Por ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Nascido em 19[23] numa família muçulmana da Aristocracia senegalesa, quando jovem foi fazer sua pós graduação em París-França. Já aos [25] anos começou a projectar as primeiras nuances duma teoria da origem civilizacional, a partir da África, no Egipto. Ele foi o primeiro africano a Cursar egiptologia, segundo ele mesmo foi o primeiro negro a ter acesso a ciência da egiptologia. Conforme, o correio electrónico cheikantadiop.net ele pode ser sim… considerado o fundador da história da África.
Anta Diop era formado em Química, Física, Filosofia, Linguística, Economia, Sociologia, História, Egiptologia, Antropologia. Além disso, era versado em conhecimento sobre racionalismo, dialéctica, técnicas científicas modernas, Arqueologia pré-histórica, dentre outros conhecimentos e técnicas necessárias à pesquisa científica.
Segundo ele mesmo os seus principais objectivos eram quatro.
- A restauração da consciência histórica africana;
- A restauração da continuidade africana;
- A construção de uma civilização planetária e
- Renascimento africano.
Quando ele fala da restauração da consciência histórica, ele fala da condição e da necessidade desse ter uma história, porque foi nos arrancada a nossa história, foi nos tomada as nossas origens, as origens civilizacionais, tanto na área da arte, da filosofia, da ciência dentre outras artes importantes para o pensamento humano. Consequentemente, foi nos retirado da África essa consciência histórica e é preciso restaura-la urgentemente.
Quando ele fala da restauração da continuidade histórica, ele fala da restauração da continuidade da história da África, da sociedade e nações africanas do passado. Ou seja, ter a restauração dessa continuidade que foi interrompida pelo colonialismo, pela invasão, pela exploração do povo e do nosso continente. Quando ele fala de restauração da continuidade histórica, ele fala de restaurar o espaço e tempo a continuidade da sociedade e nações africanas antigas
A construção duma civilização planetária tem a ver com o acordo universal entre os povos, o reconhecimento de que, a África também teve sua participação histórica que a levaria consequentemente ao entendimento e o respeito a esses povos que traria, por isso, uma paz universal uma colaboração universal entre todos os povos.
Destarte, para que nós alcancemos essa cooperação universal é preciso, que se derrube o nosso maior problema; o racismo. Ele afirma, que é essencial que rompamos com a [mentira] cultural criada pelo ocidente de que, nós não temos história, de que, nós não temos contribuições civilizatórias para a humanidade.
Cheikh Anta Diop, era politicamente engajado, criou partidos, foi perseguido, foi preso pelo Governo de Senghor. Ele pregava a construção dum Estado federal continental ou subcontinental. Segundo ele em suas próprias palavras; «devemos dar uma gorjeta definitiva a África negra na concepção e destino federal, apenas um Estado federal, continental ou subcontinental oferece um espaço político e económico em segurança suficientemente estabilizado para que, uma fórmula racional de desenvolvimento económico de nossos países com diversas potencialidades possa ser implementada».
Em sua definição do que seria uma política eficiente de pesquisa científica, Diop traz e diz: «a África deve optar por uma política de desenvolvimento científico e intelectual e pagar o preço. Sua excessiva vulnerabilidade nos últimos cinco séculos é consequência duma deficiência técnica. O desenvolvimento intelectual é a maneira mais segura de impedir chantagem, intimidação e humilhação; a África pode mais uma vez se tornar o centro de iniciativas e decisões científicas envés de acreditar, que está condenada a permanecer como apêndice o campo da situação económica dos países desenvolvidos».
Em sua definição ou concepção de verdadeira industrialização do Continente africano Diop diz: «trata-se de propor um esquema continental de desenvolvimento energético que leve em consideração fonte de energia renováveis e não renováveis, ecologia e progresso técnico nas próximas décadas, a África negra terá que encontrar uma fórmula para o pluralismo energético combinando harmoniosamente as seguintes fontes de energia: energia hidroeléctrica, energia solar, energia geotérmica, energia nuclear, hidrocarbonetos e energia termonuclear» ao qual ele adiciona o vector da energia a partir do hidrogénio.
Destarte, a partir de dados antropólogos e arqueológicos, Diop consegue definir a origem de várias e várias construções humanas dentro da nossa história. A pedra e a conquista do fogo foi em África, o período neolítico e a descoberta da agricultura foi em África, a idade dos metais, a construção da metalurgia e a forja do ferro foi em África, a descoberta da escrita, da arte e da filosofia e de todo o pensamento humano foi em África.
Por exemplo, o seu livro mais famoso «Origem Africana de Civilização», tradução lusitana, onde ele traz todos esses dados, ele traz refutações do Egipto branco que definiam, a partir de mentiras e falsificações muito grotescas, que ele apresenta uma por uma e, faz questão de uma por uma desconstruindo todas as falsidades históricas criadas por esses egiptólogos brancos.
