(Casal macua -Foto de Jaime Gil, anos 40)
Falar de nós (povo macua) é um assunto cujo preambulo é quase infinito, devido a sua complexidade e multiplicidade de abordagem.
Uma dessas abordagens aponta povo macua como descendente de um grande grupo Bantu, originário da região Centro Africana (grande lagos), que se migrou para a região Austral a procura de terras que fossem propícias para a agricultura.
O povo macua ocupa e extensão territorial nortenho de Moçambique, desde pequena parte de Zambézia a Nampula, sendo assim a população mais numerosa do país.
Martinez, explica que na etnia macua, cada parte da linhagem tem a sua própria autoridade, que é o atata, tio materno ou seja o irmão mais velho da mãe de uma determinada família, o qual é, por isso, o chefe de um grupo de unidades interinas. . .Essa chefia étnica desemboca no humu, o chefe máximo dos clãs.
São os humus que garantem a união e o entendimento de cada família e consequentemente, cada sociedade macua.
O povo macua é um povo forte, corajoso e decidido. Não foi à toa que a resistência no norte de Moçambique foi mais calamitosa ao colonialismo.
Mas é nesta coragem que também reside a sua fraqueza: a sua falta de entendimento e união. Responsabilizamos os humos?
Não procuro aqui dar aulas de antropologia, e sim dar o meu depoimento do quão é difícil ser macua no mundo onde a ascensão depende muita das vezes da origem e de “mãos”.
O mesmo colonialismo português que apelidou “terra de boa gente” a Inhambane, é o mesmo que teve contacto directo com o povo macua. Mas, não houve alcunhas do género para o segundo povo.
Talvez seja porque o português notou no primeiro olhar, que o macua é um dispositivo que faz avião não voar, mesmo que este esteja em boas condições mecânicas. Talvez notou que o macua, de boa gente, nada tem.
E, como a genética macua, explica no seu senso comum que, quando um pai rejeita um filho, este cresce a sua semelhança, com todos traços fisionómicos, de sanar qualquer rejeição.
O povo macua herdou toda detracção do português: A falta de respeito, espírito de ganância e paixão por uma vida confortável a custa de esforço dos outros e o divisionismo.
Pois entre os macuas, existe um grupo que se destaca nesses ditames, o dito Nahara, curiosamente, o que teve um aperto de mão com o colonialismo, o macua do litoral.
Tirando as coisas negativas, o macua tem um dom prestigioso de assimilar e se fazer notar.
Primeiramente, é de destacar as suas exuberâncias, que o tornam admirável e cobiçável, de destacar:
_A sua criatividade: Se um Macua aprende algum oficio, inova, cria_tem um dom aplaudível nas coisas que faz, uma maneira de quebrar expectativas de quem esteja ao seu redor, o macua é talentoso.
__A sua dedicação: O macua é muito dedicado- mostra o seu interesse, caminha, cria sempre mecanismos para conseguir o que quer.
_A sua Dinâmica: Em todas actividades onde o macua esteja envolvido, sobressai. Seja na escola, no comércio, nos colóquios, nos concursos, o macua é notável. Tem um jeito congénito de suprir as metas e chamar atenção. A presença de um macua, é em si, um ponto a mais em relação os outros.
_A sua eficiência: O macua tem o jeito genial de fazer as coisas com perfeição e originalidade, um dom puro de deixar o auditório boquiaberto.
É de salientar que, o que o macua tem de bom, tem duas vezes o pior. Ser macua não é simplesmente pertencer a uma determinada cultura, é em si, uma experiência de vida que merece destaque, um caso de estudo patológico.
Patológico porque, para quem é mercê de todas essas qualidades que expus a cima, é injustificável a sua falta de coesão, compaixão e auto-reconhecimento.
A identidade macua está perdendo-se aos poucos, sem que ninguém note, sem que o próprio macua note que está extinguindo a sua existência no mapa.
O macua, sente-se ofendido quando lhe é chamado de macua__ é desonra e falta de respeito chamar um macua por macua. O próprio macua, usa este termo para rebaixar e desonrar outro macua, se este fizer algo fora do padrão, ou algo anti-ético. E, de modo igual renega esse título quando se afasta de algo que não lhe é adequado.
Em exemplos mais práticos, um macua, chama de macua, o seu semelhante pelo facto de este não saber manejar um aparelho electrónico.. . um macua chamara o seu semelhante de macua, pelo facto de este não ter etiquetas de mesa.
Estamos diante de crisis de culture, a menos que assumamos que macua não é etnia, e sim um termo pejorativo, e caso assumamos, somos um povo sem nome e sem identidade.
O macua não fala Emakua nas grandes cidades ou em locais de prestígio__ Facto comummente visível em grandes intelectuais ou homens de negócios que singraram fora da sua terra de origem, é que estes, simplesmente, não sabem mais falar a sua língua materna. Envergonham-se dela.
Sem querer comparar as culturas, mas que inevitavelmente estou fazendo: Um MaShangana/e, fala sua língua materna quando encontra o seu conterrâneo, uma forma de imortalizar e preservar a sua cultura. Mas, se um macua encontra o seu conterrâneo em grandes cidades, dirigir-se-á em língua portuguesa. Mesmo que o outro fale a língua materna no meio da conversa, o outro ira só se comunicar em português, uma forma de enterrar a sua cultura.
