O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, considerou hoje "notícias falsas" alegadas informações de que a província de Cabo Delgado, norte do país, está vedada a jornalistas, mas avisou que se trata de uma "zona de guerra e imprevisível".
Militares num dos postos de controlo criados na província de Cabo Delgado, na sequência de ataques a povoações isoladas da região, província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, 16 de junho de 2018. A parte central de Naunde é hoje um tapete de uma ponta à outra da aldeia, de pedras e barro cinzento, estilhaçado, misturado com cinzas de colmo e estacas de madeira, chão que ainda cheira a queimado. (ACOMPANHA TEXTO DE 23 DE JUNHO DE 2018). ANTÓNIO SILVA/LUSA Lusa
“Contrariamente a notícias falsas de pessoas que estão deslocadas do palco dos acontecimentos, a província de Cabo Delgado não está fechada aos jornalistas”, declarou Filipe Nyusi.
O Presidente referiu-se à situação em Cabo Delgado, palco de ações de grupos armados, quando falava durante o lançamento da Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), entidade estatal criada para a promoção do desenvolvimento da região.
O chefe de Estado moçambicano alertou, contudo, que a movimentação na província de Cabo Delgado está sujeita aos condicionalismos típicos de uma zona de guerra.
“É zona de guerra e é imprevisível”, asseverou Filipe Nyusi.
Várias organizações nacionais e internacionais acusam as Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas e os grupos armados que atuam na região de tornar impossível o trabalho dos jornalistas e de investigadores independentes no contexto da violência armada em curso na província de Cabo Delgado há cerca de três anos.
Ibrahimo Abu Mbaruco, jornalista de uma rádio comunitária do distrito de Palma, na província de Cabo Delgado, está desaparecido há quatro meses e não se conhecem desenvolvimentos em relação a uma investigação ao caso anunciada pela Procuradoria Geral da República (PGR).
No início de 2019, os jornalistas Amade Camal e Germano Adriano foram mantidos em cativeiro num quartel militar, tendo sido libertados após pressões internas e internacionais.
Ambos são alvo de processos-crime, cujo desfecho ainda não aconteceu.
Ainda no ano passado, os jornalistas Anastácio Valoi e o ativista moçambicano da Amnistia Internacional (AI) David Matsinhe foram detidos em Cabo Delgado.
No início deste ano, o jornalista do canal privado STV, Izidine Achá, foi momentaneamente detido a exercer a atividade na cidade de Pemba, capital de Cabo Delgado.
Em 2019, prossegue o CDD, um outro jornalista, Amade Abubacar, esteve privado de liberdade durante três meses, num quartel militar de Mueda, em Cabo Delgado.
A província de Cabo Delgado é alvo de ataques por grupos armados desde outubro de 2017, que já causaram a morte de, pelo menos, 1.059 pessoas em quase três anos, além da destruição de várias infraestruturas.
De acordo com as Nações Unidas, a violência armada levou à fuga de 250.000 pessoas de distritos afetados pela insegurança, mais a norte da província.
As Nações Unidas e várias entidades internacionais já classificaram os ataques como uma ameaça ‘jihadista’ e algumas das ações foram reivindicadas pelo Estado Islâmico.
LUSA – 31.08.2020
NOTA: ““É zona de guerra e é imprevisível”, asseverou Filipe Nyusi.” Mas onde é que está escrito oficialmente que Cabo Delgado é uma “zona de guerra”? Porque espera o Governo para a declarar?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE