Por ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Em 19[60] o mundo experimentava uma outra atmosfera política pôs segunda guerra-mundial, era a época da descolonização. Há tempos Colónias na África e na Ásia, lutavam pela independência nacional, pela libertação nacional, e pela autonomia.
Naquele lugar, algumas Metrópoles entenderam, que se ofertassem a independência a essas Colónias, se pactuassem uma emancipação a essas Colónias continuariam explorando a área, uma exploração de novo tipo, que os historiadores chamaram de exploração neocolonial. Destarte, o Governo belga, da época pensou exactamente.
Em 19[60] o Governo belga era composto por democratas, cristão e liberais e eles definiram, que a data oficial da independência do Congo seria [30] de Junho de 19[60]. O Governo belga, arquitectou eleições, e nessas eleições Patrice Lumumba, do Movimento Nacional do Congo [MNC] as venceu. Profundamente nacionalista, Lumumba proferiu um discurso, que assustou em larga escala os representantes dos interesses coloniais e os integrantes da burocracia colonial herdada, portanto, pelos belgas.
Lumumba, disse na ocasião o seguinte: «as leis do passado seriam revistas; novas leis seriam criadas e as novas leis seriam justa e nobres». Estava claro, que Lumumba não estava disposto a negociar, nem aturar os neocolonialistas. Lumumba, havia se transformado numa persona não grata. Mas, o mau estar, o [espanto] em relação a sua figura foi ampliado a partir do momento em que Lumumba na condição de Primeiro-ministro, vem a público anunciar, que irá africanizar o Exército no Congo.
Repare! Você que está lendo o texto; o Exército congolês era o que vertebrava o colonialismo na região, porque, era um Exército composto por belgas. Então, Lumumba decidiu africanizar o Exército congolês com o apoio da União Soviética. Lumumba, não era ingénuo ele sabia, que para obter a soberania do Congo, para controlar politicamente o Congo, ele precisava controlar o Exército.
A seguir, ao anúncio houve uma reacção à sua política de africanização do aparato militar, em consequência, oficiais belgas se deslocaram para o Sudeste do Congo para a província do Katanga ao encontro do General Moisés Ntsombé. Esses Oficiais, muito claramente estabeleceram, que [resistiriam] ao Primeiro-ministro Patrice Lumumba, eram oficiais comprometidos com o Governo belga, e o Governo belga percebendo a existência duma crise autorizou uma intervenção no país.
Você, atento ao texto vai se perguntar, mas…, já não existia a Organização das Nações Unidas [ONU]? A ONU foi criada no final da segunda guerra-mundial. Sim! Existia. E o papel da ONU nesse cenário foi muito triste e lamentável. A ONU, foi absolutamente omissa, foi passiva quando muito não colaborou com os belgas. A ONU aprovou uma resolução em que determinava a retirada dos belgas do Congo, só que, a resolução não previa a condenação da intervenção, e mais… não determinava a data limite para que os belgas deixassem o Congo.
E pasmem-se, a resolução foi endossada por oito [8] países: França, Inglaterra e China ficaram isentos, ou seja, lavaram as mãos em face a política belga para o Congo. Situação muito delicada não demorou para que houvesse uma campanha de difamação, e de diabolização pública de Patrice Lumumba. Lumumba, foi vítima daquilo, que hoje nós conhecemos como fake news.
Como resultado, em Leopoldville, no Noroeste do Congo, panfletos foram distribuídos por sectores neocolonialistas, que diziam, que Lumumba iria vender as mulheres congolesas aos soviéticos, panfletos que diziam, que Lumumba havia recebido milhares de diamantes, e para as mulheres congolesas restariam apenas milhões de lágrimas. Quer dizer, houve um processo brutal, agressivo e belicoso de detractação política e pública de Patrice Lumumba.
