Por ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Já são [35] anos após a entrevista de Chester Crocker a BBC, na altura Subsecretário do Departamento de Estado norte-americano para os Assuntos Africanos na vigência da Administração Reagan de 19[81] -19[89]. Na ocasião, Chester Croker referiu-se à RENAMO como uma criação de forças estrangeira e a UNITA, claramente como um Movimento Nacionalista.
Com Chester Crocker, ficamos na antecâmara da Administração Reagan¹ sobre os vários assuntos da política internacional americana em relação a África Austral e todas as consequências, que a sua teoria política acarretava. Hoje a conjuntura é diferente, contudo, convido-o a rever a entrevista em reposição:
Pergunta. Senhor Chester Crocker em relação a Moçambique, que soluções contemplam? Um acordo político entre a RENAMO e o Governo de Samora Machel ou esmagamento final dos rebeldes?
Chester Crocker. Há muitos anos, que há problemas por todo o território de Moçambique, como sabe e remontando inclusive aos tempos coloniais. Houve muitas áreas desse país, que não eram governadas ou ingovernáveis; digamos. Parte daquilo a que assistimos é actividade rebelde organizada e mero banditismo e comportamento fora-da-lei nas zonas rurais. Gostaríamos, que pudesse haver uma reconciliação. É evidente, que cabe ao Governo de Moçambique, definir a sua estratégia a esse respeito.
Quanto à possibilidade de negações no actual ambiente não estou muito certo. Mas, apoiaríamos qualquer esforço aceitável por outros de tentar acelerar o processo de obtenção de paz através do diálogo. Mas, cabe a Moçambique decidir.
Pergunta. A mesma solução que para Angola?
Chester Crocker. O Governo de Moçambique, fez um grande esforço nesse sentido ao decidir negociar com a África do Sul, o Acordo de N’komati 1984. Estamos todos a par das imperfeições do modo como esse Acordo foi posto em prática. Gostaríamos de ver ambas as partes cumpri-lo pode ser um passo importante rumo a paz. Mas, cabe ao Governo de Moçambique, decidir que outra medida poderia e poderá tomar nos campos militares, político, e etc…, para tentar levar a paz às zonas rurais do país.
Pergunta. A Administração Reagan ajudará Samora Machel² nisso?
Chester Crocker. Estaremos, é claro, em permanente contacto e diálogo político com o Governo de Moçambique, quanto a todos os pontos de agenda. Estamos a ajudar o Governo de Moçambique no campo económico e continuaremos a fazê-lo. Não nos pediram para influir na política interna de Moçambique. Que fique bem claro! Não nos pediram tal!
Pergunta. Se bem entendi, senhor Crocker, faz uma distinção entre as situações em Angola e em Moçambique. Quais são as razões para essa diferença de apreciações? Considera a UNITA um Movimento Nacionalista, mais autêntico do que a RENAMO em Moçambique?
Chester Crocker. A resistência em Moçambique, tem um passado de empenhamento histórico, que faz parte da sua herança. Há nela elementos emanados de Movimentos Nacionalistas e que representam elementos indígenas, elementos africanos, digamos, mas… há também um passado de envolvimento com o Governo de Portugal, com Governo de Ian Smith, com o Governo da África do Sul, com interesses ex-colónias ou neo-coloniais estrangeiros, que anseiam por uma política de vingança e por inverter a vitória Nacionalista de 1975. Há uma combinação muito estranha e complexa de interesses e relações, que nos levam a ter umas interrogações fundamentais quanto ao significado real da resistência.
O caso da UNITA é muito diferente. Sabe-se, que é claramente um Movimento Nacionalista, não foi criado pela África do Sul nem por terceiros, é chefiado por um homem, que deixa impressionados todos quantos o conhecem e apoiam. E são muitos.
Dito isso, não desejamos ver uma vitória militar unilateral de qualquer deles³, achamos que deve haver uma reconciliação política numa altura e num modo aceitáveis para todo o povo de Angola.
n/b:
¹ O Presidente Ronaldo Reagan, foi sempre um anti-comunista, logo, foi eleito como tal. ²A [4] de Março de 19[81], seis cidadãos dos EUA eram expulsos da República Popular de Moçambique, acusados de pertencer a uma rede de espionagem da [CIA]. Chester Crocker, veio a correr a Maputo no mês seguinte exigindo pedido desculpas [explicação] por parte do Governo Popular de Moçambique, não conseguiu e nem foi recebido, porque, Samora todo chateado mandou-o passear. Mas…, claro que houve retaliação. Planos para ajuda alimentar a Moçambique, foram todos congelados quando a rede de espionagem da [CIA], foi exposta a descomunal humilhação pelo [SNASP]. Além disso, o posto de embaixador americano, que já estava vago na altura das expulsões dos agentes levou mais quatro [4] anos para ser preenchido. ³ Em Angola, aconteceu o que Chester Crocker, não desejava. O Savimbi, ostracizado e abandonado por todos, sem apoio dos americanos, era abatido em combate em Moxico e o seu corpo exibido como símbolo de vitória. Por último, a UNITA era seriamente esmagada militarmente pelo MPLA.
Texto e arranjos: Manuel Bernardo Gondola
A partir de Maputo, aos [19] Janeiro 20[21]