A população de Cassoca, centro do país, bloqueou o acesso e paralisou por quatro dias uma mina de carvão alegando ter perdido terras agrícolas, relataram ontem à Lusa moradores.
Em causa está a atividade da empresa mineira Jindal, em Marara, província de Tete, que confirmou à Lusa a paralisação.
A comunidade de Cassoca bloqueou o acesso à mina com paus e troncos na segunda-feira para pressionar a empresa indiana a pagar uma compensação, depois de rejeitadas terras cedidas pelo Governo, consideras inférteis, em troca por aquelas em que antes produziam.
“A disputa vem desde o ano passado", justificou Fideli Saize, um membro da comissão de moradores de Cassoca.
"Após o reassentamento [devido ao funcionamento da mina], era esperado que recebêssemos terra arável para a nossa sobrevivência", disse, adiantando que a transferência não incluiu terra para a agricultura.
Parte das 283 famílias em causa cultivaram na última época agrícola as 'machambas' (hortas) no interior da área concessionada à Jindal, mas o avanço nas operações na mina a céu aberto não permitirá que o grupo ali continue na próxima campanha agrícola, que geralmente arranca entre setembro e outubro.
Outros reassentados tinham procurado terras agrícolas em zonas distantes e tinham apoio para transporte, mas a mineradora vai cortar essa ajuda.
Depois de começarem o protesto na segunda-feira, os moradores puseram fim ao bloqueio ao fim de quatro dias e após uma “renhida” negociação, referiu Fideli Saize.
Ficou em cima da mesa uma proposta para que cada família receba 100.000 meticais (1.250 euros) "para compensação pela perda de campos agrícolas” acrescentou, aguardando-se que o Governo e a Jindal concluam a discussão sobre a mesma.
Em declarações à Lusa, Adelino Aisec, um funcionário sénior da Jindal Moçambique, confirmou a paralisação por quatro dias e disse que a mina voltou a funcionar esta sexta-feira.
Segundo referiu, os residentes estão dispostos a trocar "as suas 'machambas' por dinheiro"
"Estamos à espera dos resultados do consenso com o Governo para a nova compensação”, adiantou.
O processo de transferência de 283 famílias da comunidade de Cassoca para novos terrenos arrancou em maio de 2010.
Um acórdão do Tribunal Administrativo de Tete divulgado em junho deu provimento a um pedido da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) e condenou a mineradora Jindal Moçambique a reassentar, em seis meses, as 70 novas famílias da comunidade de Cassoca, que surgiram durante o processo de implementação do projeto em Marara, Tete.
LUSA – 11.07.2020