulo num cemitério de Mombasa. Estremeceu, mas sabia o que fazer. Correu logo a um cheik, um padre muçulmano, que citou passagens do Alcorão para eliminar a maldição do encontro com a jinni visto que encontros com jinnis são amaldiçoes.
E quem era aquele velhote alto, curvado e magro com quem nos chocamos durante a nossa fuga depois dos nossos perseguidores recuarem com grande precipitação e medo de que eramos jinnis. Não sei dizer. Mas um amigo meu, um grande curandeiro com jinnis em seu serviço, disse me mais tarde em Nairobi que era o espirito dum dos antepassados dum de nós, talvez meu ou do Chissano ou do Chipande, que se manifestou num abrir e fechar de olhos para nos proteger. Foi pena que não lhe pedi para perguntar aos seu jinnis que falam com sons e ruídos incompreensíveis numa linguagem que só ele o curandeiro podia perceber e interpretar.
Na terra dos senas existem tais curandeiros com tais espíritos conhecidos como Anhacazuru ou (Anyakazu) em transliteração