O líder dos dissidentes da Renamo acusados de protagonizar ataques no centro de Moçambique negou hoje que o antigo deputado do partido Sandura Ambrósio seja o financiador do seu grupo, associando a sua detenção a motivações políticas.
"Estão a enganar o povo moçambicano, nós não somos financiados pelo Sandura", disse Mariano Nhongo, falando para jornalistas na cidade da Beira, em contacto telefónico a partir de um ponto incerto do centro de Moçambique.
Em causa está o julgamento em Sofala de um grupo de seis pessoas, incluindo Sandura Ambrósio, acusados pelo Ministério Público moçambicano do crime de conspiração.
O MP moçambicano considera que o antigo deputado da Renamo terá apoiado financeiramente a autoproclamada Junta Militar, responsável, segundo as autoridades, pelos ataques armados que já mataram pelo menos 24 pessoas no centro do país.
Mariano Nhongo associa a detenção do ex-deputado a motivações políticas.
"Sandura foi detido porque liderou manifestações na Beira contra a vontade de Ossufo Momade [atual presidente da Renamo]", disse Nhongo, em alusão a um episódio, em fevereiro de 2019, em que membros do partido na Beira manifestaram-se contra alegadas violações do estatuto do partido, quando o presidente da Renamo decidiu que os delegados passariam a ser indicados por ele e não mais eleitos.
"Sandura nunca financiou a Junta Militar. Desde que eles prenderam Sandura, a Junta Militar parou", questionou Mariano Nhongo.
"Nós somos guerrilheiros e guerrilheiros não morrem à fome. Nenhum deputado está a apoiar-nos", frisou.
O julgamento dos seis arguidos acusados de conspiração por alegadamente estarem associados à autoproclamada Junta Militar da Renamo começou em 10 de julho.
O crime de conspiração é punido com penas de prisão entre oito e dez anos.
Sandura Ambrósio foi deputado da Renamo no mandato que terminou em janeiro, mas já havia anunciado a saída do partido em 2019 para se filiar ao Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira maior formação política com representação parlamentar.
O ex-deputado concorreu a mais um mandato nas eleições legislativas de 15 de outubro do ano passado pelo MDM no círculo eleitoral de Sofala, mas não conseguiu a reeleição.
A autoproclamada Junta Militar contesta a liderança da Renamo e o acordo de paz assinado em agosto do último ano, sendo acusada de protagonizar ataques visando forças de segurança e civis em aldeias e nalguns troços de estrada da região centro do país.
LUSA – 22.07.2020