Conselho Islâmico de Moçambique
SECRETARIADO-GERAL
Resposta do Conselho Islâmico de Moçambique, ao artigo publicado pelo Canal de Moçambique, na edição de 17 de Fevereiro de 2021.
O Semanário Canal de Moçambique publicou na sua edição de 17 de Fevereiro de 2021, sob o titulo:
“Director Executivo do Clube de Lisboa, diz que a guerra em Cabo Delgado não começou por causa do gás”.
Nele o senhor Fernando George Cardoso fez graves acusações e quis explicar que a causa da guerra está ligada ao envio dos moçambicanos para estudarem nas escolas Quránicas nos anos 80. Portanto atribuiu a causa a religião islâmica.
Segundo ele, no tempo de Samora Machel fez se um acordo confidencial com o Conselho Islâmico de Moçambique, e procurou-se saber se o Conselho Islâmico de Moçambique poderia receber verbas provenientes da Arabia Saudita, e Samora aceitou que o Conselho Islâmico recebesse essa verba, que enviasse as pessoas para estudarem com uma condição que era a de não se meterem nos assuntos políticos internos de Moçambique.
Com isto o senhor Cardoso acha que fez grandes revelações!
Perguntamos quem é que fez esse acordo secreto com o Conselho Islâmico de Moçambique?
Desafiamos ao senhor Cardoso a indicar-nos o local onde se firmou o tal acordo confidencial e a mostrar-nos a sua cópia à qual só o senhor teve acesso.
Quem recebeu essas verbas da Arabia Saudita e qual foi a sua quantia?
Parece-nos que o senhor Cardoso está completamente alheio da história e realidade de Cabo Delgado.
No tempo colonial os muçulmanos, devido a intolerância religiosa, estavam banidos de estudar o seu livro sagrado Al-Qur´an, e eram obrigados a converterem-se ao cristianismo e terem nomes não islâmicos.
Depois da Independência, a situação mudou, e eles sentiram-se com direito e, livres de estudar o seu livro sagrado, Al-Qur´an.
Mas porque não havia escolas nem institutos Al-Quránicos, porque no passado era expressamente proibido pelo Governo Colonial Português, foram estudar fora dos país.
Será que isso é um crime? Isso foi um dos ganhos da Independência, pois a Constituição garante a liberdade religiosa.
O Al-Qur´an é o livro sagrado dos muçulmanos, e consta nele:: “ Quem matar alguém, será como se tivesse morto toda humanidade, e quem o salvar, será como se tivesse salvo toda humanidade.” Cap. 5 Vers. 32.
Como então alguém pode matar outrem e ainda dizer que é muçulmano seguidor do Al-Quran?
Se existe alguém a fazer isso, esse não representa os muçulmanos nem os ensinamentos do Al-Quran.
De salientar que os países para onde os moçambicanos foram estudar o Quran, tais como Arabia Saudita, Egipto, Argélia, Marrocos, Líbia etc. são os grandes aliados e apoiantes de Moçambique desde o tempo da Luta de Libertação Nacional, e todas as escolas Quranicas lá são do estado.
Apesar de existirem em Moçambique muitos seminários e institutos bíblicos, desde o tempo colonial, mesmo assim os que professam o cristianismo vão ao exterior buscar estudos bíblicos. Achamos que é direito deles.
O que está a acontecer em Cabo Delgado nada tem a ver com a religião, procurai outros motivos, políticos, económicos etc. é um erro grave querer associar isso ao islão.
Existe também a versão cristã dos ISIS e de outras religiões por exemplo o Exercito de Resistência do Senhor no Uganda, que violou e matou, segundo as Nações Unidas, mais de 100.000 pessoas, durante os últimos 15 anos.
E Fizeram tudo isso para estabelecerem as leis bíblicas no Uganda, pois se consideravam uma organização cristã.
Na República Centro Africana, as milícias cristãs destruíram todas as mesquitas e segundo os relatos das Nações Unidas, os muçulmanos enfrentam uma limpeza étnica, com relatos de que os cristãos estão a canibalizar os muçulmanos.
George Bush, ex-presidente dos Estados Unidos da América, era um dedicado cristão, disse que foi Deus que disse lhe para invadir o Iraque onde segundo algumas estimativas foram mortos um milhão de pessoas por causa da guerra injusta.
Temos muitos outros exemplos de terrorismo e de atrocidades cometidas por alguns em nome das religiões, mas será injusto e errado atribuir isso a religião, qualquer que seja.
Criminosos existem em todas as religiões por isso, não aceitamos que se associe o que está acontecer em Cabo Delgado ao islão. Aconselhamos ao senhor Cardoso a corrigir o seu pensamento a deixar a mentalidade obsoleta da época das cruzadas. Mas também compreendemos que faça parte da estratégia de repetir várias vezes a mesma mentira para que ela se torne verdade. Antes de si já vários pseudo académicos daqui e daí fizeram referência que os grupos terroristas eram constituídos por estudantes do Conselho Islâmico que estudaram em países Árabes. Desafiámo-los à mencionar nome de um só e até agora ninguém o fez.
Mas, infelizmente, continuam à escrever sempre que podem nos jornais, repetem esta acusação maliciosa nas televisões e nos webinars realizados por algumas Ong’s e empresas. É caso para perguntar a quem o senhor está prestando serviço e a esses pseudo académicos também. Porque é preciso mesmo muita coragem, para dizer tamanhas barbaridades.
Por outro lado o senhor Fernando Cardoso deixa passar mais de 3 anos para anunciar tão “importante” informação, deixou que milhares de famílias fossem barbaramente expulsas das suas terras, milhares de mulheres, idosos e crianças serem assassinadas, Incontáveis infra estruturas e bens públicos e privados serem destruídos e muito mais situações negativas para o pais acontecerem e só mais de 3 anos depois vem fazer “tão importante revelação”?
Calou-se o tempo todo porquê?
Estava à espera que todas as desgraças acima descritas acontecessem? Calou-se por uma questão de estratégia? Alguém o mandou dizer todas essas barbaridades agora? Qual é o seu real objectivo? Beneficiar as populações deslocadas?
Ressuscitar os mortos vitimas daquela Barbárie? Ajudar Moçambique?
Não teria sido mais sensato, se de facto ama e gosta do nosso pais, fazer essas revelações desde que tomou conhecimento deles no tempo do saudoso presidente Samora Machel para que às autoridades competentes tomassem as devidas precauções?
Qual é o seu objectivo real, senhor Fernando Cardoso?
Maputo, 22 de Fevereiro de 2021
Pela Direcção do Conselho Islâmico de Moçambique
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 24.02.2021