Por Ericino de Salema
O Presidente da República, Filipe Nyusi, disse ontem, em Chimoio, capital da província de Manica, que “o valor que receberam é a título de crédito e deve ser devolvido, para permitir que mais produtores possam beneficiar nos próximos tempos”.
Bom princípio este, claro, mas o que está a ser feito para que não suceda, com o “dinheiro do SUSTENTA”, o mesmo que já sucedeu com tantos outros “créditos agrícolas” e nas mesmas condições? Conheço muito bem o “Regadio do Chókwè”, por exemplo, onde foram entregues os primeiros cheques, e sei do que estou a falar.
Muitos, ou quase todos, os que receberam esses cheques do SUSTENTA há dias já receberam, nos últimos anos, financiamento nos mesmos moldes, mas não sei se pelo menos 1% (um por cento) de fundos tais chegaram a ser devolvidos.
Isto, que deveria ter (espero ter sucedido isso) sido previamente captado em termos de gestão e avaliação de risco, é verificável.
Uma questão: não é tempo de se pensar numa nova geração de agricultores, com outro tipo de preparo técnico, gestão inclusa, outros princípios informadores da “coisa”, para que não estejamos sempre no “mais do mesmo”, dados os vícios causados por tantos outros financiamentos similares, não reembolsados, e sem consequência nenhuma?
Outra inquietação: terá o sistema de MEAL (Monitoring, Evaluation, Accountably and Learning- Monitoria, Avaliação, Prestação de Contas e Aprendizagem) do SUSTENTA “coaches” devidamente preparados e motivados para o efeito?
Da leitura do folheto de 50 páginas sobre o programa, isso não resulta claro. Mais: parece que a “linha de base” está repleta de enviesamentos!
Já agora, até porque recordar é viver, exercícios de avaliação externa e independente ao PROAGRI constataram que um sistema fraco e não funcional de MEAL foi a principal razão de fracasso do programa.
Eu acho, honestamente, que seria um milagre “dinheiro do SUSTENTA” ser devolvido, mas confesso que abrirei uma garrafa de champagne francês se o futuro me desmentir!!!