ATAQUES EM CABO DELGADO
O investigador do Instituto de Estudos de Segurança (ISS, na sigla em inglês) Martin Ewi disse ontem que os países da África austral têm uma oportunidade para testar a eficácia das suas leis anti-terrorismo em Cabo Delgado.
“É uma oportunidade para os países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral [SADC, na sigla em inglês] testarem a eficácia das suas estratégias regionais contra o terrorismo”, referiu Martin Ewi numa conferência na internet promovida pelo ISS sobre a resposta regional aos ataques no norte de Moçambique.
Ewi frisou que Moçambique, como membro de pleno direito da SADC e que paga quotas para a sua manutenção no grupo, deve merecer a ajuda imediata dos outros países da região.
Ainda que exista um princípio de “não-ingerência” nos assuntos dos outros Estados, o investigador afirmou que há outro, “o princípio de segurança colectiva”, segundo o qual “um ataque a um Estado-membro é um ataque ao grupo”. “A questão é que nada foi feito pela SADC e passados três anos não se evocou esse artigo”, criticou.
Segundo Martin Ewi, apesar de Moçambique se focar na ajuda militar externa, o país deve ser assistido a todos os níveis, “até assessoria ou treinos militares”. Martin Ewi defendeu ainda que Moçambique deve aprender com o Mali e a região do Sahel, que deixaram os grupos extremistas desenvolverem-se.
Um pedido de ajuda para fora do continente não é uma opção para Moçambique no actual momento em que todos estão concentrados na pandemia da COVID-19, acrescentou. A SADC “deve começar por algum sítio: investigar, intervenção militar, todas as alternativas servem”, concluiu.
Por seu turno, David Matsinhe, pesquisador da Amnistia Internacional, disse que o país “deve ser mais honesto sobre a situação e aberto à imprensa” “Não há verdade sobre o que está a acontecer, não há informação, não é permitida a imprensa”, disse, adiantando que esta é a fórmula perfeita para a insurgência durar mais tempo.
Nas suas pesquisas, David Matsinhe ficou a saber que há pessoas que “abandonam as forças do Governo”, o que mostra que há algo de errado nas informações sobre Cabo Delgado. Para Matsinhe, a resposta regional deve ser a prioridade, especialmente para a África do Sul, pois os ataques estão em Cabo Delgado, mas em pouco tempo podem entrar numa das maiores economias do continente.
Em 19 de Maio, a ‘troika’ do órgão de Política, Defesa e Segurança da SADC esteve reunida em Harare, capital do Zimbabwe, e comprometeu-se a apoiar o Governo de Moçambique na luta contra os grupos armados em Cabo Delgado, sem, no entanto, avançar mais detalhes.
A província está sob ataque desde Outubro de 2017 por insurgentes, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como ameaça terrorista.
Em dois anos e meio de conflito em Cabo Delgado, onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, estima-se que já tenham morrido, pelo menos, 700 pessoas e que 250 mil já tenham sido afectadas.
DN – 17.07.2020
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