Por Francisco Nota Moisés
Lá nos fins da década de 1970, Samora Machel esteve em Nampula onde ia quando lhe apetecia para provocar e zombar-se dos macuas e insultar a sua religião, o Islão. Não era de admirar visto que as religiões cristãs estavam também sitiadas durante o regime de Samora Machel com igrejas e paroquias nacionalizadas e os crentes impedidos ou proibidos de praticar a sua fé.
Numa tarde o ditador comanditou a Radio Moçambique e obrigou todas as cadeias regionais para entrarem em cadeia nacional que era para transmitirem os seus berros insultuosos contra o povo de Nampula.
Nada de grande importância se esperava do discurso do tirano. Mas o tirano de Moçambique não era uma pessoa simples. Era o presidente e portanto cidadão numero 1 do seu país a quem se devia prestar atenção. O governo Britânico através dos seus serviços de escuta radiofónica queria cada palavra que sairia da boca do homem que era um agente da União Soviética. Os americanos iriam também receber as palavras do ditador, ao mesmo tempo que eu estaria a traduzir o discurso do líder maputense para o inglês.
A 2.155 quilómetros de Nampula num lugar que não especifico, estive atento, gravando o discurso e tomando notas daquilo que Samora Machel dizia. Mas repentinamente, e não havia duvida que o dirigente da Frelimo ficou muito assustado, ele parou de falar e começou a gritar num tom de voz mais alto do que aquele no qual vinha discursando: "Eh, eh. eh...."
A transmissão parou. Continuei tenso e atento com as gravações continuando à espera que a transmissão regressasse e Samora Machel continuasse a falar, se o que tinha acontecido tinha sido falha técnica. Mas quando a transmissão regressou, a Radio Moçambique não disse nada sobre o interrupção do discurso do Machel e se ele estava bem ou não. A radio começou com outros programas e nos seus noticiários seguintes não disse nada sobre Samora Machel.
Fiquei a imaginar coisas, mas o ditador maputense estava salvo e são, pois que foi mencionado alguns dias mais tarde. E esqueci-me do incidente até que em 1989 quando repentinamente deparei-me com um grupo de quadros da Renamo algures na Zambézia que viajavam a pé de Nampula e se dirigiam para um curso de capacitação de quadros em Gorongosa. O grupo de militares que estavam comigo parou e aquele grupo de quadros nampulenses também pararam para se cumprimentarem visto que quase todos os militares comigo eram macuas ou jovens de Nampula.
Falando com o chefe do grupo nampulense, falei daquele incidente do Samora Machel em Nampula. Ele riu-se a bem rir antes de dizer o que me fez admirar: "Samora Machel ficou assustado quando viu uma cobra a voar no ar direitamente para ele. Desmaiou, mas não morreu." E o homem disse o que me disse sem duvidar o que dizia.
"O que era aquela cobra?" perguntei por perguntar visto que como africano que tinha sido seja abençoado ou amaldiçoado em deparar-me com situações estranhas sem possíveis explicações na lógica cientifica em Moçambique, na Tanzânia e no Quénia, onde vivi por 17anos, soube logo que, se o que o quadro me contou aconteceu, tratava-se de magia de feitiços que era para dar cabo da vida do ditador e que se ele sobreviveu era porque ele andava bem munido com magia de defesa que o supersticioso caudilho da Frelimo tinha obtido de curandeiros seja em Moçambique ou na Tanzânia.
Samora Machel provocava sempre os macuas e parece que alguém se tinha zangado contra ele e queria dar cabo dele misteriosamente.