Mueda, Memória e Massacre (1979)
por Raquel Schefer
O filme Mueda, Memória e Massacre (1979), de Ruy Guerra, definido oficialmente como a primeira longa-metragem de ficção moçambicana, poderia ser considerado, numa primeira leitura, como uma reconstituição cinematográfica1 do Massacre de Mueda, um dos últimos episódios de resistência contra o colonialismo português antes do início da Guerra Colonial em Moçambique (1964). Nesse sentido, o filme de Ruy Guerra, produzido pelo INC, o Instituto Nacional de Cinema moçambicano, não só comemoraria o principal e mais directo antecedente simbólico da Guerra Colonial em Moçambique, como também – e sobretudo – fundaria e inscreveria historicamente, na ausência de imagens de arquivo, a memória cinematográfica do acontecimento. Parafraseando Jean-Luc Godard, ao evocar a sua passagem por Moçambique, e citando, por outro lado, o título do filme de David Griffith, o nascimento político do país coincidiria aqui com o nascimento da sua imagem cinematográfica...
... Ao escavar o espaço e o tempo materiais destas imagens, as suas descontinuidades, surgem contradições fundamentais e postulados incompatíveis. Linhas de fractura. Da fundação cinematográfica mítica de Moçambique, primeira longa-metragem de ficção da República Popular, ao espaço institucional dos arquivos, filme fora de circulação durante um longo período de tempo, raramente visto, raramente mostrado, descartado, tal como o projecto político da Frelimo. Imagens que são arquivos diferidos porque não pretendem ser (nem estar em vez de) as imagens do passado, mas que constituem, pelo contrário, uma força disruptiva que liga transversalmente o passado de 1960 ao presente enunciativo de 1979 e aos dias de hoje, marcando a passagem do tempo sobre o discurso da história, a utopia e o trabalho da memória.
Em tempo: Saiba a verdade do que se passou em https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/massacre_mueda_16061960/