Era nos anos de 1960 quando soube que o Quénia or Kenya era o pais que então tinha o mais número de animais selvagens não só em Africa, mas como em todo o mundo. Estando então no antigo Seminário de Zobué não sonhava que no futuro iria viver nesse pais maravilha por 15 anos antes de partir para viver aqui em Burkina Faso. O Quénia está em mim e é parte da minha vida por várias razões - por ter vivido aí em paz e liberdade devido a atmosfera de liberdade que vigorava naquele país da Africa oriental.
A vida na Tanzânia não tinha sido uma boa memória por causa da atmosfera terrorista que prevalecia na Frelimo e pelo facto de que a Tanzânia do Julius Nyerere com a sua admiração da China de Mao Tsé-tung, a sua desconfiança da União Soviética e o seu desgosto dos Estados Unidos era uma ditadura orwelliana como o Grande irmão a observar e controlar os cidadãos. Nas aldeias cada dez palhotas constituíam células de segurança chamadas nyumba kumi kumi onde cada membro devia conhecer os outros membros e os estrangeiros que aparecessem deviam ser denunciados ao jumbe (regulo) para se tomarem medidas de segurança. E esta situação vigorava mais no sul da Tanzânia por causa do medo que o regime tanzaniano nutria pelos portugueses em Moçambique que podiam atacar o seu pais por causa da ajuda que os tanzanianos prestavam à Frelimo.
Chegado no Quénia em Agosto de 1969 depois duma fuga perigosa durante a qual eu e os meus dois companheiros fintamos um carro que nos procurava, saímos a correr duma aldeia de noite antes de nos chocarmos com um indivíduo doutro mundo e depois com quatro leões e na manhã seguinte com um grupo de elefantes, pudemos respirar com alivio depois de entrarmos num autocarro que rumava para Dar Es Salaam naquela manhã. Obviamente, os espíritos dos nossos antepassados estiveram connosco naquela noite quando a morte não estava muito longe de nós.
Na Africa oriental em geral, se você é um negro é melhor evitar dizer as pessoas que está a viajar como turista. Isto é ridículo para os naturais visto que pretos não podem ser turistas por o turismo ser uma coisa dos brancos. O que aconteceu um dia em Mombasa ilustra esta visão dos africanos quando fui a Mombasa pelo Oceano Índico com um individuo moçambicano quando duas prostitutas chegaram no alojamento onde estivemos. Uma delas perguntou-nos o que eramos e onde íamos. Eu lhe disse que eramos turistas. A rapariga riu-se as gargalhadas antes de chamar a sua colega que não estava longe do lugar onde estávamos com ela e ela disse a sua colega: "escuta o que estes loucos. Dizem que são turistas."
A outra comentou sem se rir, dizendo: "Deixe-os sozinhos. Estes são verdadeiramente loucos. E que mais, estes tolos não tem dinheiro para nos pagar, se dormirmos com eles." Na mente de qualquer natural da Africa oriental eramos loucos. Se fossemos brancos, aquelas prostitutas não teriam dito que eramos loucos visto que turismo uma idiossincrasia dos brancos.
Para além de visitar o parque nacional de Nairobi a sul da grande cidade, não me vinha na cabeça a ideia de ir a outras parte do Kenya para ver as maravilhas daquele país.
Pude observar as maralhas do Quénia quando viajei para Mombasa pela primeira vez em 1986. Que alguém seja turista ou não, o turismo força-se aos olhos do viajante a partir das zonas limítrofes de Nairobi. Em ambos os lados da auto-estrada, o viajante num carro ou num autocarro pode ver zebras, boi-cavalos, antílopes, girafas, javalis, babuinos, e alguns dos símios a andar na estrada. De Nairobi ate Tsavo, o maior parque de animais no Quénia em terras dos Akambas, uma tribo com a notoriedade de feitiçaria, a terra e uma planície. Antes de chegar a Tsavo, o viajante passa por Makindu, onde há um grande templo dos Siques (Sikhs) da India. O lugar tornou-se mais famoso quando um jornal de Nairobi reportou que uma ovelha tinha nascido ali com escrituras em Árabe cujo significado ninguém podia decifrar.
De Makindu o viajante chega a Mtito wa Ndei onde o parque de Tsavo começa ou para o Ocidente. Os viajantes para Mombasa param aqui por uma hora ou mais para comer ou comprar fruta ou respirar o ar fresco da vegetação do parque e para se assegurar que os seus veículos estão em boa condição de se aventurar através do parque visto que ninguém quer avarias dentro do domínio da bicharada, onde, no caso de avarias pessoas não devem sair dos veículos até que recebam auxilio dos mecânicos da reserva. Pessoas fora dos veículos colocam-se em perigo de vida visto que dentro de minutos podem ser assaltados por grandes gatos a rugir estrondosamente e os leões do Tsavo são considerados como os mais agressivos da Africa.
A viagem pelo Tsavo é monótona, principalmente quando faz muito sol. Os animais retiram-se para se protegerem do sol na vegetação, mas não estar muito longe. O viajante pode ver elefantes a distância encostados contra grandes árvores. Aquando da minha primeira viagem pude ver uma coisa extraordinária quando o autocarro em que estava acelerava para Mombasa depois de alguém ter gritado: ndovus (swahili para dizer elefantes). Era uma coluna de mais dum quilômetro dos paquidermes os seus pequenos na fileira, um atrás do outro, no lado direito do parque chamado Tsavo ocidental enquanto que o lado esquerdo e conhecido com Tsavo oriental. Talvez que eles iam a procura de agua para beber.
Depois de sair do Tsavo, o viajante entra na vila de Voi com uma montanha ao lado que assinala o limite oriental do Tsavo. Dai o viajante entra no nyika, a zona mais quente e seca com uma largura de 100 quilómetros entre Voi e Mombasa.
A entrada em Mombasa é sempre dramática. Do nyika, a terra desce vertiginosamente para a ilha de Mombasa com uma vegetação de coqueiros. Sendo a primeira visita, a minha primeira preocupação era de obter um alojamento e banhar. Isto feito, decidi vadiar descendo para o mar onde se encontra a Fortaleza Jesus, agora um museu nacional, que foi construído pelos portugueses no seculo 17. Já era tarde e a noite descia quando estive a ir para a Fortaleza Jesus. Vi gatos a vadiar no lado esquerdo e no lado direito, coisa que podia fazer rir, mas não me ri ou não provoquei nenhum deles como sabia que alguns daqueles gatos podiam ser outras coisas: os famosos jinnis de Mombasa. Vale a pena não tomar ligeiramente a crença dos nativos do litoral em jinnis, espíritos geralmente malignos que poder pregar partidas contra pessoas.
O Oceano indico aqui e mais azul do que em qualquer outra parte que banha em Africa ou na Asia. Ninguém se encontra nas praias a partir de 18 horas visto que, diz se, tem havido outros indivíduos a correr nas praias e a banhar, mas tais pessoas regressem paras as suas residências no mar. São os tais jinnis de Mombasa.
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Acrescento do MPT: Retrato Falado: Os leões assassinos de Tsavo
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/retrato-falado-os-leoes-assassinos-de-tsavo/