Por ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Num dos mais célebres momentos da luta pelos direitos civis, nos Estados Unidos [EU], o posteriormente agraciado com o Nobel da PAZ em 19[64]. Martin Luther King, fez em [28] de Agosto de 19[63] um dos mais memoráveis discursos já mais vistos na história dos EU. Foram 15[82] palavras, mas apenas quatro foram suficientes para marcar esse dia na História da humanidade. «EU TENHO UM SONHO».
Um discurso, que provocou mudanças nos EU. Martin Luther King, também contrariou interesses em 19[68] foi morto com um tiro no hotel em Memphis por um Branco. O assassinato causou revoltas e protestos violentos em diversos lugares nos EU.
Martin Luther King, uma das grandes personalidades do século [XX], ele organizou e liderou marchas a fim de conseguir o direito ao voto, o fim das discriminações no trabalho e outros direitos civis básicos, através de uma campanha de não-violência e de amor para com o próximo.
Ao longo desses [58] anos as coisas nos EU mudaram. Negros cresceram social e economicamente, e Bárack Obama já esteve na Presidência do país mais poderoso do mundo, mas ainda há muita desigualdade. O número de presos negros é proporcionalmente [6/10] vezes maior que brancos. Uma pesquisa de qualidade impressionante efectuada recente apontou que [46%] dos negros acredita que há ainda muito racismo nos EU. As dificuldades não são poucas, mas o sonho ou melhor, o discurso de Martin Luther King ainda está vivo e inspira novas gerações de activistas negros e não só.
Acompanhe aqui o «EU TENHO UM SONHO» de Martin Luther King, o verdadeiro líder moral.
Estou feliz por unir-me a vocês hoje, naquilo que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história do nosso país. (aplausos)
Há cem anos, um grande americano, sob cuja sombra simbólica nos encontramos hoje, assinava a proclamação da emancipação. Esse decreto fundamental veio como um raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados nas chamas de uma vergonhosa injustiça.
Veio como uma aurora de júbilo, para terminar a longa noite do seu cativeiro. Mas…, cem anos depois, o negro não é livre. Cem anos depois, a vida do negro é ainda lamentavelmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação.
Cem anos depois, o negro vive numa ilha isolada de pobreza, no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, (aplausos e gritos) o negro ainda definha nos cantos da sociedade americana, e se encontra exilado em sua própria terra.
Assim, nós viemos aqui, hoje para dramatizarmos uma condição vergonhosa. De certo modo, nós viemos à Capital do nosso país para descontar um cheque. Quando os arquitectos de nossa República escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória da qual todo cidadão americano se tornaria herdeiro.
Essa promissória era uma promessa de que, todos os homens, sim, negros bem como os brancos, teriam garantido os inaliáveis direitos; à vida, à liberdade e à procura da felicidade. É óbvio, hoje, que a América tem negligenciado essa promissória, no que diz respeito aos seus cidadãos de cor. Em vez de honrar esse compromisso sagrado, a América deu ao povo negro um cheque sem fundo; um cheque que foi devolvido com a inscrição de «saldo insuficiente».(aplausos e gritos). Mas…nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça esteja falido. (risos e gargalhadas)
Nós nos recusamos a acreditar que haja «saldo insuficiente» nos grandes cofres de oportunidade deste país. E assim, nós viemos descontar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas da liberdade e a segurança da justiça. (gritos e aplausos)
Nós, também viemos a este lugar sagrado para lembrar à América da tremenda urgência do presente de se lançar à luxúria do abrandamento, ou para se tomar a droga tranquilizante do gradualismo. (aplausos)
Agora é a hora, de tornar reais as promessas da democracia. Agora é a hora, de nos erguermos do vale escuro e desolado da segregação, para o caminho iluminado da justiça racial. Agora é a hora, para erguer o país das areias movediças da injustiça racial para a rocha sólida da fraternidade; (aplausos) para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.
Seria fatal para o país ignorar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros, não passará até termos um outono renovador de liberdade e igualdade.
19[63], não é o fim, mas um começo. Aqueles que esperam que o negro só precisava desabafar, e que a partir de agora ficará sossegado, terão um violento despertar se o país regressar à sua vida de sempre. (aplausos e gritos). Não haverá tranquilidade nem descanso na América até que o negro tenha garantido todos os seus direitos de cidadania. Os turbilhões de revolta continuarão a sacudir as fundações do nosso país até que desponte o luminoso dia da justiça.
Mas, há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se encontra no caloroso umbral que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquista do nosso legítimo lugar, não devemos ser culpados de acções injustas. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio. (aplausos)
Sempre temos que conduzir nossa luta no alto nível de dignidade e da disciplina. Não devemos permitir, que nosso protesto criativo se degenere em violência física. Repetidamente, precisamos elevar-nos às majestosas alturas do encontro da força física com a força da alma. A maravilhosa nova militância, que se entranhou na comunidade negra, não deve nos levar a desconfiar de todas as pessoas brancas, pois muitos de nossos irmãos brancos, como é claro pela sua presença hoje aqui, se deram conta de que os seus destinos estão ligados ao nosso destino. (aplausos e gritos)
Eles deram conta de que, sua liberdade está intrinsecamente ligada à nossa liberdade. Não podemos caminhar sozinhos. E à medida que caminhamos, devemos assumir o compromisso de que, sempre marcharemos em frente. Não podemos retroceder.
