Introdução1
A 15 de Outubro de 2019, realizaram-se as sextas eleições gerais depois da introdução do multipartidarismo em Moçambique em 1990. Estas eleições decorreram num contexto em que, desde 5 de Outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, no extremo norte de Moçambique, vinha sendo alvo de ataques contra civis e instituições do Estado por parte de um grupo localmente chamado “Al Shabaab”, cujas motivações, objectivos e líderes o governo moçambicano afirma desconhecer2. Neste artigo, argumento que se trata de um grupo que defende um islão radical e não reconhece o Estado secular existente, o que lhe põe em rota de colisão com os muçulmanos locais e autoridades civis. Os ataques do “Al Shabaab”, também designados pelo governo por “insurgentes”, “malfeitores” ou “bandidos”, entre outros nomes que lembram a maneira como era designada a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) durante a guerra civil (1976-1992), têm estado a ceifar vidas humanas e a paralisar a economia local, e influenciaram o último processo eleitoral, essencialmente de duas formas: (i) impedindo uma parte de eleitores de se recensear ou de votar; e (ii) dominando o discurso dos partidos políticos durante a campanha eleitoral,
particularmente os da oposição, que acusavam a Frelimo de ter criado condições para a emergência dos “insurgentes”. Ao mesmo tempo, a presença de enormes reservas de gás, rubis e grafite em Cabo Delgado dominou os discursos dos partidos políticos, que directa ou indirectamente iriam associá-la ao conflito, acusando a Frelimo de excluir as populações locais e assim torna-las vulneráveis aos apelos dos islamistas.
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