Ele traz nesse livro relatos de Jean-François Champollion, um dos egiptólogos, que acompanharam o Napoleão Bonaparte e seu Exército na exploração dos túmulos do Faraó Sesóstris I, no Egipto onde eles encontraram vários e vários artefactos e acabaram traduzindo a pedra de roseta onde eles conseguiram decifrar finalmente os hieróglifos egípcios; isso foi a fundação basicamente da egiptologia, a partir desses textos traduzidos por Champollion.
Champollion morre em 18[32],mas passa o seu legado para o seu irmão Champollion Figeac e Champollion Figeac continua com suas considerações acerca de um Egipto branco, mesmo ele[s] tendo encontrado nos hieróglifos, nas imagens, nos túmulos de Faraós, nos achado arqueológicos imagens de pessoas de raça negra ou vermelha escura, eles ainda continuam a afirmando que as pessoas são brancas.
Sim! Cheikh Anta Diop fala até de morte sarcástica quando ele relata, que a partir das conclusões tiradas pelo Champollion ele pode considerar que os egípcios eram pessoas brancas de pele preta e cabelo crespo. Para poder dar saída a sua tese que não foi aceita pela Universidade de París, demorou [9] anos para ser aceita foi apresentada em 19[51] e só foi aceita em 19[60].
Por esta razão, para poder dar vazão, a Universidade de Dakar-Senegal conferiu só para ele pesquisar um laboratório de rádio carbono onde ele criou uma técnica de análise e de dosagem de melanina em múmias essa mesma técnica é usada até hoje na identificação de corpos carbonizados na Química forense.
Ele trabalha principalmente, a partir de fundamentações teóricas do considerado «pai» da história o Heródoto. O Heródoto visitou a África [Egipto] e escreveu sobre suas percepções e registou que, só via por ali no Egipto, naquelas regiões do Alto Nilo pessoas de pele preta, essas pessoas preta que ele relata são tanto egípcias quanto africanos ou que nós podemos perceber que, a partir de seus relatos que egípcios e africanos tinham a mesma cor e pertenciam a mesma raça.
Na área da linguística Diop, conseguiu fazer aproximações entre sua língua natal o Wolof, conseguiu encontrar semelhanças entre línguas africanas e a língua egípcia antiga. Diop, também encontrou textos antigos que provam que filósofos gregos como Aristóteles, Thales de Mileto, Platão, Sócrates dentre outros nomes grandes da filosofia grega, que estudaram no Egipto e ele prova. Ou seja, ele traz uma dúvida, ele traz uma condição de reflexão acerca da origem da filosofia.
Seria filosofia grega apenas o produto dessa filosofia africana desse pensamento desenvolvido em África? Eu tenho certeza que sim e Cheikh Anta Diop, tinha certeza, também que sim. Ou seja, a filosofia grega ela nasce em África, a partir dos estudos destes gregos em território egípcio.
Entretanto, em 19[74] num encontro internacional da UNESCO, Diop foi convidado junto a outros [19] representantes de egiptologia a apresentar os seus resultados de pesquisa. Claro, que os egiptólogos brancos foram totalmente contra as suas pesquisas e até puseram em dúvidas muito dos seus achados mesmo com a tese dele tendo sido aprovada a vários anos, mesmo com a repercussão de toda polémica a pesquisa provocou uma algazarra aquele encontro da UNESCO. Mas, Cheikh Anta Diop saiu de lá aplaudido de pé por muitos, mas também deixou muita gente ali de cabelos em pé, porque ele pôs em dúvida a origem da base civilizacional humana agora não mais branca greco-europeia e sim africana.
Diop, morre em 19[86] e é enterrado em sua terra de origem, após fazer essa tremenda e belíssima contribuição para nós africanos, para nossa história, para o nosso povo e para as nossas origens. Mesmo que vários egiptólogos brancos tentaram contradizer; tentaram trazer questões, questionando a pintura egípcia que certamente apontavam pessoas negras, questionando como traços de cabelos como sendo cabelos lisos e até falsificando informações, mesmo com todas as dificuldades olha a grande contribuição que esse homem Cheikh Anta Diop fez para toda a humanidade.
Hoje, já não temos dúvida nenhuma de que, o Egipto era negro, não temos dúvida nenhuma que a origem da civilização humana é em África, que é na África que surgiu o primeiro ser humano. Mas, há cem anos atrás, isso era inconcebível, porque toda a ciência apontava para a Europa como o berço da civilização, como centro original e superior da civilização humana. E hoje nós sabemos por conta desse belíssimo trabalho do Diop, que já foi muitas vezes confirmado por achados ao longo do tempo.
Cheikh Anta Diop, foi o nosso grande herói e nós temos muito a agradecer a ele. Lutou pelo nosso povo com todas suas forças, ele adquiriu todos os conhecimentos possíveis e necessários para desmistificar de vez, a falsidade cultural criada pela Europa e seus pesquisadores, seus pensadores e seus filósofos.
Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, aos [30] de Maio 20[21]