O conceituado criminalista moçambicano, Albano Silva, decidiu prescindir de continuar como defensor de dois antigos gestores de topo do Banco de Moçambique, na acusação que contra eles corre no âmbito do autónomo das chamadas dívidas ocultas, um processo que, segundo se sabe, endividou ilegalmente o país em cerca de 2.2 mil milhões de dólares.
Trata-se do antigo governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gouveia Gove, e o então administrador, Waldemar Fernando de Sousa, que viram a escolha a desfazer-se porque, a dado momento do processo, o causídico Albano Silva disse não.
O mediaFAX não conseguiu apurar, com exactidão, as razões e os argumentos profundos que terão levado aquele criminalista a rescindir do acordo que já tinha assumido com os antigos dirigentes do Banco de Moçambique (agora reformados), mas soube que tudo gira em torno de uma suposta incompatibilidade.
Ou seja, os escritórios de advocacia comandados por Albano Silva detectaram, a meio do processo, “uma incompatibilidade qualquer” que se mostrou suficiente para forçar a interrupção do casamento de conveniência. Albano Silva é um experiente advogado moçambicano, que esteve ligado aos mais mediáticos casos, incluindo o tráfico das quarenta toneladas de haxixe, o tráfico de armas, e ainda o desfalque dos 144 biliões da antiga família do Metical no antigo Banco Comercial de Moçambique, um processo apontado como móbil do crime que culminou com o bárbaro assassinato do primeiro editor deste diário, Carlos Cardoso.
As audições ao longo da instrução preparatória, na Procuradoria- -Geral da República (PGR), Ernesto Gove e Waldemar de Sousa foram sim na companhia de Albano Silva. Cumbane e Gani Enquanto isso, Damião Cumbane, também um experiente, mas discreto advogado da praça, poderá mesmo continuar como jurisperito de Joana Matsombe, antiga administradora do Banco de Moçambique, e também acusada no autónomo aberto pela PGR no âmbito da investigação das dívidas ocultas.
Numa curta conversa telefónica com o mediaFAX, o jurista não confirmou, mas também não desmentiu a possibilidade de continuar a assistir juridicamente a actual membro da Comissão Executiva do Moza Banco.
O que aqui é também factual é que foi Damião Cumbana que assistiu Joana Matsombe aquando das audições na Procuradoria - Geral da República. Agora, já com o processo em tribunal, Damião Cumbana deixa ao critério da cliente a decisão sobre a continuidade da relação ou não.
Já Abdul Gani, jurista também bastante experimentado e conhecedor profundo dos cantos dos tribunais, continua mesmo como advogado do antigo ministro das Finanças, Manuel Chang, que, como se sabe, continua preso na República da África do Sul. Manuel Chang foi detido quando estava em trânsito com destino a Dubai.
A detenção, se sabe, foi consumada no âmbito de um mandado internacional entregue à Interpol, depois de a justiça americana avançado com a acusação de que a acção de Manuel Chang no calote das dívidas ocultas tinha prejudicado investidores do país ainda governado por Donald Trump.
Abdul Gani confirmou, em contacto com o mediaFAX, a sua continuidade no processo, e em defesa daquele que parece ter assumido o papel de protagonista no estudo e concretização do escândalo das dívidas ocultas.
Segundo se sabe, Manuel Chang vem indiciado da prática dos crimes de violação da legalidade orçamental, corrupção passiva para acto ilícito, abuso de cargo ou função, associação para delinquir, peculato e branqueamento de capitais.
Enquanto isso, os três réus do Banco de Moçambique são indiciados da prática do crime de abuso de cargo ou função.
MEDIA FaX – 24.11.2020