EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (33)
Criticar neste País tornou-se sacrilégio. Faz com que o Presidente se chateie com quem o critica ao invés de escutar a crítica, refletir sobre ela e aproveitar o que for útil.
Talvez seja por isso que se faz rodear por falanges de ódio. Rodeam-lhe desde blogueiros de aluguer, gente para difamar, até aqueles que se querem guardiões da moral e de bons costumes “progressistas”.
Enquanto os vários amigos do Presidente banqueteiam-se com o que resta da mesa farta do poder, o País real ainda depara-se com uma crise económica e social grave, com um paradigma de desenvolvimento esgotado, e com o Estado sem os alicerces para impor a lei e garantir o progresso.
O Presidente esqueceu que prometeu, no seu primeiro mandato, acabar com a corrupção no País? Esqueceu-se da agenda ou preferiu juntar-se aos corruptos? Presidente: há corrupção no procurement em várias instituições estatais.
Os beneficiários dos ajustes directos-nestes tempos de pandemia- são sempre os mesmos. São pessoas com ligações com indivíduos politicamente relevantes a nível do Governo e/ou partido no poder.
Por exemplo: analisando o rol das empresas beneficiadas pelos ajustes directos no Ministério da Saúde e no Ministério das Obras Públicas, denota-se uma tendência de adjudicar os concursos aos mesmos grupos económicos.
É o caso do antigo director Clínico do Hospital Central de Maputo, Domingos Diogo. Ele é sócio da empresa Mais Saúde Lda que facturou 81.900.000,00 (oitenta e um milhões e novecentos mil Meticais) em ajuste directo no Ministério da Saúde.
Este senhor, Presidente, é um conhecido seu. Ele é irmão de Luísa Diogo, a antiga Primeira-Ministra, e da actual Secretária de Estado na Província de Maputo,Vitória Diogo.
Outro caso flagrante é o da Construtora Mondego, ligada a Manuel Pereira. Ganhou em ajuste directo 254.774.718,38 (duzentos e cinquenta e quatro milhões, setecentos e setenta e quatro mil, setecentos e dezoito meticais e trinta e oito centavos). Aquando da sua constituição em1999, os sócios da sociedade compreendiam entre outros, José Maria Cepela Gamito, irmão do antigo Presidente do Conselho Constitucional, Hermenegildo Gamito, e de Alfredo Gamito, antigo Governador e deputado da Assembleia da República.
Por outro lado, temos o consórcio que integra a construtora Gama Construções com ligações com a cidadã Chiluva Mixuene Gruveta, filha do histórico combatente da Frelimo, Bonifácio Gruveta Massamba que ganhou 234.260.497,9.MT (duzentos e trinta e quatro milhões, duzentos e sessenta mil, quatrocentos e noventa e sete meticais e nove centavos).
São estas pessoas que se beneficiam, de forma pouco transparente, dos dinheiros do povo. Conforme vê, Presidente, aqui não consta nenhum Macuácua.
O file mignon serviu-selhes de bandeja. Não houve nenhum concurso público. ~
Mas a pergunta é: neste Moçambique de mais de 30 milhões de habitantes, só os citados aqui é que têm empresas que mereciam esse ajuste directo?
E aqui não enumerei todos. O que trago é uma pequena montra das teias de cumplicidades entre grupos económicos e decisores políticos.
E o Presidente não me vai dizer que está de fora. É mentira! Há muitas redes de clientelismo e corrupção que sugam das caídas tetas do Estado.
Esta vaca já não tem leite que chegue. Ou seja, o pouco que há beneficia os mesmos indivíduos enquanto o povo é obrigado a ficar em casa. A Frelimo não presta! Combate à corrupção uma treta!
DN – 16.10.2020
Recent Comments