Por Damião Cumbane
Não entendo nada de estratégias militares mas creio que em Moçambique há muita gente que se ocupa disso, desde aqueles que frequentam as Academias Militares dentro e fora do país àqueles que aprendem as estratégias militares com base na experiência do dia a dia.
Analfabeto que sou em estratégias militares, permitam-me que fale analfabeticamente delas:
Na minha Santa ignorância nestes assuntos sou levado a crer que, em qualquer parte do Mundo, as grande Guarnições Militares são rodeadas de Postos Avançados que fazem com que o inimigo, antes de atingir a principal guarnição, Quartel ou Base Central, primeiro tenha de atacar e vencer os postos avançados e, seja qual for o resultado desses ataques, enquanto os atacantes vão se digladiando ou vencendo os postos avançados, a Principal Guarnição ou Base Central vai monitorando o desenrolar dos combates na periferia, enquanto ela se prepara, enquanto ela vai orientando as populações sobre onde se refugiar, esconder ou a direcção que deve seguir, caso haja necessidade de fugir, quando outra alternativa de resistência não mais existir.
Na nossa guerra, aquela que se desenrola em Cabo Delgado, estranha-me a forma como os atacantes fazem o primeiro disparo, já à frente do Palácio do Administrador, defronte do Quartel das Forças de Defesa e Segurança, do Comando da PRM etc.
A questão que se coloca é: em que momentos é que, por exemplo, os atacantes de Palma, superaram os Postos Avançados das nossas FDS?
Em que momento combateram com as forças que, normalmente, fazem ou deveriam fazer o Cordão de Segurança que protege o acampamento ou Guarnição Central?
Analfabeticamente falando, creio que numa Cidade de Maputo, o Cordão de Segurança há-de ser formado por pequenos ou grandes acampamentos ou guarnições localizados por exemplo, em Marracuene, em Michafutene, em Guava, na Matola Gare, na Machava, no Infulene, no Jardim, etc., isto é, quem quiser atacar a Cidade de Maputo, vindo de fora, terá de passar por esse Cordão de Segurança, terá de deixar soldados ou quartéis atrás de si e, no seu avanço terá sempre de ter em conta que pode ser bloqueado pelas costas.
Agora, essa coisa de alguém sair da Manhiça ou da Moamba marchar (a pé) para atacar a Cidade de Maputo e fazer o primeiro disparo na Av. Julius Nyerere, não me passa pela cabeça. Uma coisa são aqueles ataques terroristas isolados em que um grupo armado infiltra-se numa cidade, faz o ataque e foge, outra situação bem diferente é aquela em que o inimigo vem marchando, quilómetros e quilómetros até atacar o objectivo central e ainda ficar dias e dias a brigar contigo na cidade ou na tua casa.
Em Palma, os terroristas atacaram e entraram na Vila por volta das 15/16 horas, bem à luz do dia.
Creio que, quer nas guerras feitas pela FRELIMO e pela Renamo, não havia ousadias ou abusos similares. De onde vieram, onde e como se concentraram, à luz do dia, sem que ninguém tivesse acompanhado as suas movimentações ou mesmo ter tido tempo de os ver ou suspeitar de modo a pôr as FDS de pré-aviso ou mesmo fazer com que a própria fuga das populações tivesse sido monitorada ou orientada...
São preocupações de um analfabeto em assuntos de estratégias militares.
Não me consta que antes de atacarem a Vila de Palma, os terroristas se tivessem confrontado com quaisquer postos avançados das FDS e, caso estas posições existissem, mesmo os ludibriando, os atacantes saberiam que deixaram atrás de si unidades ou guarnições que lhes pode atacar pela retaguarda entretanto, da forma como ousam atacar as Zonas ou Cidades Costeiras, é sinal de que eles têm total garantia de que, não deixaram nada para trás e nunca serão encurralados pelas traseiras... o mesmo serve para aqueles assaltos feitos nas Ilhas do Ibo.... atacar e ocupar uma ilha?!.... é muita ousadia ou abuso.
Preocupa-me a forma banal como os terroristas alcançam, surpreendem, atacam e assaltam grandes guarnições militares, sem antes se terem confrontado com os vulgos Postos Avançados ou Cordões de Segurança que, normalmente estão há muitos quilômetros de distância da sede...
Quem for especialista em Assuntos e Estratégias Militares que ajude com alguma explicação melhor informada porque eu já não entendo nada do que está a acontecer.