As declarações surgem depois de, na passada quinta-feira, um porta-voz do corpo diplomático europeu ter dito que a UE defende uma abordagem alargada aos problemas de violência armada no Norte de Moçambique, notando que um dos programas já em marcha visa desencorajar a radicalização e recrutamento
A diplomacia da União Europeia (UE) garante “acompanhar de forma próxima” a onda de violência no Norte de Moçambique, em Cabo Delgado, indicando que elegerá em “próximos diálogos políticos” com o Governo moçambicano a ajuda a disponibilizar.
“A UE tem acompanhado de forma bastante próxima a onda de violência no Norte de Moçambique, reconhecendo as severas consequências a nível humanitário e no aumento das tensões na região”, declarou a porta-voz da Comissão Europeia sobre assuntos externos e política de segurança, Nabila Massrali.
Questionada sobre a situação em Cabo Delgado durante a conferência de imprensa diária da instituição, em Bruxelas, Nabila Massrali recordou que “o Governo de Moçambique e a UE encetaram uma política de diálogo focada nas questões humanitárias e de segurança”. “E estamos dispostos a apoiar o governo de Moçambique. Vamos discutir opções concretas nos próximos diálogos políticos”, concluiu a porta-voz.
As declarações surgem depois de, na passada quinta-feira, um porta-voz do corpo diplomático europeu ter dito à agência Lusa que a UE defende uma abordagem alargada aos problemas de violência armada no Norte de Moçambique, notando que um dos programas já em marcha visa desencorajar a radicalização e recrutamento.
Contactado pela Lusa nessa altura, o Serviço Europeu de Acção Externa apontou que o Alto-Representante, Josep Borrell, respondeu no início deste mês ao pedido de assistência que lhe foi dirigido em setembro pelas autoridades moçambicanas, dando conta da intenção da UE de “encorajar e apoiar o desenvolvimento de uma abordagem integrada para lidar com a violência armada em Cabo Delgado”.
Essa abordagem, precisou o porta-voz na semana passada, terá em conta os aspectos humanitário, de desenvolvimento e de segurança, a chamada “abordagem de três elos”, e sempre “respeitando os padrões internacionais de direitos humanos e o Estado de Direito”.
Lembrando que UE e Moçambique já abriram um diálogo político focado nessas três vertentes, que proporcionará “a oportunidade de discutir opções concretas de assistência”, o mesmo porta-voz sublinhou que já está em marcha assistência humanitária e a nível de cooperação ao desenvolvimento para a região de Cabo Delgado, com programas em curso que constituem “pilares importantes da resposta da União Europeia”. “Entre as acções concretas em curso, há um programa com o objectivo de desencorajar o recrutamento e a radicalização, e que visa fomentar a coesão social”, apontou, acrescentando que “o apoio da UE também inclui projectos para a juventude e sociedade civil, para o reforço de capacidades e para a criação de emprego”.
A mesma fonte referiu ainda que “está também a ser preparado, com companhias de gás europeias, um projecto de educação e formação vocacional, para garantir que a população local beneficia do desenvolvimento do sector”.
Em 09 de Outubro, o embaixador da UE em Maputo, Antonio Sánchez-Benedito Gaspar, entregou à ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação moçambicana, Verónica Macamo Ndlovo, a carta de resposta do chefe da diplomacia europeia ao pedido de assistência de Moçambique, na qual Josep Borrell confirmou que o bloco europeu vai ajudar o país para fazer face à crise na região de Cabo Delgado.
Antonio Sánchez-Benedito Gaspar explicou na ocasião que a ideia é fortalecer as capacidades de resposta de Moçambique, esclarecendo, no entanto, que “não está na agenda a vinda de militares europeus ao país”.
A província de Cabo Delgado é palco há três anos de ataques armados desencadeados por forças classificadas como terroristas. A violência provocou uma crise humanitária com mais de mil mortos e cerca de 250.000 deslocados internos.
Correio da manhã – 22.10.2020