Missão de treino da UE terá como base a missão de formação portuguesa já no terreno, mas dar-lhe-á "outra escala". O ministro da Defesa português espera que os 27 possam aprová-la em junho para começar a ser concretizada dentro de três meses
Portugal vai ser o principal participante na missão de formação militar da União Europeia em Moçambique, aproveitando a experiência das forças portuguesas já no terreno, disse esta sexta-feira o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, adiantando que há outros "sete ou oito" países europeus que já se mostraram disponíveis para participar.
Os 27 ministros da Defesa estiveram esta sexta-feira reunidos em Lisboa, num encontro informal que serviu para falar do contributo europeu para a segurança e paz em África, com Moçambique na agenda. Cravinho não quis avançar os nomes dos países que já disponibilizaram as suas tropas, preferindo que sejam os próprios Estados-membros a oficializar essa vontade, mas confirmou um número provisório: pelo menos sete já responderam à chamada.
"Aquilo que ficou patente hoje, como já tinha ficado na nossa última reunião ministerial, é que há um apoio generalizado. Ninguém disse que não achava boa ideia fazermos uma missão da União Europeia", afirmou o ministro português aos jornalistas no final do encontro.
A missão de treino europeia na província de Cabo Delgado contará com a participação orientadora das tropas portuguesas que já estão no país, o que foi também confirmado pelo Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, que falou numa “maior capacidade da parte de Portugal”. O objetivo, “em poucos meses”, é o de saber quem mais, dos 27, vai contribuir para a missão, reforçou Borrell.
“Aquilo que está previsto pela missão técnica da UE que está em Moçambique desde o dia 19 de maio é que utilizem a experiência da cooperação bilateral portuguesa. [A participação da UE] será construída em cima dessa cooperação. Mais à frente, a força portuguesa será “absorvida pelas forças da UE”, disse ainda Cravinho. Sobre o tempo que vai demorar até que a missão entre em ação, João Gomes Cravinho diz que a expectativa é a de que possa ser aprovada formalmente já em junho, para "que dentro de três meses, aproximadamente" esteja no terreno.
MOÇAMBIQUE PEDIU A FORMAÇÃO DE ONZE COMPANHIAS
No norte de Moçambique, em Cabo Delgado, os militares portugueses estão já a dar formação em dois locais diferentes. Uma de fuzileiros e outra de comandos. "São processos de formação de quatro meses", lembra Cravinho. "Aquilo que as autoridades moçambicanas nos pediram foi a formação de onze companhias". Quanto à missão europeia, o objetivo é que "tome o mesmo conceito" e "utilize a base" da formação portuguesa "para ganhar outra escala".
No mês passado, em reação à escalada de violência terrorista em Cabo Delgado, o ministro dos Negócios Estrangeiros português alertou para o “sentido de urgência” da missão militar europeia em Moçambique. “O processo de decisão [da UE] para uma missão de apoio militar a Moçambique tem de ser concluído o mais rapidamente possível”, disse Augusto Santos Silva no final de uma reunião dos chefes de diplomacia europeus. Vários Estados-membros acompanharam esse “sentido de urgência” que Santos Silva destacou.
“É preciso pôr no terreno a nossa missão de apoio, [existe um] sentido de urgência, uma vez que, quanto mais tarde interviermos no apoio a Moçambique no seu combate ao terrorismo, mais forte ficará o terrorismo – temos de intervir o mais cedo possível, o mais rapidamente possível”, afirmou o ministro. “Há urgência nos termos do pedido que Moçambique nos apresentou.”
Moçambique pediu “que seja incrementada a cooperação entre a UE e Moçambique também nesta área de paz e segurança”, além do apoio a nível humanitário e no âmbito do desenvolvimento, avançava Santos Silva. Um apoio que se concretizará nesta componente de formação e treino militar das tropas especiais moçambicanas.
No encontro informal dos ministros da Defesa europeus desta sexta-feira falou-se ainda da situação de instabilidade no Mali e sobre a chamada Bússola Estratégia - um documento orientador para o futuro da defesa da União Europeia.
EXPRESSO(Lisboa) – 28.05.2021