Resumo
Mocímboa da Praia constitui um dos distritos de Cabo Delgado, rico em recursos naturais e banhado por uma costa, fazendo com que maior parte da população pratique a pesca e o comércio. Desde 2017, até aos dias actuais, Mocímboa da Praia tem sido o alvo principal dos ataques terroristas, perpetrados por grupos armados, localmente designados por “Al Shabaab”. As consequências deste fenómeno são incomensuráveis, partindo desde a destruição de infraestruturas públicas e privadas, bem como de casas, saque a estabelecimentos comerciais, mortes e abandono de aldeias inteiras. O presente trabalho de pesquisa, intitulado “Ataques terroristas em Cabo Celgado (2017-2020): as causas do fenómeno pela boca da população de Mocímboa da Praia”, teve como objectivo principal compreender as causas, a evolução do fenómeno e os mecanismos de resiliência, a partir das narrativas da população de Mocímboa da Praia. O trabalho foi de natureza qualitativa, tendo-se recorrido para colecta de dados a entrevista semiestruturada, a análise documental e a observação, actividades que tiveram lugar 4 distritos, nomeadamente: Pemba, Montepuez, Balama e Namuno, onde foi aplicado o snow ball, como técnica de amostragem. Esta técnica permitiu a participação, no processo de trabalho de campo, de 206 pessoas, das quais 94 mulheres, tendo sido realizadas no total 83 entrevistas, subdivididas em 58 individuais e 25 grupais. Os dados da pesquisa permitiram constatar que Mocímboa da Praia tornou-se no epicentro dos ataques terroristas, devido à sua localização geoestratégica, a ocorrência de conflitos étnicos (principalmente entre Makondes e Mwanis), a difusão do extremismo islâmico e a aderência de um número significativo de jovens locais ao grupo terrorista. A maior parte destes jovens foi convencida a se juntar ao grupo sob promessas de melhor emprego, pagamento de valores monetários e bolsas de estudo nas escolas corânicas estrangeiras. Constatou-se ainda que as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique têm feito esforços em manter a ordem e tranquilidade. Neste processo, em alguns casos, a relação com a população não tem sido pacífica, devido ao excesso de zelo que caracteriza as Forças de Defesa e Segurança. Para sua sobrevivência, as populações realizam algumas acções de resiliência, como a fuga para as matas, deslocações para locais considerados seguros e prática de algumas actividades económicas, tais como a pesca, a agricultura e o comércio.
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