Trabalhei no IGEPE; trabalhei na UEM; trabalhei com a empresa chinesa que construiu o novo edifício da presidência; já estive reunido com varias empresas nacionais e estrangeiras. A minha conclusão: em Moçambique as instituições tem uma visão e missão patriótica e com boas intenções, porém, os gestores são inocentes.
Porquê os gestores são inocentes?
No IGEPE, eu e outros três colegas eramos gestores de projetos na direção de investimentos. Pela natureza da direção, tínhamos acesso a diferentes projetos de investidores estrangeiros. Nos (os gestores) fazíamos avaliação de projetos que pretendiam fazer parceria com o governo através do IGEPE. Os métodos de avaliação das propostas de projetos são familiares para todo o individuo que se formou em finanças ou gestão de projetos. Os indicadores de costume são payback do projeto, o NPV (Net Present Value), IRR (Internal Rate of Return) para decidir se um projeto é viável ou não. Uma vez feita a avaliação do projeto, haviam dois procedimentos a seguir. Primeiro, fazíamos uma informação que era enviado ao conselho de administração (CA) para consideração superior. Segundo, dependendo do parecer do CA, enviávamos um oficio para a empresa que submeteu a proposta do projeto a informar o nosso posicionamento.
Neste processo todo, algo me chamou atenção: a forma como os investidores estrangeiros se posicionavam em relação a nos. Para além de terem domínio de avaliação de projetos, tinham algo que a escola não ensina. É aqui onde residia a nossa inocência e onde está a diferença entre nos (Moçambique) e os Chineses, Japoneses e etc. Eles tem experiência e domínio de como tornar um projeto viável através de sinergias locais. O que significa sinergias locais? Em 2014 recebemos uma carta de uma empresa gigante Japonesa (Marubeni) que pretendia reerguer a Textáfrica do Chimoio. Fui o escolhido para trabalhar com eles. O que é que eles pretendiam? Havia uma linha de financiamento da JBIC (Banco Japonês para Cooperação Internacional) para Africa. As empresas Japonesas poderiam ir para um país Africano, ver uma área que pretendem explorar em parceria com o governo. Após negociar com o governo, a empresa Japonesa deveriam submeter uma proposta de pedido de financiamento ao JBIC. O modelo de parceria que a JBIC exigia era o BOT (construir-operar-e-transferir). Isto significa, os Japoneses reabilitariam a Textáfrica, iriam explorar a fábrica durante um período para pagar o valor da dívida, e no fim entregariam a fábrica ao governo Moçambicano. Para se materializar este tipo de projetos, as empresas geralmente exigem que o governo assegure o mercado do produto que se pretende produzir/fabricar. Neste caso particular, os Japoneses exigiam que o ministério da saúde (lençóis do hospital, pensos, algodão e etc), o ministério da defesa (fardamento militar, pastas e etc), e outras instituições do governo fossem os clientes da nova Textáfrica. Mantivemos um nível alto de contactos com estas instituições, porém, havia uma resistência de se tornarem clientes da nova Textáfrica. Esta resistência não é por causa de querer tirar mercado ou negócio de alguém, é mesmo porque os tipos não estavam a perceber. Nem eu percebia porquê é que eles faziam essa exigência de garantir o mercado. Deve ser por causa do conceito de mercado livre. É isso que a escola ensina. É isso que o FMI prega na Africa. Mais adiante mostrarei que nos países ricos a muita proteção do mercado. Os japoneses não aguentaram, por isso, desistiram.
Eu como não quero morrer sem saber a razão de sermos pobres, decidi vir estudar no Japão para perceber como é que eles criam as sinergias locais. E o que é que percebi? Todos estão em sintonia. Não existe sinergias sem sintonia. O que é que isso significa. Aqui no Japão, você pode ter contrato com a Nissan para alugar uma viatura, mas se o tipo de viatura que pretendes a Nissan não tem e a Toyota tem, eles vão levar na Toyota. Isso é extensível até nas empresas pequenas. Eles trabalham em grupo. Ninguém é deixado para atrás. Para criar um maior nível de empregos, os Japoneses criaram um canal de fornecimento muito complexo. Por exemplo, para um produto da Panasonic chegar ao consumidor final, tem de passar por pelo menos três revendedores. Revendedor da primeira linha, da segunda linha ate ao retalhista. Se a Panasonic vende o produto a 20 Mt, o da primeira linha acrescenta 20 porcento mais o valor do iva, o da segunda e o retalhista fazem o mesmo. Se um individuo quer comprar o produto diretamente na Panasonic, terá de pagar o valor semelhante ao que é praticado pelo retalhista. Imagina a quantidade de empregos que se criam neste processo. É isso que a CTA deveria estar a discutir com o governo, não discutir palhaçadas. Não os vou culpar, são inocentes.
Mas porque é que estou a dar estes exemplos? A dias vi no jornal noticias que Correios de Moçambique está a procura de investidores para revitalizar as suas operações. Eu li o que o jornal dizia, e comecei a rir. Porquê? Porque os Correios de Moçambique é uma empresa do IGEPE. Para reerguer os Correios de Moçambique basta o IGEPE criar sinergias entre as empresas participadas. O que é que isso significa? Ao invés das empresas participadas terem um motorista, uma viatura para fazer entrega de seus documentos e etc, bastava fazer um contrato com os Correios de Moçambique, e os correios fariam entrega de todos os documentos usando meios de transporte como motorizadas (é assim que os outros fazem). Imagina os Correios de Moçambique a fazer entrega de documentos de todos os ministérios usando motorizadas? Primeiro, reduziria o engarrafamento nas estradas por pelo menos 30% (uma estimativa sem bases); segundo, aumentaria as receitas dos correios, tornaria o processo muito organizado, criariam negócios adjacentes para suportar esta nova dinâmica. Mas como os gestores são inocentes, o único método visível é procurar investidores estrangeiros que tem a única missão de ganhar o máximo possível sem olhar para os ganhos socias e económicos do país.
Sobre a UEM eu poderia escrever um livro. Porém, façam esta pergunta os professores: porquê usam livros de autores portugueses, se a Harvard, a YALE o MIT e etc disponibilizam nos seus websites material didático que eles usam nas suas aulas. É só fazer download e dar aos vossos estudantes o material usado nas melhores universidades do mundo (é assim que os outros fazem). Parem de copiar tugas pulhas. Se é difícil perceber os livros ou as pesquisas destas universidades, façam sinergias entre professores. Se fizerem isso, estarão a dar aos vossos alunos comida fresca para o cérebro, e futuramente se tornaram estudantes de muita classe.
Parem de ser inocentes e tomem iniciativas patrióticas.
Abraços,
ELM Pangara