O aniversário do acidente de aviação em Mbuzini é este ano assinalado pela publicação de uma biografia do primeiro presidente moçambicano. Os autores, Allen Isaacman e Barbara Isaacman, são cidadãos americanos, cujas relações com a Frelimo datam da era Mondlane. Defendem que Machel foi assassinado, contrariando assim as conclusões a que chegou a comissão de inquérito.
Foi dos acidentes de aviação mais fáceis de explicar. Todavia, permanece hoje dos mais polémicos, transformado em mistério por uns, em acto de terrorismo por outros, mercê da falta de rigor como tem sido tratado em artigos de opinião, estudos académicos ou em livros. Em todos eles um denominador comum: os factos do acidente e a análise que deles fizeram peritos são ignorados, erroneamente interpretados ou até mesmo distorcidos. O livro, «Mozambique’s Samora Machel: A Life Cut Short», do casal Isaacman o exemplo mais recente.
Os autores apoiam-se em depoimentos feitos perante a Comissão da Verdade e Reconciliação (TRC) da África do Sul no âmbito das audiências sobre o desastre de aviação. A TRC não estava habilitada a investigar desastres de aviação. Nenhum dos membros do painel da TRC, incluindo o Comissário que presidiu às sessões, Dumisa Ntsebeza, e a jornalista que desempenhou as funções de "consultora", Debora Pata, possuíam formação na área da aeronáutica. À data da nomeação para esse cargo, Ntsebeza trabalhava como advogado nas áreas do Direito constitucional e administrativo. Ambos revelaram desconhecer, em pormenor, as circunstâncias em que ocorreu o desastre, ficando ainda patente o propósito da TRC: provar uma teoria de conspiração assente na alegada existência de um radiofarol (VOR) falso.
Todavia, logo no primeiro dia das sessões de audiência, Ntsebeza indicou desconhecer o que era um VOR. Quando o Coronel João Honwana, ex-Comandante da Força Aérea moçambicano, declarou que os tripulantes do avião presidencial estavam convencidos de que seguiam o VOR de Maputo, Ntsebeza começou por perguntar:
– E o que significa VOR?
Apesar da tese da conspiração fundamentar-se na existência de um VOR falso. Ainda por localizar. A PGR moçambicana anda à procura dele desde 2008. Guebuza mandou encerrar a Comissão de Inquérito moçambicana, por ele próprio presidida, antes dela ter localizado o misterioso VOR falso. Todos com imensas dificuldades em explicar qual a relação entre um VOR - falso ou verdadeiro - e o acidente de Mbuzini.