A Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, reagiu hoje (17) ao pedido de investigação da Comissão Europeia sobre alegados abusos das forças de segurança, dizendo que a prioridade é estabelecer a paz e defender a soberania.
“Respeitamos e valorizamos todo o apoio da União Europeia e de outras organizações para melhorar a vida dos moçambicanos”, referiu Caifadine Manasse, porta-voz do partido, mas acrescentando que em Cabo Delgado, no norte do país, “há zonas de guerra” com as quais se poderá deparar “qualquer tipo de investigação”.
“Temos de trabalhar primeiro para que haja paz e estabilidade na província. Nós, moçambicanos, temos de estar unidos para que haja paz e para isso temos de acarinhar as Forças de Defesa e Segurança [FDS]”, realçou.
O porta-voz da Frelimo, no entanto, salientou: “Continuaremos a respeitar o pensamento de todas as organizações internacionais e nacionais, mas sempre valorizando o nosso pensamento, porque só nós os moçambicanos devemos lutar e fazer tudo ao nosso alcance para manter a nossa soberania”.
“É verdade que podemos precisar de apoios, morais, todo o tipo de apoio que apareça, mas nós os moçambicanos temos de traçar as nossas linhas”, frisou.
A Comissão Europeia considerou hoje “extremamente chocante” o recente relatório da organização Amnistia Internacional (AI) sobre violações de direitos humanos no norte de Moçambique e reclamou uma investigação “transparente e efetiva”.
Cabo Delgado é a província costeira mais a norte, local dos megaprojetos de exploração de gás natural e que enfrenta uma crise humanitária com mais de mil mortos e 250.000 deslocados internos – resultado de três anos de conflito armado entre as forças moçambicanas e rebeldes, cujos ataques já foram reivindicados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, mas cuja origem continua por esclarecer.
Caifadine Manasse falava numa conferência de imprensa em que a Frelimo declarou “apoio incondicional” às FDS, após vários apelos a uma investigação a alegadas violações de direitos humanos divulgadas nas redes sociais.
“Temos assistido à proliferação de vários vídeos que atentam contra a estabilidade do país, contra o trabalho que devemos fazer de vigilância”, referiu Manasse, considerando que as imagens “não devem continuar a ser usados como arma de manipulação da opinião pública”.
“O momento é de apoiar as FDS” e “repudiar todo o tipo de ato de atrocidade”, sublinhou o porta-voz da Frelimo, que dedicou o mês de setembro, com datas alusivas à independência, aos membros das forças moçambicanas.
A AI e a Human Rights Watch (HRW) estão entre as organizações que têm apelado à investigação dos atos captados em vídeo que mostram alegados membros das forças moçambicanas a torturar e até executar outras pessoas no palco de guerra de Cabo Delgado.
O Governo moçambicano já repudiou as imagens e declarou-se aberto a investigar as circunstâncias, classificando os vídeos como propaganda das forças “terroristas” que atingem a província nortenha e usam fardamento das FDS para os gravar.
AFRICA21 – 17.09.2020