Há quem pergunte aos defensores dos direitos civis: “Quando é que ficarão satisfeitos?” Nós nunca pudemos estar satisfeitos enquanto o negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca podemos estar satisfeitos (aplausos), enquanto nossos corpos, exauridos pelo cansaço da viagem, não puderem ter hospedagem nos motéis das estradas e nos hotéis das cidades.(aplausos)
Nós, não podemos estar satisfeitos, enquanto a mobilidade básica do negro for de um gueto menor para um maior. Nós nunca podemos estar satisfeitos enquanto nossas crianças forem despidas de sua identidade e destituídas de sua dignidade por uma placa dizendo “somente para brancos.” (aplausos)
Nós não podemos estar satisfeitos, enquanto o negro no Mississipi, não puder votar e um negro em Nova Iorque, acreditar que ele não tenha nada pelo que votar. Não! Nós, não estamos satisfeitos e nós, não estaremos satisfeitos até que a justiça role abaixo como as águas e a rectidão como uma poderosa correnteza. (aplausos)
Eu…, não estou desatento ao facto de que, alguns de vocês chegaram aqui após grandes provas e tribulações. Alguns de vocês vieram recentemente de celas estreitas de prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhes deixou marcas pelas tempestades da perseguição e abalados pelos ventos de brutalidade policial. Vocês têm sido os veteranos do sofrimento criativo. Continuem trabalhando com a fé de que, o sofrimento não merecido é redentor.
Voltem para o Mississipi, voltem para o Alabama, voltem para Carolina do Sul, voltem para a Georgia, voltem para Luisiana, voltem para as favelas e guetos das nossas cidades do norte, sabendo que, de alguma maneira esta situação pode e será mudada.
Não nos embrenhemos pelo vale do desespero. Digo-lhes hoje, meus amigos (aplausos), embora nos defrontemos com as dificuldades do hoje e do amanhã, eu ainda tenho um sonho.
É um sonho profundamente enraizado no solo americano. Eu tenho um sonho de que um dia este país se erguerá e viverá o verdadeiro significado de sua crença: “consideramos estas verdades evidentes por si mesmas: que todos os homens são criados iguais.” (aplausos)
Eu tenho um sonho de que, um dia, nas colinas vermelhas da Georgia, os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos senhores de escravos, poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho de que um dia, até mesmo o Estado do Mississipi, um Estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor da opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho de, meus quatro filhinhos, um dia, viverão num país onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pelo conteúdo de seu carácter. Eu tenho sonho hoje! (aplausos prolongados)
Eu tenho um sonho de que, um dia, lá no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador com os lábios gotejando palavras de intervenção e anulação; um dia, bem lá no Alabama, meninos negros e meninas negras poderão dar-se as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje! (aplausos e gritos)
Eu tenho um sonho de que, um dia todo vale será exaltado, toda colina e montanha tombará, o que é áspero se aplainará e o que é torcido se endireitará e a glória do Senhor se revelará e todos os seres, juntamente, a verão. Esta é a nossa esperança. Esta é a fé com a qual regresso ao Sul. Com esta fé seremos capazes de talhar da montana do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé seremos capazes de transformar as nossas discórdias estridentes do nosso país em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé seremos capazes de trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ir para a prisão juntos, defender a liberdade juntos, sabendo que um dia seremos livres.
Esse será o dia, esse será o dia em que todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado: “Meu país, isto é sobre ti; doce terra da liberdade, sobre ti, eu canto. Terra em que meus pais morreram, terra do orgulho peregrino das encostas de todas as montanhas, que ressoe a liberdade!”
E essa América está destinada a ser uma grande nação, isso tem que se tornar realidade. Então, que a liberdade ressoe desde os extraordinários cumes de New Hampshire; que a liberdade ressoe desde as poderosas montanhas de Nova Iorque; que a liberdade ressoe desde os elevados Alleghenies da Pennsylvania; que a liberdade ressoe desde os nevados cumes das Rochosas do Colorado; que a liberdade ressoe desde as colinas curvas da Califórnia.
Mas, não somente isso. Que a liberdade ressoe desde Stone Montain da Georgia; que a liberdade ressoe desde Lookout Montain do Tennessee; que a liberdade ressoe desde toda a colina e pequeno monte do Mississipi. Desde toda encosta, que a liberdade ressoe. E quando isto acontecer, quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando deixarmos ressoar de cada vila e cada aldeia, de cada Estado e de cada cidade, seremos capazes de apressar o dia em todos os filhos de Deus: negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar nas palavras do antigo cântico dos negros:
«Livres finalmente! Livres finalmente! Louvado seja Deus, Todo-poderoso, somos livres finalmente!». (gritos e aplausos intermináveis)
Texto, arranjos e tradução: Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, aos [27] de Julho 20[21]