Nova vaga de ataques a Palma empurra centenas para Nangade
-Enquanto deslocados clamam por ajuda humanitária, governador de Cabo Delgado garante que as Forças de Defesa e Segurança estão a responder e a evitar o pior
Novos ataques dispersos de “jihadistas” em Palma forçaram uma nova vaga de deslocados, com centenas de pessoas a deixarem os seus esconderijos e a caminharem a pé por dezenas de quilómetros para o distrito vizinho de Nangade, disseram nesta terça-feira testemunhas e autoridades.
O grupo de “jihadistas”, localmente conhecido por al-shaabab, confrontou-se com as forças governamentais num novo ataque no distrito de Palma, próximo das instalações do projecto bilionário de exploração de gás, relataram várias fontes.
O ataque, que se seguiu esta semana com nova ronda dispersa por aldeias de Palma, forçou uma nova vaga de deslocados para Nangade, um distrito adjacente a Palma e igualmente com vários focos de ataques “jihadistas”.
“Desde domingo muitas pessoas começaram a chegar a Nangade” disse um indivíduo morador de Nangade, adiantando que vários aparentavam estar desidratados. “Muitas pessoas andaram de Palma até Nangade a pé e sem comer nada”, disse a mesma fonte, sugerindo que os novos deslocados estão a deixar os esconderijos onde tinham permanecido desde o ataque mais visível dos “jihadistas” a Palma, a 24 de Março.
Os novos deslocados estão a ser alojados nos armazéns agrários na sede do distrito de Nangade, local que acolhia outros deslocados, incluindo os de Mocímboa da Praia, segundo os moradores.
“Na segunda-feira, apareceram em grande quantidade”, disse outro morador de Nangade, adiantando que o campo de reassentamento, que acolhia entre 10 a 15 deslocados antigos, voltou a ficar repovoado. “Só falta ajuda humanitária”, lamentou, tendo criticado a fraca capacidade de assistência humanitária, por parte das autoridades e parceiros, aos deslocados que escolheram aquele distrito.
Entretanto, o governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, que confirmou novas vagas de ataques “jihadistas”, garantiu que as forças governamentais repeliram várias investidas do grupo ligado ao Estado Islâmico.
“O inimigo continua a criar espaços para querer desestabilizar, mas por outro lado devido a bravura das nossas Forças de Defesa e Segurança este não encontra as facilidades”, disse Valige Tauabo, quem pediu vigilância à população para travar a infiltração dos militantes islamitas em zonas não atingidas pelo conflito.
A 24 de Março, os militantes ligados ao Estado Islâmico lançaram ataques coordenados a Palma, pilhando edifícios e assassinando residentes à medida que milhares fugiam e forçando a retirada da área da gigante petrolífera Total, que lidera o projecto de gás de Afungi.
O ataque de Março marcou uma intensificação da violência de três anos que expulsou cerca de 800 mil pessoas das suas casas, segundo as Nações Unidas, e matou mais de 2.900 pessoas, de acordo com o colector de dados de conflitos ACLED.
DN – 30.06.2021