Por Edwin Hounnou
O que nos trama mesmo tanto como país quanto como povo é a impunidade que grassa na nossa sociedade. Ninguém ousa jogar pedras contra ela. A corrupção está com raízes bem fundas na nossa sociedade. O “refresco" que o povo é exigido por agentes de autoridades é um pequeno sinal da grande corrupção . A recolha de bebidas alcoólicas nas barracas pela polícia é uma borbulha de uma grande doença que tomou conta do país. Os órgãos de justiça que deveriam fazer valer a lei estão sufocados pelo poder político, comem e dorme na mesma cama com o governo. Os grandes corruptos, que são renomados, não são capturados para responderem pelos crimes que cometeram contra a economia nacional, defraudando até as instituições internacionais de finança.
Enquanto persistir o binômio Partido-Estado, a luta contra a corrupção será uma miragem. Foram as instituições estrangeiras que nos alertaram do rombo económico da gatunagem. Os nossos chefes, em uníssono e de pés juntos, juravam, pelo que há de mais sagrado na face da terra, que se tratava de uma conspiração contra a “pátria-amada”. Não foi preciso tanto tempo para a verdade ser desvendada e duvidamos da seriedade das prisões que se seguiram. Um dia, ouviremos que os presos voltaram para as suas casas com as contas bancárias abarrotadas de dinheiro ilícito e o povo a transpirar sangue para pagar o que os outros se apoderaram como troféus.
Se o nosso país continuar a ser dirigido por indivíduos comprometidos com a corrupção, todo o discurso que se possa fazer de luta contra este mal não passará de palavras ocas para entreter um público distraído porque, em nenhum momento, a corrupção é combatida por gente corrupta, por aqueles que a fomentam e dela tiram grandes proveitos económicos, financeiros e de bens materiais. O povo tem o direito de se indignar e tomar atitudes contra os corruptos. O mesmo ódio visceral que o povo tem alimentado em relação aos insurgentes que, nos dias que correm, matam e devastam a província de Cabo Delgado deve ser da mesma intensidade contra os gatunos que, através da roubalheira, da corrupção e das dívidas ocultas, travam o desenvolvimento socioeconómicos do nosso país porque todos eles são inimigos jurados do povo.
A corrupção não é, e nunca foi combatida pelos que gostam que ela prevaleça, porque esses querem continuar a festejar com os fundos públicos, quer dizer, eles comem e o povo paga a factura. A corrupção é combatida pelos que, de coração, desejam o bem-estar do seu povo e almejam o desenvolvimento socioeconómicos do país. A corrupção não é combatida por discursos bonitos, bem elaborados, com um aparente encadeamento logico, mas por acções concretas de investigação criminal e aplicação integral da lei para responsabilizar os implicados. Só os que têm as mãos limpas de dinheiros, de crimes de sangue e de bens públicos podem opor-se à corrupção.
A semana passada foi rica em notícias dando conta de como as elites do partido governamental contrataram as dívidas ocultas no valor de 2.2 biliões de dólares em nome da defesa do país quando, de facto, eles queriam o dinheiro para serem os novos ricos do país, a tal nova burguesia nacional. Num país que se conduz pela honestidade, o dinheiro roubado não torna ninguém burguês, porém, gatunos é o que eles são.
A cartilha comunista ensina que o burguês é ladrão que vive chupando o sangue dos trabalhadores. Isso não é uma grande mentira, desmentido pelos factos reais. O verdadeiro burguês trabalha de sol a sol. O burguês trabalha para ter dinheiro. Quem rouba é o endinheirado, como os nossos novos ricos porque eles não podem justificar a proveniência do dinheiro e dos bens materiais que possuem e exibem. O alto nível de vida que levam os seus meninos não tem qualquer fundamento.
Iskandar Safa, o patrão da Privinvest, em resposta ao processo interposto à Procuradia-Geral da República, no Tribunal Supremo da Justiça de Londres, voltou a citar os nomes das pessoas que se beneficiaram das dívidas ilegais que derrubaram a nossa economia e atiraram o país na sarjeta, no valor de 2.2 biliões de dólares. Para enganarem o povo, compraram os barquinhos que estão ficando enferrujados no Porto de Pesca de Maputo e outros despacharam para o Porto de Pemba. Em sua defesa, Iskandar Safa diz que o Presidente Filipe Nyusi, conhecido como New Man, New Guy, Nuy ou Nys, candidato da Frelimo às presidenciais, nos anos de 2013-2014, recebeu um milhão de dólares para apoiar a sua campanha e uma viatura de marca Land Cruiser, equipada com símbolos e logotipos da Frelimo para a sua campanha. A Frelimo recebeu 10 milhões de dólares e o então ministro das Finanças, Manuel Chang, que assinou as garantias do Estado para avalizar as dívidas, recebeu de “mata-bicho" sete milhões de dólares.
A lista dos funcionários do Estado moçambicano é longa e inclui amigos lobistas. É um caso em que até dirigentes dos serviços secretos também se metem na roubalheira. O então director-geral do SISE (Serviço de Informação de Segurança do Estado) Gregório Leão e o ex-director da contra-inteligência económica, António Carlos do Rosário, aquele valentão que expulsou do seu gabinete os agentes da KROLL, Associates UK, uma empresa britânica que foi contratada para investigar os contornos das dívidas ocultas e Moçambique aceitou os termos em que as investigações iam decorrer. Afinal, não se tratava de atitude de coragem nem de acção de patriotismo. Era uma manobra para intimidar os investigadores da KROOL para que parassem de vasculhar a gatunagem em que ele próprio esteve, também, envolvido. É a esperteza do galo que enfia a cabeça na areia, julgando que está escondido dos seus inimigos. Agora, já sabemos quase tudo da jogada dos lampiões que derrubaram a nossa economia e nos deixaram na penúria.
O Presidente Filipe Nyusi não pode continuar em silêncio enquanto o seu nome é jogado na lama e a mensagem que fica é de que o nosso presidente, está implicado nas dívidas odiosas. É legítimo que as pessoas perguntem se o nosso país está a ser governado por bandidos. Uma gang de corruptos que se aproveitaram do cargo público para se beneficiarem. O mesmo questionamento é válido para a Frelimo que recebeu 10 milhões de dólares para ganhar as eleições e passar para frente de partidos que concorreram às eleições de maneira honesta e sem ajuda dos inimigos do nosso país.
Quem com inimigo come, inimigo é assim que se diz. A Frelimo é um partido de fraudulentos e, acreditamos nós que se isso fosse com um partido da oposição, os partidarizados CNE, o STAE e o Conselho Constitucional e outros “igualhagens” teriam, de imediato, invalidados os resultados atribuídos e os seus dirigentes seriam conduzidos para BO para nunca mais voltarem a ver a luz do Sol. Mas como isso aconteceu com o partido de vanguarda que “tudo faz e nada lhe acontece", ninguém ousa abrir a boca e as instituições de justiça dizem, numa só voz, “Frelimo hoyéee" e os corruptos continuam na boa vida.
Porém, eu tenho vergonha de ter um presidente envolvido nas dívidas ocultas e agora posso entender a razão do “marca-passos". Se entenderam não julgar, que libertem os presos e parem de intrujar o povo com piripiri que não pica. O povo quer ser governado por gente séria e comprometida com o futuro do país e não com corruptos que só olham para suas empresas e negociatas usando os cargos que ocupam. Isso nos preocupa porque o país tem tudo para se reerguer mas estamos atolados no lamaçal da corrupção.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 10.02.2021