É possível que a Radio Tanzânia transmitindo de Dar Es Salaam já tivesse anunciado a morte de Eduardo Mondlane antes das 20 horas do dia 3 de Fevereiro de 1969, quando ouvi aquela emissora em swahili com o anúncio da sua morte como a sua mais importante informação do dia com as seguintes palavras em Swahili:
"Dar Es Salaam -- Eduardo Mondlane, kiongozi wa chama cha wagombea uhuru Msumbiji ambacho kiko na macao chake kikuu hapa mjini Dar Es Salaam ameuwawa leo hapa Dar Es Salaam kutokana na mlipuko wa bomu ilikuwa kwa barua aliopokea kwa posta. Serikali ina chunguza kisa hicho ila ipate kujuwa zaidi (Dar Es Salaam -- Eduardo Mondlane, o líder da organização engajada na luta pela libertação de Moçambique com a sua sede em Dar Es Salaam morreu hoje duma explosão de bomba contida numa carta que ele recebeu nos correios nesta urbe. O governo está a investigar para apurar mais detalhes sobre o acontecimento.")
A informação paralisou-me antes de me perguntar a mim mesmo se estive a dormir e a sonhar ou se estive mesmo acordado e a respirar e se o que tinha ouvido era coisa real. Depois de me assegurar que não estive a dormir, tentei digerir o impacto da informação e fiquei assentado para ouvir o resumo das noticias no fim do boletim que repetiu a informação como acima dada. Respirei profundamente antes de sorrir visto que se tratava dum homem que eu não gostava e que não gostava de mim -- portanto dum meu inimigo.
Embora estivesse escuro fora da palhota onde ouvi a notícia visto que campo de palhotas não tinha luzes, fui na mesma a algumas palhotas onde alguns de nós exilados de Dar Es Salaam residiam e surpreendi-os com a informação que também não lhes entristeceu; e antes pelo contrário, o evento alegrou-nos até que alguns refugiados foram informar ao comandante tanzaniano do campo que alguns dias depois convocou uma reunião com alguns de nós para nos reprender severamente.
"Nunca na história da Tanzânia houve um incidente de uma bomba matar alguém e vocês se alegram com isto? O vosso comportamento é muito repreensível," disse o homem.
Não era verdade que a explosão que matou Mondlane era o primeiro evento duma bomba a explodir e a matar alguém no território tanzaniano. Aviões portugueses largavam bombas sobre o pais dele e matavam soldados e civis tanzanianos. Mesmo o campo com as suas aldeias de palhotas chamadas Cabo Delgado, Zâmbia, Mahuta e Chilala eram potenciais alvos que aviões portugueses tinham sobrevoado, por volta de quatro vezes quando eu e os meus colegas estivemos la. Nunca atacaram o campo, o que poderia matar centenas de refugiados, se o tivessem feito, mas uma ou duas vezes largaram panfletos avisando os refugiados para não andarem de mãos dadas com os terroristas da Frelimo, que era para não sofrerem represálias.
Nenhum de nós lhe respondeu antes dele dizer que o que nos disse era tudo que ele tinha a nos dizer. Saímos da reunião sem dar importância às palavras dele. E com o tempo o nosso interesse na morte de Mondlane desapareceu e raramente falávamos mais daquilo.
É possível que os jornais em Dar Es Salaam aos quais não tínhamos acesso tivessem dado alguns detalhes sobre a morte de Mondlane mais do que ouvimos da radio da capital tanzaniana. Mas tomando em conta que o governo de Julius Nyerere controlava toda a informação, não seria de admirar que o que a rádio local disse era quase toda a informação que os residentes da urbe tinham, para talvez além de artigos e editoriais condenando o ataque contra Mondlane.
Foi a Frelimo que acusou a Pide de ter estado por detrás do ataque contra Mondlane sem fornecer provas ou evidência.
Depois da rádio ter dito que Mondlane buscou a encomenda dos correios, surgiu depois uma nova informação alegando que Marcelino dos Santos foi na verdade quem tomou a encomenda dos correios e a entregou a Mondlane que depois a abriu e matou-o na ausência do Marcelino dos santos.
A informação de que a encomenda tinha chegado no escritório da Frelimo donde Mondlane a e matou-o ali veio mais tarde, depois da independência de Moçambique, que era para transmitir uma falsa informação aos moçambicanos, que não deviam saber que ele morreu em casa duma amiga americana. Mais tarde depois da independência, Joaquim Chissano, talvez que descuidou ou talvez que queria mesmo falar a verdade, coisa que nunca faz, declarou que Mondlane tinha morrido na casa da Betty King. A sua declaração enfureceu Marcelino dos Santos cujo guarda de costa ameaçou e maltratou um correspondente do jornal Canal de Moçambique que tentou lhe aproximar para ele confirmar ou desmentir o que Chissano tinha dito.
Uma outra informação que foi propalada em Nairobi pelo falecido Leo Milas, um africano-americano que foi um amigo de Mondlane em Los Angeles nos anos de 1950 e que Mondlane trouxe para a Frelimo alegando que Milas era um moçambicano e o caso causou muitos problemas antes do Milas ser expulso ou se ver forçado a sair da Frelimo visto que o acusavam de ser um agente da CIA. Ele disse que o engenho explosivo tinha sido colocado no sofá onde Mondlane gostava de se sentar quando ia se repimpar na casa da americana Betty King e que o engenho explodiu quando ele se assentou nele. Se Milas inventou esta versão ou ouviu-a de fontes que lhe eram fidedignas como a CIA, ninguém pode dizer.
A explosão demoliu por completo a residência da Betty King que não estava na sua casa na altura. Mondlane tinha a chave de entrada a sua casa. Aquele dia a polícia tanzaniana agarraram na Betty King, no Joaquim Chissano, no Marcelino dos Santos, e diz-se também na Janet Mondlane, entre os lideres da Frelimo que estavam em Dar Es Salaam. Não tocaram em Uria Simango como então vice de Mondlane, que podia ser suspeito de estar por detrás da explosão. Devia ter havido razoes para a polícia deter e chamboquear a Betty King, Chissano e Marcelino dos Santos, deixando intacto Uria Simango e talvez ninguém saberá porque a polícia agiu daquela forma.