Desde finais de 2017, a província de Cabo Delgado, no extremo Norte de Moçambique transformou-se num palco de violentos conflitos armados. Se nos primeiros meses o
conflito esteve confinado às zonas da costa – maioritariamente islâmicas e caracterizadas por um longo historial de exclusão – nos anos seguintes assistiu-se a uma maior capacidade de penetração para o interior e para Sul. A partir de 2020, com o ataque e ocupação de quatro sedes distritais e perante a ameaça à capital provincial Pemba, o conflito passou a merecer maior atenção por parte da media internacional.
Na tentativa de explicação do conflito emergiram diversas hipóteses. Focando os aspectos internos do conflito, foram considerados fenómenos de pobreza e de frustração de expectativas sociais relacionadas com a exploração de recursos naturais, sobretudo entre a juventude local, consolidando-se uma economia extractivista, sem relação com o tecido económico local e pouco geradora de emprego. Por outro lado destacaram-se os históricos conflitos etnolinguísticos na região, sobretudo entre os povos da costa e do interior. Outras abordagens enfatizaram as dimensões internacionais do conflito, nomeadamente o relacionamento com células terroristas da África Oriental; ou com a confluência de diversos interesses económicos no Canal de Moçambique, relacionados não só com o controlo de um corredor energético, mas também de rotas ilegais de droga, madeiras e marfim.