Logo, em face a esse estado de coisas, não demorou para que Lumumba fosse vítima duma acção golpista arquitectada pelo próprio Presidente, lembrando que ele era o Primeiro-ministro. O Presidente Kasavubu, promoveu o golpe, que posteriormente foi apoiado pelo Coronel Móbuto. Lumumba foi colocado em prisão privada, foi proibido de deixar a sua Residência, a sua casa era permanentemente vigiada por militares leais a Coronel Móbuto, e também pelos capacetes azuis da ONU.
E… eu sou obrigado a parar um pouquinho para falar sobre a província do Katanga nas mãos do General Moisés Ntombé, fortemente comprometido com interesses neocoloniais. A província do Katanga, foi o berço[baluarte] da resistência no Congo. Tratava-se dum território riquíssimo, uma área economicamente e imensamente importante. Haviam minas em larga escala, haviam duas [2] cidades importantíssimas; a Elisabethville e a Jadotville, e lá actuava uma empresa muito logrativa chamada União Mineira de Alto Katanga.
Essa empresa, olha bem a expressa que vou usar aqui; era a joia da coroa da Sociedade Geral da Bélgica. A Sociedade Geral da Bélgica, era a Associação que controlava a economia do Congo-belga. [70%] da economia do Congo estava nas mãos dessa Associação, e a empresa mais importante da Sociedade era a União Mineira, União Mineira de Alto Katanga. Porquê eu afirmo isso!
De acordo com o Livro «O Assassinato de Lumumba», de Ludo De Witte, um importante sociólogo e especialista do Congo, a União Mineira do Alto Katanga controlava [15.000] quilómetros quadrados em depósitos de cobre. Repare! [15.000] quilómetros quadrados é a metade da superfície da Bélgica, mais do que isso, nos anos [50] a União Mineira era responsável pela produção de [250] mil toneladas de cobre e empregava [20.000] trabalhadores africanos e [2.200] trabalhadores europeus.
Nos anos [50] e eu me apoio Ludo De Witte, a empresa obteve um lucro líquido, que pasmem-se que variou entre [63] milhões de euros, a [102] milhões de euros, e mais de [31] milhões de euros eram depositados em impostos na conta pessoal do General Moisés Ntombé o dirigente local do Katanga, esse dinheiro que deveria ser entregue ao Governo Lumumba.
De facto, os neocolonialistas tinham grande interesses económicos na área e não estavam dispostos em abrir a mão dela, por isso, não toleraram o nacionalismo de Lumumba. A situação era de facto tão delicado, mas num dado momento os golpistas com o apoio do Governo belga, decidiram matar Lumumba. E eu vou tentar detalhar esse processo para você[s].
Patrice Lumumba, tentou evadir-se de sua Residência, foi neutralizado, e barbaramente tutorado. Há uma foto muito conhecida Lumumba sendo puxado pelos cabelos, o braço retorcido, sendo obrigado a olhar para repórteres para ser fotografado daquela forma tão humilhante. Lumumba, teve sua barba queimada, farpas colocadas sobre as unhas, foi obrigado a comer os seus próprios escritos [Documentos].
Durante [35] dias Lumumba, só pôde tomar banho por duas [2] ou três [3] vezes; Lumumba foi copiosamente espancado, mas… a ideia e/ou a decisão de o executar se tornou mais clara com o episodio, que se esboçou em Leopoldville. Houve no iniciou de 19[61] para ser mais exacto na noite de [12] de Janeiro de 19[61], soldados se insurgiram no campo militar a [150] quilómetros de LeopoldVille, esses soldados defendiam melhores soldos, defendiam o novo Governo, e defendiam a libertação de Lumumba, foi um momento muito delicado, pois, os Oficiais que estavam no quartel foram presos e alguns tiveram suas esposas estupradas.
Destarte, a existência de Lumumba, tornava-se ou se tornou cada vez mais intolerável, e nesse sentido os golpistas decidiram mata-lo. Ele foi colocado numa aeronave, e foi levado até Elisabethville em Katanga, que é a sede dos golpistas nesse momento Katanga, tinha rompido com o Governo de Lumumba, e evidentemente não reconheciam e ali na província do Katanga, ele foi informado, que seria executado e Lumumba disse; «que… perante aquelas circunstâncias isso não era problema.» e.… foi fuzilado.
