Por ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
O continente africano é o continente com maior número de conflitos na actualidade, e existem três [3] motivos para que isso aconteça. O primeiro é histórico e político. Se nós formos a voltar na história em 18[84/5] houve a Conferência do Berlim onde as potências europeias dividiram o território africano de acordo com as suas próprias vontades, pois os europeus, não levaram em conta quem vivia no território, mas sim àquilo que os Impérios europeus queriam, e cada país imperialista europeu tomou a sua parte; a Inglaterra tomou uma parte, a França tomou uma parte, Portugal tomou uma parte, a Itália pegou uma parte, Alemanha, Bélgica, a Holanda.
Na verdade, os europeus colocaram no mesmo espaço grupos éticos rivais há milhares de anos e de um momento para outro esses grupos rivais, que se confrontavam no passado agora estavam dentro de um mesmo espaço [território]. Ou seja, eles foram obrigados a conviver ali dentro e quando veio a independência a partir da segunda guerra mundial nos anos [45/60/70] quando se deu a descolonização da África, esses países, esses grupos rivais ficaram dentro dum mesmo país e como eram grupos rivais históricos de antes a rivalidade continua até aos dias actuais. Destarte, muitas guerras civis no continente africano têm essa questão étnica do passado colonial, que foi juntar no mesmo país esses grupos rivais. Esse é um dos motivos.
O outro motivo é a expansão do islamismo. Repare! Hoje ou na actualidade o islão é a religião que mais se expande, que mais cresce no mundo e na África. E historicamente o Norte da África é islâmico e o Sul é cristão. Ou seja, abaixo do deserto do Saara é maioritariamente cristã e o que é que vem acontecendo nos últimos anos? Os grupos islâmicos estão descendo do Norte em direcção ao Sul e com isso estão acontecendo grandes conflitos no interior do Continente e nos países, sobretudo conflitos religiosos, que são gravíssimos [explodindo] em guerras civis. Então, a meu ver, esses são os principais motivos dos conflitos na actualidade no Continente africano.
Além disso, não menos importante há o terceiro motivo, que é a riqueza do subsolo africano. O nosso Continente tem muita riqueza mineral no seu subsolo e isso,
infelizmente gera conflitos internos gravíssimos dentro dos nossos países, porque um grupo e outro querem dominar as minas [jazigos] e aí está armado o conflito, uma recomendação sobre isso tem um filme, que se chama «Diamante de Sangue» e mostra como as coisas funcionam nos nossos países. Então, esses são os motivos.
A seguir vou mostrar alguns conflitos da actualidade que chamam atenção no Continente.
O primeiro é o da Nigéria. A Nigéria é sem dúvidas o exemplo [vivo] do conflito entre os islâmicos e os cristãos. Repare! A Nigéria é dividida ao meio. O Norte é islâmico e Sul é cristão existe lá um grupo no interior da Nigéria chamado «boko haram», que é um grupo terrorista perigosíssimo. O «boko haram» quer implantar as leis islâmicas em toda Nigéria e o Sul cristão não concorda com isso e ai então o «boko haram», o grupo terrorista usa atentados contra o Sul para poder atingir seus objectivos e com isso vem gerando graves problemas sociais dentro da Nigéria.
Um outro exemplo de conflito, que envolve a religião e a riqueza mineral é o Sudão. Veja! O Sudão já foi um país único até 20[11]. Ou seja, o Sudão era como a Nigéria, o Norte era islâmico e o Sul era cristão. As riquezas minerais estavam na região Sul do país, no Sul do Sudão e o Governo de maioria islâmica estava concentrada no Norte. Então, o Sul cristão não aceitava que os islâmicos governassem neles e os islâmicos se apossavam das riquezas do Sul e gastavam no Norte e o Sul dizia que se sentia desprestigiado com isso. O que é que aconteceu? O Sul entrou em impacto com o Governo do Norte, ou seja, entraram em um gravíssimo conflito até que em 20[11] houve a separação do país. Destarte, surgiu um novo país no mundo. Surgiram o Sudão do Norte e o Sudão do Sul. O Sudão do Norte ficou com os islâmicos e o Sudão do Sul ficou com os cristãos.
Contudo, até actualidade continua sendo o conflito, que mais gera problemas no Continente africano. Há um grave problema que mesmo a separação dos países está longe de ser resolvido. Repare é, um outro conflito de cunho religioso e cunha, também das riquezas no subsolo [minerais].
Tem um outro conflito muito gravíssimo vem chamando atenção já de anos é na Somália. A Somália é um país que não tem Governo próprio, o país é governado por clãs, ou seja, cada região tem um Governo próprio. O país está totalmente esfacelado
existe lá um grupo, que se autodenomina «Al-Shabaab» e «Al-Shabaab» é um grupo terrorista perigosíssimo, que quer implantar no país, também a lei islâmica e existe esse conflito interno que destruiu literalmente a Somália e ninguém sabe o fim desse conflito está ainda em curso ainda.
A Etiópia é um outro país, que já passou por gravíssimos problemas no passado, vinha se recuperando, mas os últimos anos, também principalmente agora no iniciou de 20[20] está com problemas seríssimos com conflitos internos dentro do país. Qual é o conflito? Cristãos versus islâmicos. Portanto, os dois estão lutando com isso, a economia do país está-se deteriorando nos últimos tempos.
Temos a Líbia. A Líbia até 20[11] foi governada por Coronel Muammar Kaddafi, ele liderava o país com a mão de ferro, um grande ditador semelhante ao ditador da Síria. Repare! A guerra civil da Síria, começou um pouco depois que começou a guerra na Líbia. Quer dizer, elas têm a mesma duração nove [9] anos. O Kaddafi foi retirado do poder e depois foi morto alguns meses após o iniciou da guerra, mas a guerra não acabou ela dura até aos dias actuais.
