Inciamos aqui a publicação de uma série de textos que era nossa intenção constituirem capítulos ou mesmo subcapítulos de um livro em projecto que desejariamos subordinar ao título de capa AUTÓPSIA À HISTÓRIA DA DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA.
Sem dúvida que uma obra desta natureza, apoiada em documentos oficiais e apontamentos particulares e na nossa vivência dos problemas ao longo dos anos em que trabalhámos em vários territórios do espaço pluricontinental e insular português do passado por muitos insistentemente denominado de "império colonial português", por vezes tem de abordar ou aflorar, de maneira melindrosa, nalguns aspectos que ferem personalidades que erraram no cumprimento de suas missões ou dando protecionismo a grandes interesses políticos ou econômicos e bem assim, problemas relacionados com "portugalidade", "angolanismo", acção psicológica e guerra psicológica, corrupção de suportes dos orgãos administrativos e do poder, comportamentos sociopatologicos de entidades civis e militares e comportamentos honrosos, omissões históricas, "subversão", nacionalismos e guerras secretas ou cuja existência não figura na história de Portugal nem na de outros países lusófonos, etc., etc. Trata-se de arejar e pôr à mostra, da maneira menos contundente possível, para pessoas em foco (de que procuraremos utilizar siglas ou não usar os verdadeiros nomes, preferindo-lhes o relato factual...), episodios e duras verdades que contribuirão para fazer uma aturada pesquisa histórica de molde a permitir que algum dia se reescrevam com a indispensável veracidade, capítulos da nossa história (e não só da nossa) que estão intencionalmente distorcidos ou desvirtuados ou ainda omissos em areas essenciais à avaliação do passado colonial lusitano. Não seremos, nem patriota nem patrioteiro; apenas verdadeiro, tanto quanto a nossa memória e os elementois documentais ao nosso alcance, o permitirem.
Leia aqui sobre a descolonização, sobre o Congo e outros temas:
http://www.portugal-linha.pt/opiniao/CAlexandrino/cronicas.html
CARLOS MÁRIO ALEXANDRINO DA SILVA visto por Pedro Marangoni no seu livro OPÇÃO PELA ESPADA:
Ao meu amigo e último dos aventureiros heróis portugueses, Carlos Mário Alexandrino da Silva
Nascido em Luanda, Angola, aos 30 de Julho de 1925, filho de um Coronel Médico goês (Goa, província portuguesa na índia), serviu como oficial em Lisboa no Regimento de Infantaria n° l, deslocando-se em 1951 para Moçambique para comandar tropas africanas que, em Julho de 1952 estariam já no Extremo Oriente, enfrentando a China nos combates que ficariam conhecidos como das Portas do Cerco. Permaneceu em Macau até 1959, quando foi forçado a abandonar as fileiras devido ao seu envolvimento com uma refugiada russa, mãe de seu primeiro filho. Regressando a Portugal, formou-se em Ciências Sociais e Políticas sendo convidado para atuar no Conselho de Orientação da Acção Psicológica em Angola, já em plena guerra. Foi Deputado na Assembleia Legislativa do Estado de Angola, jornalista, piloto, exercendo vários cargos importantes na administração daquela província africana, sempre corajoso e polémico, o que lhe granjeou amigos e muitos inimigos. Injustiçado após a Revolução dos Cravos em 1975, deportou-se para o Brasil para recomeçar a vida, tendo sido mestre no ensino superior até 1995, quando completou 70 anos. Continuou sua luta destemida contra a hipocrisia política portuguesa e mundial compensando a crescente debilidade física com a agilidade da Internet, que o mantinha ligado ao mundo até altas horas.
Lutou e foi atuante como Cidadão do Mundo até o dia 22 de Janeiro de 2002, quando faleceu em Lorena, SP., aos 76 anos, plenamente vividos como os capitães portugueses de outrora, heróis das descobertas e conquistas...