XÍCARA DE CAFÉ por Salvador Raimundo
FINalmente, Filipe Nyusi decidiu abrir o livro, em relação à gestão da crise em Cabo Delgado. Socorrendo-se da cábula, revelou o que lhe atormenta(va) a alma, entre escolher ofertas de amigos e as dos países vizinhos, no combate ao terrorismo.
Quer dizer, durante largo período, o homem andou dividido entre aceitar a mão estendida dos europeus e o auxílio dos países vizinhos, da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
E isso, garantidamente, lhe ruía os míolos de tanto pensar no assunto e os conselhos a caírem de todas as direcções, num inimaginável sufoco. Que pena ! Ainda na semana passada, creio, o presidente, publicamente, lançou uma indirecta ao dizer que para a questão de Cabo Delgado urge que se analise e se pense de cabeça fria.
Já nessa altura, dizíamos cá para os nossos botões, com algum sorriso nos lábios: o “chefe” acaba de mandar picardia para alvos que só ele conhece. É que Nyusi nos habituou com as suas entrelinhas, nem sempre fáceis de decifrar, porque…indirectas, só perceptíveis para os alvos.
Não é de admirar que os oportunistas usem o lobbie para influenciar Nyusi ou alguém próximo ao PR, para fins inconfessáveis e a guerra em Cabo Delgado, tal como os raptos, é algo que se confunde com o cartel do crime.
Daqueles cartéis que recrutam no nosso seio, permitindo que entre nós, estejam agentes duplos, daqueles que tanto trabalham para o cartel, como para o lado de cá.
A propósito, enquanto escrevíamos estas linhas, veio-nos à memória o episódio contado por um angolano, anos 80, em Maputo, que se dizia parente de Zedú, mas nas forças de defesa e segurança, entretanto capturado pela Unita e mais tarde recapturado, mas depois retornado para a guerrilha.
Episódios interessantes que não vale a pena partilhar, mas que nos têm valido imenso na nobre carreira.
Também conhecemos, no Jardim Tunduru, em Maputo, um iraniano, na altura da guerra Irão-Iraque. O tipo nunca dizia o que vinha cá fazer, se a guerra era lá longe de Moçambique.
Tanto o angolano, como o iraniano, sumiram de uma maneira estranha.
Voltando à terra, ainda bem que o governo opta pela vizinhança, em detrimento de amigos que residem nas europas ou nas américas.
Vizinho é sempre útil em momentos difíceis. Na memória, o emissário Jaime Neto que em Gaberone, Botswana, foi deixar lista de compras e deu costas a troika.
Parecia uma tipa querendo se desfazer do namoradinho e não tinha argumentos válidos, acabando por cometer asneiras até que o moço passou a desconfiar. Entretanto, as partes acabaram por reatar o relacionamento.
Tal e igual Moçambique e a SADC. Por isso é que Jaime Neto já não foi a Lisboa renovar o acordo bilateral e dos 60 militares portugueses previstos desembarcar este mês, apenas nove estão cá.
Enfim, é o renovar da vizinhança. Quem quer ser PR?
EXPRESSO – 29.04.2021