Por Francisco Nota Moisés
Gratíssimo, caro Gil, por ter colocado o artigo* sobre o seminário de Zóbuè e a passagem da escrita por um antigo administrador sobre a vida durante o conflito entre os guerrilheiros e as tropas portuguesas na região de Zóbuè. Essa bela narrativa com muito humanismo excepcional colocou todo o cenário da região de Moatize e Zóbuè perante os meus olhos. Obviamente, a situação que o antigo administrador português narra aconteceu depois da situação que vivi antes da guerrilha chegar na região de Zóbuè e quando somente havia zuzuns sobre a re-entrada de terroristas na região de Zumbo depois da sua primeira tentativa de começar a operar em Tete ter sido abafada pelas forças portuguesas.
Durante a minha estadia no seminário, a instituição era gerida por padres brancos europeus, agora conhecidos como missionários para-Africa, uma congregação agora com muitos padres africanos ou pretos de batinas tradicionais brancas com rosários pendurados nos pescoços dos Padres Brancos. O seminário a 4 kms ao norte da vila de Zóbuè conheceu uma mudança inesperada quando, até agora não se sabe quem decidiu, se foi a hierarquia da Igreja Católica em Moçambique ou foi o governo de Salazar, que os padres brancos fossem substituídos por padres jesuítas portugueses que lecionavam na escola normal de Boroma, alguns 20 kms ao norte da cidade de Tete onde passei algumas férias em 1965 depois dos exames da 4a classe no seminário de Zóbuè.
Havia na vila de Zóbuè mesmo uma missão católica gerida por outros padres brancos. Quando os padres brancos do seminário foram retirados, não mexeram nos outros padres brancos da missão de Zóbuè que se ocupavam de missionar na bela região montanhosa de Zóbuè ao norte e na zona baixa ao sul e ao oeste.
Os padres brancos da missão de Zóbuè, penso eu, saíram daí, quando a congregação deles e a dos Padres de Burgos espanhóis que missionavam também na região de Tete em tais regiões como Moatize e Marara entre outras se retiraram de Moçambique segundo eles, ou foram expulsos pelo governo português segundo Lisboa, depois de protestarem contra a situação militar portuguesa contra civis nas zonas de guerra em Tete.
Penso que depois da retirada dos padres brancos da região de Zobué, os jesuítas não tinham números suficientes para terem padres no seminário de Zóbuè e na missão de Zobué, pelo que não me admiro que o reitor do seminário passou a exercer a dupla missão de reitor do seminário e de missionar na região de Zóbuè, segundo a narrativa do ex-administrador, o que não acontecia durante o tempo dos padres brancos. Havia, todavia, um pequena capela por volta de meio quilômetro ao sul do edifício do seminário para os crentes naturais que viviam perto do seminário onde um padre do seminário, o alemão Franz Schupp, durante lições no seminário gostava muito de falar o sena que rapazes não senas compreendessem ou não. Ele tinha vivido na região de Inhangoma, Mutarara, Tete, durante 25 anos e dominava o sena por ter conceitos que não existiam nas línguas europeias.
Quando me deparava com ele, ficava sempre satisfeito quando o cumprimentava e falava o sena com ele, coisa que não era admitido os estudantes falarem as suas línguas maternas no seminário, excepto no primeiro domingo e o último domingo do mês. Por estarmos a falar português, muitos rapazes se desactualizavam nas suas línguas maternas. O padre Schupp, mais sena do que alemão na sua maneira de agir, veio mais tarde a falar o nhanja local de Zóbuè e dizia a missa para os naturais naquela capela aos domingos.
Os naturais e suas mulheres e raparigas não eram permitidos entrar no seminário que era para o Demónio tentador naos entrar nas nossas cabeças. Não havia habitações dos naturais dentro de um a dois quilómetros em redor do seminário.
*Vejam aqui http://macua.org/padres/postozobue.html