Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
As mulheres são as primeiras vítimas dos conflitos e as suas vaginas tornaram-se num campo de batalha. Denis Mukwege, médico ginecologista congolês
Recebi com agrado a prorrogação da trégua. Aplaudo a decisão do líder máximo da Renamo, mas não escondo a vontade de o ver preso numa pildra e responsabilizado por comandar uma facção criminosa envolvida na matança das populações civis, além de furtar e destruir bens públicos, amputando o desenvolvimento do país. As organizações de direitos humanos, embriagados pelo desejo de ver o governo da Frelimo cair em desgraça, jamais pronunciaram-se sobre os actos macabros de Dhlakama e as acções belicistas do seu partido.
Quando as forças de defesa e segurança saem em defesa das populações civis, contra investidas da Renamo, essas organizações marcham em protesto alegando a violação de direitos humanos.
São assim essas agremiações, agitam cinzas na tentativa de provocar incêndios. Tal como no passado, aliás, sempre que a Renamo perde eleições, voltam às matanças contra as populações civis. Os assassinos do povo, em nome de uma paz postiça, são amnistiados até o próximo pleito eleitoral.
Há pouco menos de três meses, em Maputo, participei de um seminário sobre as Mulheres, Paz e Segurança. Durante o encontro abordei a problemática do conceito de amnistia. Um conceito em voga porém ambíguo que tem legitimado, em alguns países da África, em particular Moçambique, a violência sangrenta e os crimes contra a humanidade. Sou apologista da reconciliação (qual reconciliação, se em Moçambique nunca houve conflitos étnicos-tribais e nem a actual liça entre a Frelimo e a Renamo tem a ver com a falta de reconciliação), até porque esse acto faz parte da cultura do perdão. O que não concordo são os arranjos políticos concedidos a criminosos para se escapulirem das suas responsabilidades. Pois saibam que a justiça de Deus tarda, mas nunca falha.
Dhlakama faz parte do grupo de pessoas que têm um estatuto especial para matar e ser amnistiado. As consequências dos seus actos levaram à destruição de Moçambique nos últimos 20 anos. Quem irá ressarcir os cidadãos que perderam os seus bens? Quem irá indemnizar as famílias que perderam os seus entes queridos? Quem irá pagar os prejuízos económicos registados durante o período de hostilidades? O sonho daquelas crianças de Muxúnguè e da Gorongosa que ficaram sem estudar, quem as vai salvar da gandaia? Quem pode esquecer o tempo que se passou: as noites mal dormidas debaixo de camiões, as balas que alvejaram homens, mulheres, velhos e crianças; o abuso e violações sexuais a mulheres e crianças, o esfaqueamento de mulheres grávidas, entre outros crimes hediondos protagonizados pela Renamo. Isto também será amnistiado? Uma coisa é certa: esses crimes jamais serão amnistiados pela minha consciência.
Há que negociar, sim, mas sem esquecer que esses crimes foram cometidos por ganância de poder. Moçambicanos morreram porque Dhlakama quer governar nas seis províncias. O país regrediu porque a Renamo quer ser governo nas seis províncias. Está pois de parabéns o presidente Nyusi em restabelecer (ainda que parcialmente) à paz. Eu compreendo quão difícil é para o chefe de Estado ter que se “vergar” perante uma pessoa volátil como Dhlakama. É duro. A paz custa, mas ela é necessária para que a vida tenha valor. A esse propósito, termino com a frase de Antoine de Saint-Exupéry, que diz: “A grandeza de uma função está talvez, antes de tudo, em unir os homens.” Zicomo e um abraço nhúngue ao Fábio.
WAMPHULA FAX – 09.01.2017