É urgente que o Governo da Frelimo responda ao povo moçambicano se há ou não há vontade política para se reestabelecer a paz em Cabo Delgado. E esta é uma questão que deve ser respondida, não só com retórica em comícios populares mas, sim, com acções concretas visíveis a olho popular.
Dizemos isto porque diversos relatórios, sobre a insurgência em Cabo Delgado, revelam que as chefias podem ser estrangeiras, mas há muitos jovens locais arregimentados e outros tantos oriundos das províncias vizinhas de Nampula e Niassa.
São maioritariamente jovens desempregados, que não têm acesso a educação de qualidade ou oportunidades de sustento e, sendo assim, a radicalização é sempre uma opção. Por exemplo: o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) advertiu esta semana sobre a necessidade urgente de uma nova abordagem à crescente crise humanitária na província de Cabo Delgado.
Ainda de acordo com o ACNUR, os deslocados internos aumentaram de cerca de 70.000 há um ano para perto de 700.000 hoje e devem chegar a um milhão em Junho.
No entanto, o grosso desses deslocados vive em reassentamentos com condições primitivas. As pessoas precisam desesperadamente de abrigo, comida, roupas, bem como água e saneamento.
O Governo da Frelimo desde que distribuiu alimentos em Dezembro do ano passado nunca mais esteve lá. E estamos às portas do quarto mês do ano. E nenhuma outra distribuição aconteceu desde então, seja pelo Programa Mundial de Alimentação ou outras instituições de caridade.
O ACNUR diz ter encontrado, nos campos de reassentamento por si visitados, pessoas cheias de raiva e desespero. E perguntamos mais uma vez ao Governo: não terá sido isto que motivou a insurgência em Cabo Delgado?
Para nós, ao não prestar nenhuma assistência àquele povo desarreigado das suas terras, o Governo está a criar condições objectivas para que a guerra em Cabo Delgado se prolongue e não podemos deixar de estar profundamente consternados com o evidente retrocesso do clima de paz e estabilidade naquela província.
Custa imenso descortinar o real significado do discurso político oficial de paz quando no terreno as acções desenvolvidas evidenciam o oposto. Portanto, chegamos à triste conclusão de que não existe nenhuma preocupação deste Governo com a vida dos moçambicanos.
Não há sofrimento do nosso povo que faça a Frelimo ter alguma compaixão. Podem morrer dezenas, centenas ou milhares de pessoas por dia, a Frelimo e seus asseclas não estão nem aí para o sofrimento do nosso povo. A única coisa que os interessa é manter o poder para proteger os seus interesses e os dos amigos. (Laurindos Macuácua)
DN – 25.03.2021