Portanto, essa foi a primeira morte de Patrice Lumumba. A morte física, o fim da existência de Patrice Lumumba. Mas, os golpistas tentaram dissimular disseram, que Lumumba havia fugido, mas tudo ficou claro, que Lumumba havia sido assassinado houve manifestações em diversas partes do mundo, em diversas cidades[capitais]: Viena, Varsóvia, Belgrado, Moscovo e Nova Deli.
Em Nova Deli, manifestantes invadiram a Embaixada belga e destruíram quadros com a imagem do Imperador belga Leopold II, em Varsóvia a Embaixada da Bélgica, também foi invadida, e funcionários locais foram seriamente espancados. Ou seja, houve uma repercussão muito descomunal pela morte de Lumumba. Porquê! Porque Lumumba, Patrice Lumumba e isso tem que estar muito bem claro; era o símbolo ou um dos símbolos maiores da descolonização, uma figura cuja imagem é associada ao anticolonialismo. Muito conhecido no mundo todo como; Ho Chi min, Fídel Castro, Che Guevara, Kwamé Nkrúmháa, Mwalimu Nyerere, Amílcar Cabral... E a CIA, pensou em mata-lo; a CIA tinha plano para mata-lo. A CIA considerava Lumumba, tão ou mais importante, que Fídel Castro, só que, quando foi capturado por Coronel Móbuto, a CIA lavou as mãos e disse: «olha… não precisamos mais nos preocupar com o Patrice.»
Só que, além da morte física como acima atirei, também houve uma segunda morte de Lumumba, e essa reflexão que eu quero deixar para você[s]. Houve o que eu vou chamar a morte da memória de Patrice Lumumba. Quem conhece Lumumba? Você já ouviu falar de Patrice Lumumba? Provavelmente não. Em Moçambique, pouquíssimas pessoas conhecem Lumumba. Eu até ia dizer, que no geral o nosso país não conhece esse importante [líder africano] e isso cabe a nós, lembrar essa[s] figura[s]; cada um de nós lembrar homens como Patrice Lumumba, o homem que deu a sua vida a favor dos seus ideais, em favor do projecto de libertação nacional do Congo e da África.
É importante realçar, que somente na década de 19[70] uma Comissão composta por Senadores dos Estados Unidos [EU] descobriu, que a CIA, a principal Agência de Inteligência dos EU em conjugação com o Governo belga¹ urdiu a deposição e o assassinato de Patrice Lumumba, e dessa forma mais um líder popular africano e mundial foi assassinado, mas… o seu legado de luta continua a inspirando milhões de pessoas, que lutam por um mundo mais justo.
Lumumba, defendia firmemente a unidade dos povos africanos contra o colonialismo acima das diferenças étnicas e tribais e foi capaz de [incorporar] os anseios de liberdade de todos os povos oprimidos do Continente. Por sua acção, tornou-se o grande líder da libertação dos povos africanos e dos ideais de liberdade e integração continental.
E…porque hoje é o dia do aniversario da morte de Lumumba, vou encerrar com uma frase sua, que diz:
«Não estamos sós, a África, a Ásia e os povos livres, e libertados de todos os cantos do mundo, estarão sempre ao lado dos milhões de congoleses, que não abandonarão a luta se não, no dia em que não houverem mais colonizadores e mercenários no nosso país»
n/b:
¹Após a publicação do livro, «O Assassinato de Lumumba» em 20[00], que ainda não tem tradução para o português, a minha edição é espanhola, o Governo belga por meio, do Ministro belga dos Estrangeiros, veio a público reconheceu a responsabilidade da Bélgica e se encarregou de construir um Fundo Patrice Lumumba, que deverá ser usado para o investimento no Congo-Zaire, em cerca de [3,75] milhões de euros.
Manuel Bernardo Gondola
Em Pemba, aos [17] de Janeiro 20[21]