Somos um país empobrecido pela má postura dos seus governantes. Temos tudo para o país se desenvolver mas esse desiderato não será alcançado. Muitos dos que nos governam olham para o cargo como uma oportunidade para fazer dinheiro para si e não para servir a comunidade e ao povo moçambicana. Em todas as actividades, aos seus olhos, só salta, em primeiro lugar, dinheiro nas calamidades naturais, dinheiro na pandemia, dinheiro nos processos de procurement e dinheiro em tudo.
Não é nenhum exagero dizer que o nosso país está mesmo a saque e a honestidade é uma qualidade em via de extinção. Não duvidamos de que as guerras de que somos vítimas visam amealhar dinheiro para os bolsos dos promotores desses conflitos. Eles se socorrem do poder para gerirem o bem público em benefício próprio. Foi assim que fizeram as contratação das dívidas ocultas concebidas para roubar ao Estado por uns espertos.
Empreiteiros que constroem escolas, centros de saúde, estradas e outras infraestruturas públicas recebem todo o dinheiro antes do fim da obra que é dividido entre o dono da obra, se for gestor público, o empreiteiro e o fiscal da obra. Até na construção de um muro de uma escola ou de um centro de saúde vem adicionada a comissão do adjudicante e do fiscal. Nada se faz sem acrescentar uma comissão por cima. Isso tem sido uma prática recorrente em quase todos os sectores do Estado. Todos querem comissões e é nisso que a adjudicação directa de fornecimento de bens e prestação de serviços para o sector público virou uma verdadeira pandemia.
O interesse em roubar fundos públicos tornou-se, no nosso país, uma doença que destrói a capacidade do Estado servir o povo. Quem estiver no poder se acha no direito de enriquecer sem causa e as instituições, como a Procuradoria-Geral da República e o SERNIC - Serviço Nacional de Investigação Criminal - que deveriam combater este modus operandi estão mais ocupados em perseguir os pilha-galinhas do que em combater o grande criminoso.
As importações de medicamentos têm sido um buraco por onde é vazado o dinheiro público. As elites do partido no poder até se alternam na importação central de medicamentos, com vista ao seu emponderamento económico através de saque desenfreado e, preferencialmente, compram fármacos rejeitados na seleção de qualidade. Isto é, também, um segredo aberto e jogado na praça pública.
O fornecimento logístico de bens e serviços às forças governamentais que estão no teatro das operações em Cabo Delgado, é uma linha seguida, de forma escrupulosa, pelas elites políticas do partido no poder para encherem os seus bolsos de dinheiro público. Agora a pandemia de coronavírus virou um chorudo negócio e muitos estão a fazer rios de dinheiro com a compra e distribuição de máscaras, baldes e etc. As elites político-económicas do partido governamental são desonestas e estão a matar a galinha dos ovos de ouro, depauperando o país e roubando ao povo. Estão a sucatear a economia nacional, esmagando o sonho dos moçambicanos de ter um país socioeconômico viável onde todos tenham as mesmas oportunidades de viver com dignidade e justiça social.
Um governo comprometido com o povo, não tolera que um membro seu cometa a extravagância como fez a secretária de estado da Província de Maputo. Vitória Diogo foi-se instalar numa casa que custa aos cofres públicos 400 mil meticais por mês, superando em mais de 300 porcentos do estipulado pelo governo central que é de 120 mil meticais. Ela abandonou a mansão depois de oito meses, após a denúncia pública feita pela imprensa, tendo gasto 3.600 mil meticais ao Estado. Saiu sem escoriações e na santa paz, demonstrando a falta de seriedade na acção governativa do governo do presidente Filipe Nyusi.
A senhora Vitória Diogo, no lugar de 960 mil meticais de aluguer da casa, preferiu ir se instalar numa mansão que custava aos cofres do Estado 280 mil meticais acima do estipulado e nada lhe aconteceu. É a impunidade generalizada que destrói os esforços que têm sido empreendidos para alavancar a economia nacional. Não há rigor no cumprimento da lei, cada um faz o que achar melhor para si. Vitória Diogo deveria ter sido exonerado do cargo para desencorajar os detratores da nossa pátria, mas está aí numa boa. Para camuflar as suas ilegalidades, procura fazer-se passar por grande fervorosa do Presidente Filipe Nyusi que chega a pendurar em árvores a foto do chefe de estado lá vai fazer algum trabalho, parecendo que estamos na Coreia do Norte, onde o chefe é adorado. A procuradoria sabe, apenas, correr atrás dos pequenos, deixando os graúdos ficar com o espólio da nação, comprometendo, assim, o futuro do país. Com um governo corrupto, Moçambique não sairá do chão de onde se encontra.
De Tete não chegam boas novas. O gabinete da Secretária de Estado daquela Província mandou anunciar duas adjudicações directas para o seu conforto pessoal. Uma para reabilitação do edifício e ampliação do anexo do seu gabinete no valor de 135 mil dólares, alguma coisa como 10.125 mil meticais, a outra é para a compra de duas viaturas “condignas para o seu estatuto”, de marca Toyota no valor de 160 mil dólares, equivalente a 12 milhões de meticais. Ao lado dos nossos secretários dorme uma grande ambição pela riqueza e conforto, não se lembram do que o Estado poderia fazer se contivessem um pouco a sua vontade pelo luxo. Numa só sentada, o Estado vai ter que desembolsar um pouco mais 22 biliões de meticais para um único secretário de Estado viver condignamente. Eles pensam e procedem de tal maneira esquecendo-se de hospitais que não têm luvas para os seus profissionais se protegerem e as farmácias públicas que andam sem os fármacos básicos. As esquadras da polícia nem papel têm e algumas nem um Mahindra possuem para socorrer o povo em caso de necessidade. Não vamos de mínimas condições higiénico-sanitárias para o bom recomeço das aulas.
O tempo dos governantes modestos, como Rui Baltazar, que devolvia quinhenta a quinhenta aos cofres do Estado do dinheiro que havia restado da viagem, de Magic Osman e de Ivo Garrido que nunca mudaram das suas casas para as protocolares, passou para Historia. Agora temos um exército de ambiciosos, gananciosos que olham para os lugares que ocupam na máquina governativa como uma oportunidade para amealharem dinheiro nas suas contas. Integrar o governo há muito que deixou de ser um acto de servir à comunidade e ao país, passou a ser uma mera chance para fazer dinheiro e de viver mergulhado no luxo.
Os impostos que pagamos servem para sustentar o luxo e o conforto que os nossos governantes desejam e sonham e não para aumentar a capacidade para o Estado melhorar as condições de vida das populações.
Fica demonstrado que somos pobres devido à forma desastrosa como somos governados e não por nos faltarem recursos. Temos gás, teremos petróleo, temos mais de 360 milhões de hectares de terra arável, imensos recursos hídricos, portos de águas profundas e um invejável complexo ferroportuário, florestas tropicais abarrotadas de madeira pilhada por empresas chinesas, porém, continuamos a viver debaixo da linha da pobreza. Temos tudo para sermos um parceiro estratégico no seio das nações, mas andamos de barriga.
Os recursos naturais não são o factor determinante para o desenvolvimento de um país, mas o homem e a maneira como faz a gestão dos bens que a Natureza lhe proporciona. O povo não sabe escolher seus gestores para crescer com orgulho e desenvolver o país e a nação. Os pilantras nos jogam na lama da pobreza.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 23.12.2020