Este é o último dos artigos sobre Eduardo Mondlane, o primeiro dirigente da Frelimo, que faço a pedido de pessoas que querem saber algo sobre o homem e sobre o chamado Triunvirato ou seja a liderança que devia ter sido de três dirigentes; Uria Simango, Samora Machel e Marcelino dos Santos. Como se sabe Uria Simango, um dos verdadeiros fundadores da Frelimo foi morto em 1977 por ordens de Samora Machel e dos seus colegas, Samora Machel morreu em Mbuzini na Africa do Sul quando o seu avião presidencial se despenhou depois de perder a direção para Maputo quando regressava depois duma reunião na Zâmbia com alguns dirigentes da África austral, e Marcelino dos Santos, o último do triunvirato em vida e na morte, desapareceu algum tempo atrás depois duma enfermidade degenerativa que o paralisou física e o emudeceu.
Alguns anos antes da sua morte, os seus colegas organizaram uma festa para honrá-lo. dos Santos, então numa cadeira de diminuído físico e incapaz de falar, chorou de alegria. Tive pena dele dessa vez, mas não me arrependi de tê-lo batido, pontapeado e picado com uma lapiseira em Dar Es Salaam devido à energia que tinha na altura como um jovem que batalhava contra um monstro.
Eu e outros jovens estudantes tínhamo-lo cercado depois duma reunião que terminou mal com os estudantes a cercá-lo a ele e Uria Simango* depois dos dois, enviados por Eduardo Mondlane, terem vindo ao então Instituto moçambicano para nos dizer que a escola estava fechada e que devíamos rumar para Nachingwea, o campo de treinos da Frelimo. Nenhum estudante acatou a ordem. Fomo-nos queixar ao vice-presidente da Tanzânia a quem dissemos que os lideres da Frelimo queriam nos matar.
Pela tarde do mesmo dia, ouvimos na Rádio Tanzânia em Dar Es Salaam que o gabinete do Rashid Kawawa tinha anulado a ordem dos dirigentes da Frelimo, ordenando os estudantes a permanecer no instituto. Foi uma derrota dos líderes da Frelimo, depois de termos gritado, puxado, dado socos, porradeado e pontapeado Uria Simango e Marcelino dos Santos. Durante o cerco cada um dos estudantes em redor, puxava os para o seu lado. Os homens estremeciam. Um estudante retinha Uria Simango, retido pela barba por um estudante, implorava-nos, dizendo: "não me matem, não me matem" e Marcelino dos Santos rogava com muita nervosia e suor, dizendo: "deixem-me ir embora."
Quando em Julho de 1968, os líderes da Frelimo vieram a repetir a ordem para nos evacuar para Nachingwea, fizemos um protesto em frente do gabinete de Rashid Kawawa que ordenou a nossa detenção e encarceração na prisão central de Dar Es Salaam por três dias alegadamente "para a nossa proteção visto que o governo tinha informação de que a liderança da Frelimo tinha um plano para nos eliminar." Três dias depois, o governo nos transportou para o campo de refugiados das Nações Unidas de Rutamba no distrito de Lindi na província de Mtwara para o sul da Tanzânia que era para nos separar dos líderes da Frelimo que queriam acabar connosco e que nós também não os pouparíamos, se os pudéssemos capturar.
A guerra entre nós e os dirigentes da Frelimo estava declarada. E era uma guerra sem piedade.
A vida em Rutamba era uma de ociosidade, dependendo de ajuda alimentar e vestuário da ONU. Não havia escolas para nos, biblioteca, e empregos que não havia para os próprios tanzanianos. Depois dum ano começamos a rumar para o Quénia, para onde outros estudantes e desertores da Frelimo tinham ido muito antes do grande tumulto de 1968 contra Mondlane e a sua liderança na Frelimo. O Quénia protege-nos contra os insultos da Frelimo e mesmo mais tarde da própria Tanzânia quando a socialista Tanzânia e o capitalista Quénia se insultavam. A verdade era que quando a Tanzânia se empobrecia e estagnava embora com vestígios de desenvolvimento feito pelos alemães antes da Primeira Guerra Mundial e o pouco que os britânicos fizeram durante os 43 anos da sua colonização (1918-1961). O Quénia avançava e industrializava-se com um dinamismo e passos incríveis e era um país livre com um governo que não controlava os cidadãos como o regime do Grande Irmão de Julius Nyerere na Tanzânia fazia.
Quanto a oposição a Mondlane, no princípio os oponentes só queriam que ele se safasse da liderança e regressasse para os Estados Unidos. Ninguém lhe queria o mal que veio a lhe acontecer. Por razões difíceis de compreender, Mondlane estava colado no poder como qualquer outro ditador ou tirano com sede de poder. É possível que Mondlane temia que se abandonasse a liderança da Frelimo, os americanos que o tinham pressionado para ir estar na Frelimo na Tanzânia para ser "os nossos olhos e ouvidos" lhe retirariam o apoio financeiro e ele teria que regressar aos Estados Unidos para refazer a sua vida, o que não lhe seria tão fácil. Possivelmente, ele tinha também medo de perder o dinheiro para a Frelimo que ele recebia da Organização da Unidade Africana e doutras fontes socialistas como a Suécia.
Preferiu permanecer no poder mesmo quando pressentia a morte a lhe aproximar, como ele próprio declarou a um jornal tanzaniano em 1968, e sabia que os militantes não gostavam dele e que havia grupos de pessoas macondes que andavam armados de facas à procura dele para matá-lo e um deles veio a invadir o escritório da Frelimo no dia 11 de Março de 1968. E assim ele continuou como líder até que alguém achou fácil assassina-lo à distancia com um engenho explosivo colocado num embrulho que explodiu quando ele o abria e o despedaçou.
Que alguns dos seus oponentes se alegraram com a sua morte, uma coisa que não devia ter acontecido, aquilo foi o espirito do tempo movido por um ódio contra ele por pessoas que acreditarem que ele era traidor, ditador, assassino e a causa de muitos problemas que assolavam a Frelimo.
*Não gosto da palavra herói, um termo que desapareceu das democracias visto que a palavra divide as pessoas e no caso especial de Moçambique a Frelimo usou e usa este termo para justificar os seu caracter assassino e os seus crimes contra a humanidade. Se digo que Mondlane não foi um nacionalista, por outro lado, posso dizer que Uria Simango, um ndau, foi um grande nacionalista apesar das suas fraquezas morais e de ter sido um vacilante que não gostava do Mondlane e da sua companhia dos sulistas, mas que, por medo deles, os temia e fazia o que eles lhe ordenavam fazer.