Por ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
No nosso caso, a meu juízo, acho que são três [3] factores principais, que facilitam actitudes antiética ou ilegais. A primeira delas é, a impunidade ou a perspectiva de impunidade é facilitadora e quem fez Direito, entende melhor do que eu isso. O que faz com que haja um temor, a prática dum crime, não é a pena, mas ausência de impunidade.
Segundo, uma sociedade omissa, porque, a omissão é, também uma maneira de ser cúmplice e em terceiro lugar, a ausência de algumas ferramentas de convivência, que permitam, que agente bloqueie essa situação. Por exemplo, se você tem de lado, um crime organizado, a organização do poder público, de outro, que nos representa com ferramentas, que possam impedir isso, diminuiríamos e muito, ou seja, não evitaria sempre, porque a possibilidade de liberdade humana permite isso. Mas, impedia àquilo, que Brazão Mazula, chama de uma ética do individualismo exacerbado.
Repare! Se a ética resulta da liberdade que temos, que escolher como queremos conviver é imprescindível, que haja uma formação para isso. E eu penso, que a questão da impunidade, das lacunas de repressão é grave, mas anterior a essa é a capacidade, que teríamos todos de nos reunirmos e definirmos conjuntamente como queremos conviver.
A nossa convivência, não precisa ser da forma que é. Por exemplo, se você pegar um formigueiro, no formigueiro as formigas convivem regidas pela natureza da formiga, e não há o que fazer. Aliás, uma convivência bastante curiosa; quase todas as formigas trabalham o tempo todo, mas duas ou três não fazem quase nada e ficam com tudo.
Mas, é que no caso do formigueiro, não tem outra alternativa é assim, porque a natureza da formiga é assim. Contrariamente, no nosso caso, nós não somos completamente [regidos] pela nossa natureza, ou seja, os nossos papeis sociais são definidos pela nossa inteligência, pela nossa capacidade de argumentação [raciocínio], quer dizer, tudo pode ser diferente do que é, e por isso, tudo pode ser melhor do que é.
Por isso, eu acredito, que a ética é essa busca do aperfeiçoamento da convivência. Mas eu insisto, para isso é preciso que haja formação. Não basta o medo da repressão, não basta a certeza de ser punido, porque a ética não é só isso, uma condenação; a ética é construtiva, a ética é uma janela aberta para o devir, ou seja, é uma perspectiva do amanhã melhor do que hoje.
Um melhor exemplo, imagina hoje, se você vai a um lugar publico e fechado, você raramente encontrará uma pessoa fumando, mas… há [40] anos era contrário. Quer dizer, que a convivência mudou e, se a convivência mudou, vamos admitir não foi, porque um ser divino desceu do céu, com novas tabuas da lei sobre o tabagismo. Na verdade, se a convivência mudou é, porque, nos sentamos em torno da mesa e argumentou, e apresentou as razões para que, a convivência tenha que ser diferente do é.
Não adianta simplesmente denunciar o comportamento do outro como o indevido sem perceber, que a nossa convivência é toda comprometida. Por isso, há necessidade de termos esperança sobre uma ética para o melhor, que por exemplo, nós olhamos para o país hoje, tal igual está, ele foi feito por nós, e pode ser desfeito nesse modo como ele é. E não é uma divindade ou alguém, que veio de outro lugar e fez as coisas como são hoje, é porque é uma escolha nossa.
Quando eu lembro da ideia de fumar ou quem fumava em locais públicos, eu gosto de lembrar. Há [25] anos, apareceu o uso da lei do cinto de segurança para quem ia ao volante e era o projecto do Estado, e havia multa para quem não usasse cinto ao volante. Hoje, você não lembra da multa, você põe o cinto automaticamente, ou tem um amigo, que diz… põe o cinto!!!...
Mas…quem é que tem culpa nisso tudo, que está grassando o país hoje? As pessoas ou o sistema.
Não há dúvidas, que há situações institucionais, que favorecem comportamentos desviantes. Isso é indiscutível! Porém, o último [reduto] da moralidade, é sempre a decisão pessoal no momento de agir. Não me venha com a narrativa de que, o sistema é destarte e, portanto, eu sou conduzido inexoravelmente a um comportamento desviante. Porque, se eu não quiser esse comportamento eu não participo desse jogo, eu viro as costas, eu me rebelo, eu me recuso a fazer. E, portanto, não há sistema, que nos constrangerá com o pretexto de que, funciona para muitas pessoas, que nos constrangerá a agir como não queremos agir.
E depois, as condições institucionais, que favorecem a corrupção podem ser mudadas, devem ser mudadas e sabemos quais são. Ou seja, se o problema da corrupção é tão grave destarte, pois é hora da nossa sociedade, se ver diante desse problema, que ela tome medidas, para diminuir a sua incidência e que essas medidas sejam de cunho; educacional, escolar, pedagógico e institucional.
Háaa…, mas isso é utopia! Ainda bem. Ao contrário, se você imaginar, a utopia é o que nos alimenta. E toda vez, que você, eu e nós, cada um e cada uma achar, que não há alternativa, que assim é, aí, eles nos venceram! A única maneira de não nos vencerem vamos buscar a utopia.
É difícil, é complicado, mas… não é impossível. Nós, não vamos desistir.
Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, aos [24]de Janeiro 20[21]