EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (35)
Na quarta-feira, o Presidente disse que o diálogo com a Junta Militar da Renamo já começou, mas negou entrar em detalhes para explicar ao povo o que efectivamente está a acontecer.
Há aqui um grande equívoco. E a Frelimo chafurda nesse equívoco desde 1975. Confunde sempre interesses de Estado com os da Frelimo. Ou melhor, para o “glorioso” Estado e Frelimo são indissociáveis.
Mesmo que a Frelimo queira e lute para isso, Estado e Governo jamais serão meramente denominações diferentes para uma mesma realidade. O senhor Presidente só chefia o Governo, mas não é a encarnação dos interesses da sociedade. Não tem o direito de decidir pelo nosso futuro sem nos consultar.
Em nenhum momento lhe demos mandato para isso. Portanto, temos o direito de saber o que está a ser discutido com a Junta Militar da Renamo. Aliás, exigimos que nos informe! Este processo de diálogo, Presidente, deve ser aberto, transparente e inclusivo.
Nós não temos só de ouvir de si o que está a acontecer. Temos de participar. O bem- estar de Moçambique diz respeito a todos os moçambicanos e não somente a Frelimo. Temos de participar nesse diálogo para evitarmos o surgimento de futuras dissidências e vagas de instabilidade político-militar no País.
Desde sempre deixamos a Frelimo tratar dos nossos assuntos. Em que é que isso deu? Paz precária, assente sobre rancores e frustrações. É por isso que à mínima oportunidade que têm, esses frustrados subvertem os alicerces débeis de tal paz precária.
A discussão de assuntos de Estado, Presidente, e que dizem respeito a todos os cidadãos moçambicanos, não pode continuar a ser um privilégio de quem detém o poder e de quem apresenta uma contestação. Por outro lado, o Presidente diz que a Renamo não devia se distanciar deste diálogo porque os argumentos que têm sido colocados referem-se directamente à “perdiz”.
Até comparou isso como entrar em casa do vizinho sem o consentimento deste. E, por sua vez, a Renamo, na voz do seu secretário-geral José Manteiga, diz que o partido ainda não foi oficialmente informado sobre o tal diálogo.
Ademais: a parte mais interessada, a Junta Militar, apesar de mostrar-se disponível para dialogar, diz não ter sido ainda informada de nada. E como se isto fosse pouco, exige honestidade da parte do Governo se é que, de facto, quer pacificar o País.
Mariano Nhongo, o líder desse grupo, diz que em 2019, as negociações fracassaram devido às inverdades do Governo.
Como vê, Presidente, temos aqui todos os ingredientes para o fracasso deste diálogo. Se queremos tratar assuntos sérios, de Moçambique, o que custa sermos transparentes? Qual é afinal, a verdadeira agenda da Frelimo- até pergunto isto como se não soubesse-?
DN – 30.10.2020