Por Francisco Nota Moisés
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Download Le Monde du Mercredi 19 Mai 2021
PS: Com grande destaque para o Rwanda
O prestigioso jornal Le Monde deu mais importância à questão das difíceis relações entre a Franca e Rwanda sob a liderança de Paul Kagame do que a questão do Nyusi com a Total. A entrevista do jornal com Kagame confirmou aquilo que eu já tinha ouvido incluindo de dois rwandeses Tutsis de que Kagame, referido no jornal como autoritário no Le Monde e detestado tambem como autoritário por intelectuais africanos segundo Boubacar Boris Diop num artigo que apareceu recentemente no MPT, implantou um regime do tipo da Coreia do Norte que cultiva o culto de personalidade em volta da sua pessoa.
Kagame e o seu grupo de dirigentes da Frente Patriótica de Rwanda desterraram o francês que os colonialistas belgas tinham implantado no seu país e impuseram o inglês visto que eles próprios não conheciam o francês por terem crescido e vivido com o inglês em Uganda. Num abrir e fechar de olhos todas as escolas de primarias a universidade, tinham que ensinar em inglês por docentes que não sabiam essa língua e não podiam faze-lo. Não quero julgar a decisão visto que se trata do país deles e não do meu onde alguns anos Kagame encarou protestos de rwandeses, congoleses e dos seus apoiantes deste país quando cá chegou por causa da sua chacina de Hutus e Congoleses em Rwanda e no Congo.
Esta edição do Le Monde de 19 de Maio diz que cerca de 2 a 3 por cento de rwandeses podem falar o inglês e 6 por cento conhecem o francês. Teria sido melhor se a mudança tivesse sido gradual, mas, infelizmente, não foi.
O longo artigo que seguiu a entrevista debruça-se inteiramente sobre as relações rwando-francesas a partir do tempo que Paul Kagame se tornou presidente de Rwanda até hoje enquanto durante esse mesmo tempo de cerca de 30 anos a França foi governada por vários presidentes, nomeadamente François Mitterrand, Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy, François Hollande e agora por Emmanuel Macron.
Há fricções que dificultam as relações entre os dois países, sobretudo a insistência de regime de Kagame de que a França foi responsável pelo genocídio de Tutsis por Hutus e a França que repudia tal acusação. Obviamente, a França apoiou o regime Hutu do ditador Juvenal Habyarimana que morreu como resultado do despenhamento do seu avião no aeroporto de Kigali quando regressava de Arusha na Tanzânia. Os franceses acusaram Kagame de ter ordenado o abate do avião por um míssil portátil terra-ar visto que as suas forças estavam a escassos metros do aeroporto.
Foi este incidente que fez com que os milicianos Interhamwe hutus desencadeassem a chacina de Tutsis e também dos chamados hutus moderados. Apesar do esforço de Kagame para culpar os franceses pelo genocídio, houve analistas que disseram que Kagame queria que o genocídio acontecesse que era para ele quebrar o cessar fogo que tinha concordado com o governo de Habyarimana para acabar com a guerra antes de eleições gerais.
Apesar da acusação do Kagame, sabe-se, porém, que uma brigada de Legionários franceses tinham tomado posição no Congo e Rwanda onde protegiam pessoas principalmente Tutsis que fugiam dos assassinos Hutus. Como os soldados franceses e da ONU não receberam ordens para agir para acabar com as matanças e desarmar os assassinos, eles assistiram a chacina de braços cruzados sem poderem agir para pôr cobro à chacina por milicianos Hutus. Disse-se também que o próprio Kagame não queria que os franceses agissem para não frustrarem o seu plano de derrubar o regime Hutu e implantar o regime da sua Frente Patriótica de Rwanda que uns jornalistas tinham caracterizado como uma Khmer Rouge no seu comportamento. Kagame sabia que não conseguiria o poder através de eleições em Rwanda que com 85 por cento de Hutus para os 15 por cento dos seus Tutsis.
As eleições que o implantaram e tem assegurado o poder do seu regime tem sido farsas e fraudulentas.
A tropa francesa não vem de bons olhos qualquer tentativa de lhe lançar a culpa pelo genocídio em Rwanda e os presidentes franceses não podem aceitar que o seu pais esteja sujado com tal acusação.
Por sua vez, a Franca irrita o regime de Kagame por dizer que houve dois genocídios e nao só um, nomeadamente o genocídio de Hutus contra os Tutsis e o genocídio Tutsi das forcas de Kagame contra milhares de Hutus, dizia-se mais de 250,000 Hutus, que se tinham refugiado no Congo. Um documento por um juiz francês que acusa o regime de Kagame de crimes contra a humanidade e ordena a detenção de homens próximos do ditador rwandês, enfurece Kagame que também ordenou que se emitisse um documento rwandês que incrimina os franceses e ordena a detenção de certas figuras francesas entre elas alguns militares.
O último salto nesta guerra fria entre Rwanda e a França e o documento de investigação por um grupo de historiadores intentos em satisfazer Kagame que não menciona o genocídio do regime de Kagame contra os Hutus. E Kagame está satisfeito com o tal documento, embora ele não reconheça que a França estava envolvida no chacina de Tutsis. De acordo com esta edição de Le Monde, o presidente Macron visita Rwanda este Maio corrente com vista a descongelar mais as relações entre os dois países.