RESUMO
Com ênfase na sociologia política e particularmente no processo da produção social de políticas, este estudo propõe uma nova interpretação da Operação Produção (OP). Longe do discurso político que sugere uma ligação, objectiva, entre esta política e a sua necessidade sócio-económica de tornar «produtivos» e úteis à sua sociedade, os «improdutivos urbanos», aqui procurar-se-á mostrar que é mais na construção social, na representação, na percepção, no sistema de referenciais sobre os «improdutivos urbanos», partilhada no seio da direcção da Frelimo, nos finais dos anos 1970 e primeira metade de 1980, que leva à adopção e implementação da OP e ao seu modus operando.
A dimensão subjectiva dos «improdutivos urbanos», a sua invenção política é que conduz a decisão que foi oficialmente baptizada de Operação Produção em 1983. Não quer com isso dizer que a presença de indivíduos nas cidades, mais do que aquilo que elas podiam suportar, não constituísse um problema. Mas, isso sozinho não justifica a adopção duma política pública, muito menos uma que tenha uma dimensão compulsiva.
Baseado em algumas entrevistas, nos documentos de imprensa escrita da época, principalmente o jornal Notícias e a revista Tempo, a literatura estrangeira e nacional acessível, directa ou indirectamente relacionada com o objecto do estudo, no cruzamento de métodos de ciência política e de história política, este estudo pretende ser uma contribuição à literatura sobre a trajectória política, económica e social dum dos países de África que é referência na adopção da opção marxista do socialismo. É também uma contribuição ao debate académico sobre o processo decisional em África, no geral e em Moçambique em particular.
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