EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (51)
Desculpa dizer-lhe isto, Presidente. Desculpa qualquer coisa mesmo. Mas o senhor continua de cócoras. Era esperado, a esta altura, que assumisse uma posição vertical.
Passam mais de cinco anos desde a sua estreia. Mas se parece ainda com um novato. Não evolui. Na História, momentos extremos enfrentados por nações costumam ser momentos ímpares para que determinadas figuras ascendam ou se consolidem como grandes líderes políticos.
O exemplo clássico são momentos de guerra entre povos. Temo-la. Dos terroristas que devastam Cabo Delgado. Mas, por ora, gostava de abordar esta guerra peculiar, contra um vírus mortal e muito pouco conhecido, o chamado “inimigo invisível”.
Em momentos críticos como esses, que demandam sacrifícios colectivos e mobilização nacional, características individuais de governantes tendem a realçar-se, positiva ou negativamente. Nessas horas, líderes naturais aparecem, sobressaem, destacam-se. Separam-se os meninos dos homens.
Pois bem, no caso concreto, a situação-limite defrontada por Moçambique tem servido para acentuar características já conhecidas acerca de Filipe Nyusi e para sublinhar uma irrefutável constatação: o nosso Presidente é tudo, menos um verdadeiro líder. E, definitivamente, não é a pessoa mais talhada para liderar e guiar o País numa situação de calamidade pública.
Na verdade, nesta crise sanitária, as características atávicas do Presidente que têm sido realçadas são precisamente as últimas que alguém espera identificar num líder nato: infantilidade e irresponsabilidade a níveis boçais.
O Presidente quer brilhar sozinho. Quer crescer sozinho como aquele capim que mandou cortar afinal era inveja? O Presidente não tem e nunca vai ter respostas para tudo. Ou melhor: um bom líder não é quem tem as repostas. Talvez até o que lhe devia engrandecer são as perguntas certas.
Quando se é Presidente, não se é necessariamente especialista em todos os temas de que tem de tratar, mas precisa fazer as perguntas certas e construir uma equipa para o apoiar. Nessa equipa tem que ter, obrigatoriamente, pensares diferentes. Caso contrário, vamos chamar a isso de crentes de uma igreja. Todos aceitam aquilo que o pastor diz.
O Presidente quer brilhar sozinho. Mesmo quando está a entrar no mato. Talvez até seja por isso que se fez cercar de alguns funcionários da maledicência pagos e promovidos para inventar ódios e diabolizar os que têm a ousadia de pensar diferente.
Bastou o ex-ministro da Saúde, Hélder Martins, criticar a forma como o Governo está a gerir a pandemia de Covid-19 para os rafeiros serem soltos. Isto não é construir um país. Aceitará se lhe chamarmos de Kim Jong-un? De resto têm a mesma estatura física.
Pintar-lhe-emos com batom para disfarçar a cor da pele! A esta altura de pandemia e devastadores ataques em Cabo Delgado, mais do que nunca seria reconfortante podermos identificar sensatez no sujeito sentado à cabeceira da mesa na sala de tomada de decisões. Mas no lugar de um verdadeiro líder, temos Filipe Nyusi.
Um Presidente cujo comportamento insiste em se guiar exactamente pelas características opostas às que seriam desejáveis e, mais do que nunca, bem-vindas. Este povo está cansado de engolir sapos, de ser empurrado para o sofrimento.
Quem disse que o moçambicano não merece outra sorte? No lugar de um ponto de equilíbrio, temos um governante que parece apostar no caos, ou flertar com ele.
O sofrimento dos moçambicanos é real. A liderança de Filipe Nyusi, não!
DN – 26.02.2021