Os EUA pediram ao Zimbabué para ajudar a combater os ataques armados no norte de Moçambique, em Cabo Delgado, onde os norte-americanos têm fortes investimentos em gás natural, segundo fontes não identificadas citadas pela agência financeira Bloomberg.
O pedido foi feito pelo secretário adjunto dos EUA para Assuntos Africanos, Tibor Nagy, ao ministro das Relações Exteriores do Zimbabué, Sibusiso Moyo, na última semana.
Durante a conversa, Moyo pediu que os Estados Unidos retirem primeiro sanções impostas contra autoridades zimbabueanas.
Moyo desempenhou um papel fundamental enquanto general no golpe em que o Presidente zimbabueano Robert Mugabe foi deposto em 2017, pelo que não pode surgir a cooperar com os EUA a menos que as sanções sejam canceladas, disseram as mesmas fontes.
Apesar de o Zimbábue passar por um colapso económico, o país mantém um exército na República Democrática do Congo, bem como no apoio a operações dos EUA em Angola e na Somália, além de ter um histórico de envolvimento em Moçambique ao lado da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder), nota a Bloomberg.
Por outro lado, as relações entre as duas nações vizinhas confluem no porto moçambicano da Beira, um ponto chave para o comércio externo do Zimbabué, uma importante porta de entrada das importações do país.
O ministro das Relações Exteriores do Zimbábue disse a Nagy que o Presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, partilha das preocupações dos EUA em relação a Cabo Delgado e a outros dossiês, mas as sanções são um obstáculo, acrescentaram.
Um porta-voz do departamento de Estado norte-americano negou à Bloomberg que os dirigentes tenham discutido "o alívio de sanções em resposta à assistência contra o terrorismo”.
A província costeira mais a norte de Moçambique, que faz fronteira com a Tanzânia, enfrenta uma crise humanitária com mais de mil mortos e 250.000 deslocados internos após três anos de conflito armado entre as forças moçambicanas e rebeldes, cujos ataques já foram reivindicados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, mas cuja origem continua por esclarecer.
A região deverá acolher nos próximos anos investimentos da ordem dos 50 mil milhões de dólares em gás natural, liderados pelas petrolíferas norte-americana Exxon Mobil e francesa Total (que já tem obras no terreno), com apoio de bancos e agências de apoio ao comércio externo de vários países, entre os quais os EUA.
LUSA – 30.09.2020