Por Francisco Nota Moisés
"Caminhos de Ferro de Moçambique confirmam ataque a comboio que transportava carvão mineral na linha de Sena, na província de Sofala. Maquinista ficou gravemente ferido... Indivíduos desconhecidos dispararam vários tiros contra um comboio de carga na manhã desta quinta-feira (04.03), ao longo da linha de Sena. O acidente aconteceu entre os distritos de Cheringoma e Muanza, na província de Sofala, centro de Moçambique."
O recente triunfalismo de Felipe Nyusi sobre a Junta Militar do Mariano Nhongo revela-se agora como uma autêntica piada. Quando havia um silêncio quase total sobre Nhongo e as operações da Junta Militar e ele veio depois a dizer que tinha paralisado as armas à espera do governo negociar com ele e a sua Junta, saltitaram por aí de alegria os saltimbancos da Frelimo. Na STV e na imprensa pro-Frelimo em Maputo, os agentes da Frelimo chegaram mesmo de fabricar o boato de que o general rebelde tinha sido capturado ou que estava encurralado e que o cerco apertava contra ele.
Quando isso se passava, desconfiei que Nhongo estivesse numa manobra de decepção. Que ninguém se esqueça que ele é um estratega. Ele se fez de derrotado à beira da extinção para se reorganizar, para ter a folga que queria para comunicar com os seus homens em Manica, Sofala e também nas províncias de Tete e Niassa, onde a Junta tem bases de acordo com o próprio Nyusi falando no seu palácio durante a apresentação do André Oliva Matsangaissa que foi apresentado como André Matsangaissa Jr., um dos grandes ao lado do Nhongo, para fins propagandísticos para dizer que era o fim da Junta Militar. Mas Nyusi contrariou-se ao dizer que a quase extinta organização se tinha expandindo para o Oeste e para o Norte.
Tive, e até agora tenho duvidas que o tal André Oliva Matade tenha vindo das matas e que tinha estado com Mariano Nhongo. Desconfio que ele foi um dos Matsangaissas que os agentes do Nyusi tinha tomado quando raptam a família do André Matsangaissa Jr. e que a Frelimo queria usar como para fins propagandísticos.
O ataque contra o comboio e outros novos ataques da Junta criam confusão nas hordas da Frelimo e dos seus agentes da Renamo-Ossufo Momade. Na discussão no feminino na STV dominada por umas frelimistas, agora já o tom é diferente. Admitiram que a Junta Militar expandiu-se para Tete e Niassa. Se aqueles que estão em Tete e Niassa começarem a operar, a tropa da Frelimo estará esticada e totalmente desorientada. E esse ataque contra o comboio foi uma operação de diversão para distrair a concentração dos frelimistas contra a sede da Junta em Gorongosa.
Vejo Nhongo como estando sob uma forte pressão dos falcões de guerra na Junta Militar que não querem ouvir de negociar com a Frelimo como os falcões de outrora diziam a Dhlakama que era perca de tempo negociar com a Frelimo. E Nhongo deve ter cuidado visto que pode ser destituído, se ele não estiver sério para travar uma guerra contra a Frelimo.
Na minha maneira de ver, Nhongo deve ser diferente dos líderes da Frelimo que pensam que são os donos do poder e também do seu antigo superior, Afonso Dhlakama, que considerava a Renamo como a sua propriedade pessoal e chegou mesmo de fazer e assinar "acordos de paz" com a Frelimo sem consultar os seus generais, discutir os pontos do acordo e submetê-lo a uma votação pelas altas instâncias da Renamo. Sem fazer isso, ele cometeu uma grande falha de render a vitória dos combatentes da Renamo aos frelimistas numa bandeja de pau preto.
Será uma grande virtude Nhongo passar o poder a alguém mais novo do que ele que deverá actuar em coordenação com o Estado Maior da Junta.
Apesar da propaganda da Frelimo e do grupo da Renamo de Ossufo Momade, dito de traidores, Nhongo é um estratega experimentado e carismático.