E, o que é que aconteceu na Líbia? Um esfacelamento total da economia do país. Hoje na Líbia existem dois [2] grupos disputando o Governo e, como acontece na Síria, também vem acontecendo na Líbia. Ou seja, existe um conflito interno apoiado por Empresas Multinacionais, também países estrangeiro, porque a Líbia é a sétima maior reserva de petróleo e gás natural do mundo todo, então têm muitos interesses lá dentro em jogo e é uma guerra que parece não ter fim. Consequência, [20%] da população já está precisando da ajuda humanitária. Lembrando, que antes da guerra a Líbia era o país com o melhor desenvolvimento económico da África, e só para vocês terem uma ideia hoje, aquele país está a beira do caos; sem o Governo central e a população vivendo nas infras-condições humanas.
E tem outro país em conflito, que chama muita atenção no Continente, que é a República Democrática do Congo [RDC] o antigo Zaíre. A RDC ou o Congo-Zaíre têm oitenta e quadro [84] milhões de habitantes e tem uma gigantesca riqueza mineral no seu sobsolo, mas está passando por piores e gravíssimos problemas, depois da segunda guerra mundial, pior que a guerra da Síria. Porquê! Porque já são quase vinte e oito [28] anos de guerra civil, mais de seis [6] milhões de pessoas já foram mortas do
conflito no país desde 19[93] e oitenta [80%] da população vive em infras-condições humana. Ou seja, é aterradora a situação no Congo-Zaíre.
Então, para mim, esses são os principais conflitos, que temos no continente africano e eu citei aqui os motivos que eles acontecem e alguns países que vem sofrendo problemas internos sérios. Existem é claro outros países com outros problemas graves, mas os que acima atirei são os que chamam a atenção maior.
E…, eu recitei por último sobre o Congo-Zaíre e se vocês me dão licença até, porque não está directamente lidado ao título que acima atirei, mas só para nós entendermos o que acontece no interior do nosso Continente, tem o livro «Humano do Mundo» duma psicóloga Débora Noal, que presta serviços humanitários por esse mundo fora. Ela escreveu esse belíssimo livro, ela esteve no Congo-Zaíre em 20[09] e eu vou ler aqui um pedaço do seu livro para vocês entenderem o quão aterrador são os conflitos internos no Continente africano. O relato que a Débora descreve da guerra no Congo-Zaíre acontece, também nos outros conflitos, que eu acima atirei e em outro que eu não atirei.
Vou ler o livro, sobre o que ela disse:
«não consigo dormir, passei o dia todo escutando indigeríveis histórias e torturas e crueldades esta manhã muito cedo. Uma senhorinha de aparentemente setenta anos, porte pequeno, vestida de trapos com seu cabelo raspado e olhar de agonia esperava-me com os pés descalços em um galho de árvore como gajado em portão da nossa casa. Ainda de dentro do convento, deparei-me com aquela cena, mas até na hora do café da manhã mesmo, que não falássemos a mesma língua, escutei pacientemente a expressão de poucas palavras e suas muitas linguagens. Era Helen, acabava de chegar por incontáveis dias de caminhadas solitárias na floresta congolesa em uma fuga descabida. Helen, que até agora não permite afirmar do que ou de quem fugira, exarava um forte cheiro de pavor com seu corpo em frangalho; ergueu algumas partes do trapo, que cobria o corpo, expondo apenas as feridas, que qualquer um poderia enxergar. Seus pês envelhecidos estavam descalços padeciam com sequelas purulentas. Helen sangrava por dentro e por fora com sua narrativa enquanto me mostrava as feridas, deixava evidente interrogada pela idade, pela fome dando sinais que não comia havia muitos dias. Helen pedia para vestir; surpreendentemente ela queria viver. Contou-me que era viúva, que tinha filhos, que todos eles haviam desaparecido apontando para Deus ou para qualquer um lugar onde ela acreditava, que eles deveriam estar assistindo a sua saga. Dizia, que havia sido a vontade dele, contou que as meninas e os meninos foram sequestrados e que ela não tinha ideia de onde poderiam estar. Ouvida das muitas vozes da floresta, que todos eles tinham sido mortos, Helen provavelmente sabia o destino de cada um dos seus filhos, mas como não existiam corpos era dúvida a sua melhor posteridade.
Outro dia, que parece não ter fim; no iniciou da tarde, enquanto atendia outros deslocados internos, que chegavam recidivada uma menina de oito anos de idade e uma estatura próxima das meninas de cinco a pequena de aparência frágil e olhos ansiosos foi violentada sexualmente ontem, a mãe viera com ela, caso raro por aqui e contar as cenas de pavor.
Na fala da mãe, uma expressão de culpa por ter deixado a menina sozinha, enquanto trabalhava no campo. A mãe, assim como eu sabe, que estar junto a filha no campo não seria tão pouco garantia de que, estaria salvo visto, que a maior parte das mulheres por aqui é violentada enquanto trabalha ou retorna das plantações. Muitas mulheres relatam ainda, que os violentadores as estupram no caminho da roça, à residência, enquanto mantém os bebés amarrados ao colo da mãe violentada».
Eu peço desculpa ter-me alongado bastante nessa leitura desse fragmento do livro. Mas…, é só para mostrar uma pessoa, que esteve lá no Congo-Zaíre, o quão gravíssimo é o problema dos conflitos no nosso Continente e, quem mais sofre é a população e pior ainda as mulheres. Esse é o maior problema de todos os conflitos no Continente africano, milhões de mulheres e crianças [meninas] são estupradas e mortas.
Manuel Bernardo Gondola
Em Nampula, aos [24] de Agosto 20[20]