Ainda neste aspecto de linguagem, é normal, um macua que nasceu na periferia, com vizinhos que falam a língua materna, afirmar categoricamente que não sabe falar Emakua, só entende quando se fala. Irónico, saber falar inglês que só ouve na TV ou na escola e não saber falar língua que ouve todos os dias nos mercados, chapas e no seu bairro.
Há pais que vedam seus filhos de falar a língua materna, asseveram-nos punição, caso falem. Facto que faz com que estes cresçam com o que chamo de SDIE, Síndrome de Deficiência Identitária Ensaiada.
Quando um Macua assume cargos de chefia, não facilita a contratação de seus conterrâneos__ quando falei de um mundo onde dependemos da nossa origem e “mãos” para a nossa ascensão, estive falando exactamente deste aspecto.
É sabido que as empresas contratam os seus colaboradores por meio de requisitos onde a confiança é maior prioridade.
Um chefe macua, nunca aceita a admissão de macua igual na empresa, e, se este o admite, o admitido não respeitará o seu superior como tal.
E o mais triste, caso o admitido tenha qualificações necessárias, criará mecanismos para que o seu superior perca titulo de chefia para ele. Como se diz na gíria popular “por bem ou por mal”.
Vou aqui focar os MaShanganes de novo, não como povo perfeito, mas como um exemplo que aqui se encaixa__Se um Mashangane, ganha chefia de uma empresa, mesmo que seja longe da sua terra, ele solicita os seus conterrâneos. Nos casos de concurso na empresa, o seu B.I pode ser seu permit para a admissão.
Há quem chama isso de tribalismo, com razão, mas eu prefiro chamar de fraternidade.
O Macua armazena os pedidos dos seus conterrâneos, para atender os de outras culturas, mesmo que um macua igual tenha as qualificações exigidas no concurso, o macua não deixa o outro entrar.
Há quem chama isso de inveja, mas é isso que eu chamo de tribalismo__veda as oportunidades a alguém devido a sua etnia, facilitando outro menos qualificado pelo mesmo motivo.
O macua ama ver o seu conterrâneo sofrendo em terras de fora_ Quando um macua vê o seu conterrâneo em condições precárias, em terras onde os 2 não são originários, não lhe ajuda.
Faz dele motivo de conversa com os outros. Além de se esconder quando lhe vê pelas ruas, joga piadas. Liga para amigos em comum para tirar trotes da sua situação.
O macua não honra compromissos com outro macua por respeito e sim por medo__ a falta de compromisso é uma característica infalível do macua. Não obedece e nem honra para fazer luz a responsabilidade que lhe é imputada, a menos que tenha medo da outra parte.
O macua não ajuda outro macua a prosperar___O chinês come em restaurantes chineses, o indiano come em restaurantes indianos, o Mashanganes, O MaCenas idem. . . Mas, inexplicavelmente, o macua não come em restaurantes macua, pior quando conhece o dono do estabelecimento. Isso é extensivo a qualquer tipo de negócio.
Mesmo que comprando em outro sítio saia caro, o macua prefere perder dinheiro ou fazer longas distâncias para evitar comprar com um macua igual.
Caso queira comprar algo com um macua igual, opta por pagar com desprezo, pede descontos desnecessários ou ate pede vale que nunca mais paga, uma forma de estagnar o negócio do outro.
E, mesmo que seja vendido com descontos, quando tiver dinheiro completo ira comprar em outro local.
O macua nunca reconhece esforço de outro macua ___Quando um macua consegue se destacar nos negócios, alcançando sucesso na vida, o seu conterrâneo lhe associa a obscurantismo ou simplesmente reduz o seu esforço a ZERO, tomando-lhe como intermediário ou funcionário.
O macua é impasse para outro macua___O macua com bateria sem carro, prefere fazer da sua bateria, sua cadeira. Enquanto outro macua estacionou seu carro por falta de bateria, só para os 2 andarem a pé, igualarem na desgraça… O macua não usa o obscurantismo para resolver seus problemas, usa para criar problemas ao outro.
Quanto às mulheres? É um embrião enciclopédico. Detentora de uma beleza admirável e dona de uma culinária incrível. Estou convicto de que, o autor da gíria “as mulheres são toda iguais”, não teve a aventura de conhecer uma mulher macua.
Mulher "responsável" e dona de lar, boa cuidadora de esposo. Uma mulher que se alegra em partilhar as suas refeições com suas muatanis e vizinhos, porém a sua vaidade, mumifica as suas qualidades extraordinárias.
A mulher macua é capaz de abdicar da sua alimentação, para comprar kissambes ou contribuir em xitiques, que o objectivo é o mesmo, poupança para cuidar da sua beleza.
A mulher macua, não sabe batalhar para criar sua própria renda, espera que o seu marido lhe dê, sempre. E, é de salientar que mesmo dando dinheiro suficiente para o rancho de casa, ela vai sempre no vizinho para pedir sal.
Opsss, na vizinhança onde ela sempre está, é seu cofre de actividades extra conjugais, caso tenha, o que nunca falha!
O macua é tão antagónico que se chateia por um simples texto como este.
Se o termo MACUA é pejorativo, queria eu saber, como era chamado este povo antes de ser atribuido este termo que lhe é meritório?
Mpakha ominhala!
#Eterno_Aprendiz
(Traficante Literário)
NOTA: Resumindo, ser MACUA é não me “chateies” que eu também não te “chatearei”. Um abraço ao autor deste texto de um “macua da Ilha”. Houve um governador português de distrito(hoje província) que dizia que para o seu desenvolvimento bastava tornar as mulheres macuas mais exigentes para com a sua vaidade.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE