“A assinatura do acordo de cessação de hostilidades na Gorongosa é uma oportunidade de mostrar ao mundo a ligação intrínseca que existe entre a conservação, a paz e o desenvolvimento” - Pedro Muagura, Administrador do PNG
O Parque Nacional da Gorongosa (PNG) deverá concluir, nos próximos sete anos, a construção de sessenta escolas novas para beneficiar sessenta mil alunos residentes na sua “Zona Tampão”, no âmbito dos esforços de desenvolvimento humano na província de Sofala, Centro de Moçambique, onde está localizado.
De acordo com uma fonte do PNG que falava em exclusivo para o Correio da manhã, as infraestruturas deverão incluir casas de banho com água canalizada para rapazes e raparigas, alojamento para professores e também um clube para programas desportivos e de entretenimento.
Os gestores do PNG consideram este tipo de iniciativas como fundamental para o desenvolvimento humano local, não obstante nos últimos dois anos estar a enfrentar contrariedades naturais, depois de alguns sucessivos anos de bons desempenhos, interrompidos pelo ciclone Idai, que flagelou algumas regiões do Centro de Moçambique, com maior enfoque para a província de Sofala, no dia 15 de Março de 2018.
O Idai atingiu com substancial brutalidade a cidade da Beira, capital de Sofala, matando, de acordo com dados oficiais, mais de 600 pessoas, para além de ter afectado mais de 1,3 milhão de almas e destruído centenas de milhares de casas e milhares de hectares de culturas, incluindo escolas, hospitais e clínicas.
Mas, a seguir ao Idai, o pior estava para vir para aqueles que vivem em áreas propensas a inundações, muitos deles na “Zona Tampão” do PNG. Com os rios Pungué e Urema a transbordar, as suas casas modestas foram inundadas, campos e colheitas destruídos e as famílias impossibilitadas de qualquer acesso à terra e ajuda ao longo de semanas.
Na primeira oportunidade, em apoio aos sinistrados, a Direção do PNG mandou distribuir 500 toneladas de alimentos a mais de 80.000 pessoas em algumas das áreas mais afectadas, principalmente ao Sul do Parque, esforço logrado com o recurso a dois helicópteros fretados expressamente para esse efeito.
As iniciativas multifacetadas dos gestores do PNG tornam este parque no maior empregador a província de Sofala, para além de cuidar da saúde de mais de 200 mil pessoas, ajudar pequenos agricultores, que na sua maioria se entrega à produção de mel, caju e café, para além de formar cientificamente centenas de jovens nativos da “Zona Tampão”.
Animado com o ideal de que “o Parque Nacional da Gorongosa pertence a todos os Moçambicanos”, os gestores do PNG criaram “Clubes da Paz”, que apoiam as famílias dos não-combatentes, essencialmente com cuidados de saúde, educação e emprego.
A Direcção do PNG enfatiza a sua equidistância relativamente aos actores políticos, frisando que “Não somos uma entidade política. Somos um ‘Parque da Paz’”. “Estamos envolvidos na conservação, ciência, educação, agricultura, saúde e turismo”, dissipando algumas insinuações do alegado envolvimento político por parte de alguns sectores da sociedade moçambicana.
“A assinatura do acordo de cessação de hostilidades na Gorongosa é uma oportunidade de mostrar ao mundo a ligação intrínseca que existe entre a conservação, a paz e o desenvolvimento”, sublinha Pedro Muagura, Administrador do PNG. ~
Por estes dias em que o mundo enfrenta a pandemia da covid-19, equipas de saúde do PNG desenvolvem esforços de educação sanitária junto das comunidades, a estas fornecem equipamento de proteção individual e mantêm algumas actividades de educação ao ar livre para as crianças locais, mesmo nesta conjuntura em que as escolas permanecem fechadas para aulas, desenvolvendo iniciativas de “forma segura”.
2017 foi o último ano de um exercício normal deste espaço de ecoturismo de categoria mundial de Moçambique, porque quando se preparava para abrir a sua temporada de 2018 (Março/ Dezembro), a região foi fustigada pelo ciclone Idai.
Quando os gestores do PNG esperavam desfrutar dos benefícios da paz lograda em Agosto de 2019 e julgavam estar a recuperar dos efeitos turbulentos e devastadores do Idai, em princípios de 2020, o mundo todo praticamente “fechava-se” por causa do coronovirus, que oficialmente foi descoberto na China em Dezembro de 2019.
Resultante das sucessivas contrariedades enfrentadas, em 2019 o PNG teve uma receita global de USD 15.568.495, sendo apenas cinco por cento (USD 737.132) ganhos do ecoturismo (USD7.882.488) proveniente de fundações, filantropia e doações diversas.
CM – 21.09.2020