Por Egídio Vaz
É pela primeira vez que um Bispo faz um comunicado e espalha-o para a imprensa, a partilhar conteúdo privado entre ele e seu chefe máximo. Precisaríamos saber se o Santo Padre gostou desta brincadeira de mau gosto.
Em Abril deste ano, o Santo Padre dirigiu-se à Cidade e ao Mundo (Urbi et Orbi) e solidarizou-se com os povos do Mundo que sofrem por causa de guerras. Nessa comunicação, Papa Francisco mencionou, entre outros países, Moçambique. Mesmo antes, em Setembro de 2019, quando esteve em Moçambique, o Santo Padre rezou pelo fim dos conflictos, inclusive pelos ataques terroristas que Moçambique vem sofrendo desde 2017. Portanto, não é novidade nenhuma de que o Santo Padre sabe e reza por Moçambique. Uma coisa deve estar clara. O Papa Francisco não ouviu do D. Luiz Fernando Lisboa, Bispo de Pemba de que Moçambique estava sendo alvo de ataques terroristas. O Papa tem em Moçambique, uma Nunciatura Apostólica e um Conselho Episcopal que o atualiza. Mais do que isso, o homólogo do Papa em Moçambique é o Presidente Filipe Nyusi, com quem mantém e troca correspondência diversa, para além de obviamente serem amigos.
O Papa Francisco faz vários telefonemas à vários líderes mundiais sem contar com os seus subordinados pelo Mundo. Se fosse prática comum, a internet estaria cheia de mensagens similares às do Senhor Luiz Lisboa. Mas não existem; nem mensagens do Afeganistão; nem do Darfur muito menos de Karachi, só para mencionar lugares infernais e martirizadas pelo terrorismo.
Ora, o que faz correr D. Luiz?
É sem dúvidas a “coça que levou” e está desnorteado. Ele apercebeu-se de que está à leste da sua missão e que por muito tempo se dedica à política, internacionalizando uma versão distorcida da agressão que Moçambique sofre pelos terroristas. Não se trata de dizer que “muitos estão a sofrer” ou que “há violação dos direitos humanos”. Estas denúncias são pertinentes e têm merecido devido seguimento. Ele está profundamente envolvido em atividades políticas oposicionistas ao governo vigente. Darei dois a três exemplos:
Segundo o jornal o Público, na sua edição de edição 476 de 11 de Novembro de 2019 e citando uma carta-denúncia, “em 2016, durante a procissão por ocasião da celebração de corpo de Cristo, ao longo da marcha em procissão”, o Bispo de Pemba “exaltou palavras de caris político, gritando: “abaixo o Governo dos corruptos”. Na missa que se seguiu à procissão, na Paróquia Maria Auxiliadora em Pemba, e durante a homilia, disse alto em bom tom que “o país está a ser governado por ladrões e corruptos” e que o povo devia abrir os olhos para mudar a situação”, numa clara atitude de semear ódio e rancor contra os legítimos governantes do país”. Na mesma homilia sublinhou que, fosse a vontade dele, não daria de comungar os crentes governantes, pois são pecadores (Publico, 11 de Novembro de 2019, pág. 3). Haverá diferença entre os pronunciamentos do Bispo com os António Muchanga? Nenhuma. Mesmo que fosse verdade, o Bispo devia ser mais conciliador, mais educador, mais influenciador para a mudança e não vingativo, punitivo ou catártico.
Em 2019, Julho, o Senhor Luiz fez uma carta aberta “em nome das vítimas dos ataques terroristas, acusando o Governo, “pelo silêncio e incapacidade de controlar a situação”. Também acusou as organizações da sociedade civil e humanitárias de “indiferença das intuições de ajuda humanitária e da população, que supostamente viraram as costas ao caso, e continuam a dar uma atenção especial apenas as vítimas do ciclone Kenneth que fez cerca de 40 óbitos e deixou rastros de destruição” (O País, 20 de Julho, 2019).
Alguém com coração humano pode categoricamente acusar um governo de incapacidade de controlar a situação? Qual é o governo que conseguiu até agora derrotar com a mesma facilidade terroristas? EUA? Reino Unido? Paquistão ou Nigéria? Alguém com coração humano pode categoricamente acusar as organizações humanitárias de ignorar Cabo Delgado? Que organização? INGC? PMA? Cruz vermelha? Que organização está a ignorar Cabo Delgado e que organizações estão a priorizar Idai/Kenneth? Porque o Senhor Luiz não é razoável nos seus pronunciamentos?
Poderia ir com um vasto leque de evidências dos pronunciamentos irresponsáveis e alarmistas deste Padre, mas está tudo documentado e organizado para quem quiser, consultar, para além das cartas que faz circular pelas igrejas, incitando que o povo se revolte contra o seu próprio governo e estado.
Da sua atividade pastoral, pouco se sabe. Que critérios de avaliação estarão em causa ao avaliar o Bispado do D. Luiz? Ativismo político ou crescimento da Igreja Católica em Cabo Delgado?
No comunicado que o D. Luiz redigiu e mandou disseminar, consta que o Santo Padre lhe perguntou se havia mais algo que poderia fazer por ele. Ele próprio disse, “NADA”. Não disse que estava a ser perseguido, à semelhança do que os Leões velhos como Elvino e Herminio e corja de ONGs oportunistas tentaram insinuar. Se for verdade o que disse, ele não mencionou o discurso do Presidente feito em Pemba há dias. Porque ele não queixou ao seu chefe? Porquê?
Porque é que na melhor oportunidade o D. Luiz não se queixou da perseguição e do cerceamento das “liberdades de cidadania”? pelo menos ele é esperto. Porque se tivesse dito, a melhor solução que o Santo Padre teria tomado era transferi-lo de Moçambique. Seria a maior evidência que daria ao Santo Padre de que ele está profundamente envolvido na política. E porque ele quer continuar a fazer política, omitiu. E o comunicado que fez ontem não passa de mais um expediente de relações públicas políticas para expandir simpatias políticas de entre o povo moçambicano e a opinião pública internacional.
Que fique claro de que o homólogo do Presidente Nyusi é o Papa. D. Luiz é como um pequeno Diretor Provincial; controla e dirige uma unidade territorial apenas. Neste país existe uma nunciatura que rege as relações entre o Vaticano e o Estado Moçambicano. Portanto, não existe nenhuma possibilidade em ele fazer um braço-de-ferro com o Estado Moçambicano muito menos desafiá-lo, maltratá-lo ou caluniá-lo.
Ele sairá a perder, se continuar a dar ouvidos aos oportunistas que fazem do maldizer e escárnio as instituições do estado, fonte da sua renda e reprodução.
Nenhum estado do mundo estaria contra o seu próprio povo. E nenhum Presidente ignoraria a agressão de um território. É extremamente ofensivo pronunciar-se nesses termos, principalmente quando se espera de um Padre, palavras de consolo e educação.
Por estes motivos dei o ao meu texto o título que dei. O Bispo só fez aquele resumo para impressionar a opinião pública e para dela obter solidariedade. Este procedimento é falacioso. Chama-se apelo à emoção. Não fica bem à um Bispo. Costuma dizer-se que se não quer ajudar, não atrapalha. As falas do Bispo só atrapalham a percepção pública sobre o trabalho do Estado e das FDS em Cabo Delgado. Em honra ao sangue que se jorra lá, seria melhor que o Bispo reconsiderasse o seu intervencionismo público distorcedor.
PS: Exerci também o meu direito à opinião. Exerça a sua, dentro dos limites constitucionais.