Por Francisco Nota Moisés
SADC ‘nim’, Ruanda ‘sim (2)
Samia (Tanzânia) irritada
"Samia Hassan Suluhu abandonou a cimeira quando ainda decorria à porta fechada e já não esteve na foto de família dos chefes de estado e de governo que fizeram parte do evento extraordinário, quarta-feira (23). Nem a Tanzânia, muito menos a organização trouxe à superfície o que terá precipitado a saída da presidente tanzaniana. Sabe-se, isso sim, que desde o primeiro momento, a Tanzânia é contrária à musculatura, por entender estar-se diante de um problema de foro interno, de Moçambique, ainda com sinais de uma solução de reconciliação, desde que recorrendo ao diálogo. ... Terá sido nessa base que a comitiva tanzaniana, liderada pela presidente Samia Hassan Suluhu virou as costas à cimeira, irritada com o que estava a ser proposto."
A Tanzânia está agora de parabéns por ter uma liderança humanizada e de bom senso de humor na pessoa da dada (swahili para dizer irmã ou mana) Samia Hassan Suhulu que é muito diferente do malogrado ideólogo Julius Nyerere que tentava promover políticas revolucionárias e de interferência nos outros países tais como em Moçambique, no Malawi, Uganda e no Congo.
Não lhe foi possível faze-lo contra o Quénia (Kenya) por este país ter sido melhor governado e mais desenvolvido do que o seu país. Mas também visto que o Quénia sabia ignorar, muitas vezes com muito humor para os quenianos se rirem, os insultos que a Radio Dar Es Salaam e os jornais de Dar Es Salaam transmitiam contra o Quénia, descrevendo-o como um agente do imperialismo. Mas o Quénia não se interessava nem se metia nos assuntos internos dos seus vizinhos, nem mesmo estremeceu quando a vizinha Etiópia explodiu numa revolução comunista de proporções pol-potescas com dirigentes altamente assassino, um deles sendo Mengistu Haile Mariam, agora um fora da lei na Etiópia e fugitivo no Zimbabwe, que matou os seus da Junta militar, Tafari Bante e Atnafu Abate
O seu foco de atenção era a província nordeste com a Somália que o país vizinho reclamava ser o seu território. Era lá onde tinha a presença do seu exército para controlar grupos de bandidos conhecidos com SHIFTA. O Quénia podia logo contar com o apoio do exército britânico que ainda tem uma base militar em Nanyuki. Obviamente, os americanos não estariam indiferentes a uma agressão contra o Quénia vinda da Somália que estava aliada a União Soviética que tinha uma base naval naquele país.
O Quénia enviou a sua tropa para o Sul da Somália alguns anos atrás e ainda continua lá, onde reestabeleceu escolas e clinicas para prestar ajuda sanitária às populações locais depois de escorraçar a dominação dos Al-Shabab que as escravizavam e promoviam actos de terror contra alvos civis na cidades e vilas do Quénia.
Mas o Quénia com o seu capitalismo, embora primário na altura quando Julius Nyerere era presidente na vizinha Tanzânia, se transformara no poço da energia de produção industrial cujos produtos abasteciam os mercados da própria Tanzânia, Uganda, o Sudão, Rwanda e Burundi.
A presidente Samia Hassan Suhulu com uma forte ligação emocional de longa data com o Kenya onde viveu como aconteceu com o nosso que não deixa de agradecer aquele país pela proteção de ameaça de rapto ou assassinato pelos terroristas da Frelimo, reforça as boas relações entre os dois países. Numa visita de estado depois da morte de presidente Magufuli, ela comportou-se como uma queniana e com quase cada frase que pronunciava contendo piadas que fazia os quenianos se rebentarem de risos. Falando no parlamento queniano e algures sempre em Swahili, referia-se ao presidente Uhuru Kenyatta como kaka palavra do swahili para dizer irmão ou mano, e nunca disse mweshimiwa Uhuru Kenya ou seja sua excelência Uhuru Kenyatta. E de bom grado, Kenyatta, Uhuru (palavra do swahili para dizer independência ou liberdade) se referia a ela como dada ou seja irmã ou mana.
Quanto ao regime da Frelimo em Moçambique, os tanzanianos estão saturados com este país. Sacrificaram-se por terem apoiado a luta contra o colonialismo português e sofreram dos bombardeamentos da aviação e peças de artilharia dos portugueses. Viram-se obrigados a enviar tropas para impedir que o regime terrorista da Frelimo não caísse por completo na guerra com a Renamo. Ingrato como de costume, o regime da Frelimo maltratou os tanzanianos no norte de Moçambique, forçando muitos deles a regressarem para o seu país num estado de grande aflição depois de terem sido batidos (certos deles foram mortos) e das suas propriedades arrancadas, do seu dinheiro tomado a força e as suas esposas violadas. Aquela situação forçou os tanzanianos a estabelecerem serviços para prestar ajuda social e humanitária aos seus desterrados de Moçambique que regressavam ao seu país com olhos cheios de lagrimas.
E agora a Frelimo quer ajuda militar da Tanzânia para quê?