"Mesmo tu Rama, que es perfeito, podes cometer as falhas que encravam a vida dos homens que sao Mentir, Associar-se com a mulher do outro e Recorrer a Violência sem Justificação" (Sita falando ao seu marido Rama, Aranya Kanda (O Livro da Floresta, o terceiro capítulo dos sete capítulos da epopeia Ramayana que é também uma das grandes escrituras sagradas do Hinduísmo e uma das maiores obras da literatura universal).
A trama do Ramayana escrito em Sânscrito, língua sagrada do Hinduísmo, ente 500 a 300 anos antes de Cristo, se resumirá nesta análise das palavras da Sita a Rama. Vítima duma intriga no palácio real do seu pai, o rei Dasaratha em Ayodhyia, capital do reino de Kosala, Rama que é reencarnação do Deus Vishnu parte para se exilar na floresta durante catorze anos antes de regressar para ser rei. A sua esposa Sita que podia ficar atrás no palácio, segue-lhe.
A cidade resplendente de Ayodhyia está muito atrás deles depois deles atravessarem o sagrado Ganga (rio Ganges). Estão solitários com Lakshmana, o irmão de Rama, quando Sita faz aquela declaração na floresta onde rakshasas (demónios) incomodam santos homens. Será que tinha pressentimentos de que ela viria a ser vítima daquelas três vícios humanos que ela mencionou? Pode ser que tinha ou pode ser que não tinha.
Se analisarmos os três vícios humanos podemos ver que um pais como Moçambique sofre exactamente daqueles vícios. Um regime que mente a torto e a direito e jamais diz a verdade sobre nenhuma coisa, que viola tudo o que é do povo representado metaforicamente por associar-se com a mulher do outro e que recorre à violência desmedida que gera a contra violência contra ele próprio.
Aquando duma distração na floresta, Rama persegue um demônio em forma dum cervo dourado e o seu irmão o segue alguns momentos depois. Atrás Ravana, o rei-demônio de Lanka de dez cabeças e vinte braços aparece a Sita camuflado como um santo homem e aldraba-a a sair do círculo mágico de proteção que Lakshmana tinha feito em redor da palhota deles para raptar e carregá-la no seu carro aéreo para Lanka.
De regresso, os dois irmãos não encontram Sita, estão aflitos e perguntam a animais, arvores, santos homens que vivem em meditação perpétua na floresta se tinham visto Sita. Aquele tempo palha, árvores e animais falavam, mas ninguém sabe lhes dizer o que aconteceu a Sita. Os irmãos percorrem a floresta à procura da Sita, encontram-se com Jatayu, uma águia que atacou Ravana no ar para impedir que ele carregasse a Sita para Lanka, mas o demônio deu-lhe um golpe de espada. Jatayu morre depois de pronunciar as suas últimas palavras a Rama e Lakshmana. Depois de performar a cerimonia fúnebre para Jatayu, Rama e Lakshmana continuam à procura da Sita quando se encontram com dois macacos fugitivos, Sugriva que tinha sido golpeado por seu irmão Vali, e o seu ministro Hanuman, o deus macaco e um dos mais celebrados deuses do Hinduísmo e herói da guerra contra os demônios de Lanka.
Hanuman voa a Lanka e l«a descobre Sita e voa de regresso a Bharatavarsha (India) onde o imenso exército de macacos e ursos estão acampados na margem do Oceano. Esse exército constrói uma ponte flutuante para atravessar para Lanka para lá batalhar Ravana e os seus demônios e libertar Sita. Na guerra apocalíptica, Ravana e os demônios são vencidos e Sita a liberta.
Rama atende o enterro do demônio Ravana e coroa Vibishna, o irmão de Ravana que traiu o seu irmão e lutou ao lado de Rama, como o novo rei demônio de Lanka antes de regressar para ser o rei do reino de Kosala que governará por muitos anos antes de Brahma, o deus da criação, aparecer para lhe dizer que ele Rama e Vishnu que cumpriu a sua missão como homem visto que os próprios deuses que tinham dado a dádiva de invencibilidade a Ravana não podiam disciplinar e vence-lo. Para obter a dádiva, Ravana não mencionou homens e animais que ele desprezava, o que explica porque Vishnu teve que se reencarnar como homem e divindades em forma de macacos e ursos participaram na guerra contra os demónios de Lanka.
Como se vê, Sita foi vítima da sua visão dos vícios de que a humanidade sofria e até hoje sofre: mentira do demónio Ravana, rapto por Ravana que a queria como a sua esposa e guerra que Rama, que não podia recorrer à violência gratuita, só travou visto que a arrogância do Ravana que não quis lhe devolver a sua mulher lhe obrigou a fazê-lo.