Tantos saem de Palma mas nem todos chegam a Pemba
Com a situação de insegurança a deteriorar-se e com a vila de Palma transformada em palco de permanente perseguição das populações e de confrontação entre as Forças de Defesa e Segurança (FDS) e grupos terroristas, muitas são as pessoas que continuam a tentar fugir daquele palco, mas nem todas conseguem chegar ao destino seguro, Pemba para a maioria da população.
É que se não se tratar de naufrágio por algum problema de navegação, as pessoas que fogem do terror são interpeladas por embarcações de insurgentes, que continuam a circular em vários pontos das regiões costeiras do norte de Cabo Delgado.
Aqui, as hipóteses são duas. São mortas, ou então, raptadas para servirem interesses dos grupos atacantes.
São esses os relatos que continuam a chegar. Tal é o que se observou a 3 de Maio. O que se diz é que uma embarcação que tentava fazer o trajecto Palma – Pemba foi interceptada na ilha Makalowe, que fica perto da aldeia Pangane, posto administrativo de Mucojo, distrito de Macomia.
Muitos foram raptados, mas parte deles conseguiu escapar e sobressaiu na sede do distrito de Macomia. De acordo com fontes da vila de Macomia, os que escaparam das mãos dos terroristas contaram que os insurgentes viram o barco a passar das águas que banham o quase completamente ocupado distrito da Mocímboa da Praia.
Nisto, conta-se, os terroristas pegaram num barco a motor e seguiram directo à ilha Makalowe. Tinham certeza que o barco iria fazer uma paragem naquela ilha para descanso e confecção de alimentos para depois seguir viagem. Segundo se conta, chegados à ilha Makalowe, os viajantes em fuga foram recebidos por terroristas que já ali estavam instalados. No início, os terroristas ter-se-ão identificado como refugiados, também. Entretanto, instantes depois, um outro barco a motor chegou e o grupo atacante identificou-se, de facto, e reteve os viajantes.
Daí, contam, os refugiados foram levados nas duas embarcações até Pangane. Naquela região, alguns foram orientados a procurar mandioca para matar a fome, tendo sido neste instante que alguns conseguiram fugir, tendo, a pé, caminhado até a sede distrital de Macomia.
De Macomia, há quem depois conseguiu seguir até à cidade de Pemba. Os que conseguiram escapulir-se descrevem os insurgentes como indivíduos fortemente armados.
Outras fontes falam de seis embarcações à vela que terão sido interceptadas por terroristas na ilha Makalowe, não se sabendo, contudo, o real número de pessoas raptadas. Diz-se que contra um dos barcos, os terroristas terão efetuado disparos para obrigar à paragem.
Na ocasião, algumas pessoas terão sido mortas e outras pulado ao mar.
Na verdade, enquanto dados oficiais ainda falam de cerca de 2500 mortes desde o início dos ataques armados, o dia-a-dia no terreno parece sugerir uma realidade bastante acima daquelas estatísticas
MEDIA FAX – 07.05.2021